A urgência da luta democrática – IREE

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A urgência da luta democrática

Guilherme Boulos

Guilherme Boulos
Coordenador do MTST



O Brasil assistiu estarrecido ao assassinato bárbaro da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL. Marielle era uma das lideranças políticas mais combativas e promissoras do Rio de Janeiro, que não temia denunciar abusos policiais, das milícias e se opunha à intervenção militar no estado. Mulher, negra e vinda da favela era expressão das vozes para as quais a política brasileira costuma fechar as portas. Foi alvejada covardemente quando saía de um compromisso próximo ao centro da cidade. Os tiros também mataram Anderson Gomes, seu motorista.

O assassinato de Marielle, ainda sem solução, foi um crime político que carrega uma mensagem de intimidação. Seus assassinos não pretenderam disfarçar, não simularam assalto ou acidente – como ocorre com frequência no extermínio de jovens periféricos ou mesmo de lideranças sociais. Não, deixaram claro que foi uma execução, bárbara e crua, sem qualquer simulação. Atitude própria de quem está seguro da impunidade e quer demonstrar força através da violência.

Não por acaso o crime ganhou repercussão internacional e gerou uma onda inédita de comoção e solidariedade. Exigir justiça para Marielle, além de um compromisso com sua memória e com seus familiares, significa defender o que ainda resta de princípios democráticos em nosso país.

Passados menos de dez dias do assassinato, a violência política seguiu produzindo cenas deploráveis no Brasil. Lula levou adiante sua caravana de campanha no sul, mesmo enfrentando ataques de grupos de ruralistas e seguidores de Jair Bolsonaro. Paulo Frateschi, assessor do ex-presidente, teve a orelha mutilada por uma pedra. Foram cenas de selvageria, que culminaram com o disparo de quatro tiros contra os ônibus da caravana de Lula. Atiraram contra dois ex-presidentes da República – Dilma também estava na caravana. Qual será o próximo passo?

O agravamento do quadro político do país é visível a olho nu e agora deteriora-se em violência política direta. Tempos de crise das instituições podem ser seguidos por avanços ou por retrocessos democráticos. Mexem com dois sentimentos opostos: a esperança e o medo. Quando prevalece este último, abre-se a alameda do autoritarismo e surgem “salvadores” em nome da ordem e de preceitos intolerantes. Foi num momento de crise e desesperança, nos anos 1930, que surgiu o fascismo na Europa. As saídas autoritárias brotam da insegurança e nutrem-se do medo. Que isso nos sirva de aviso.

Aliás, um importante colunista de jornal relatou conversas de um ministro de Temer cogitando abertamente a não realização de eleições neste ano. Pode ser bravata, é verdade, mas o envenenamento do ambiente político brasileiro não permite descartar qualquer cenário. O possível absurdo da prisão de Lula pode agravar ainda mais o quadro. O momento exige de todos defensores da democracia vigilância e atitude. Sem deixar de apresentar as necessárias diferenças no debate político de rumos para o país precisamos organizar as fileiras contra a escalada de violência política. Urge uma mesa de defesa da democracia, que envolva os atores políticos do campo progressista, para barrar enquanto é tempo a onda de ódio e agressões fascistas no Brasil.



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Guilherme Boulos

É professor, diretor do Instituto Democratize e coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo.

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