Em maio, o governo Bolsonaro enfrentou turbulências e passou por seu pior momento até agora. Pesquisas mostraram a persistência da tendência de queda na aprovação do governo junto à opinião pública.
Assistimos ainda uma primeira e expressiva manifestação que levou milhares de brasileiros às ruas no dia 15 de maio. Os protestos foram contra os significativos cortes na Educação, anunciado dias antes dos protestos pelo ministro da pasta, Abraham Weintraub.
Queda na aprovação
Duas pesquisas de opinião da XP Investimentos mostram que cresceu a desaprovação do governo Bolsonaro. A primeira, um levantamento feito em todo território nacional dos dias 6 a 8 de maio, aponta que 31% dos entrevistados avaliavam o governo como “ruim ou péssimo”. Em janeiro, o percentual era de 20%.
Já a avaliação positiva, “ótimo ou bom”, que era de 40% no primeiro mês da gestão, passou para 35%.
A segunda pesquisa, também da XP Investimentos, é muito sintomática da turbulência de maio para o Executivo nacional porque foi realizada somente com agentes do mercado financeiro, entre 22 e 24 de maio.
Embora a pesquisa não tenha uma amostra nacional, ela é relevante por mostrar uma dura queda de confiança do mercado na Presidência. Agentes do mercado financeiro encamparam Bolsonaro no segundo turno das eleições e contribuíram de certa forma para a sua vitória.
Passados cinco meses de gestão, a relação esfriou. Em janeiro, apenas 1% dos entrevistados desse target avaliavam o governo como “ruim ou péssimo”. Em maio o salto foi enorme e atingiu 43%. Já a avaliação positiva, que atingia confortáveis 86%, chegou a 14%.
Turbulências com o Congresso
Se vimos turbulência na opinião pública, a relação com o Congresso também não ofereceu refresco para o Planalto. O calendário da tramitação da PEC da Reforma da Previdência segue razoavelmente em dia, mas a relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), permanece no constante jogo do morde e assopra.
Ao palestrar em Nova York durante um encontro de investidores e empresários em 14 de maio, Maia afirmou que ainda não existe, por parte do Executivo, uma agenda clara para sobrepor às políticas da gestão do PT, e que somente a aprovação da Reforma da Previdência não garantirá os problemas de desemprego e crescimento econômico.
Seria esperado que o Executivo reagisse às turbulências com articulação e parcimônia. Porém, a reação foi oposta. No que se refere aos manifestantes dos atos do dia 15 de maio, majoritariamente estudantes, Bolsonaro declarou que se tratava apenas de “idiotas úteis” a serviço da esquerda.
Já no que diz respeito aos atritos, mesmo que velados, com o Legislativo, o presidente não hesitou em apoiar publicamente por meio de diversos tuítes elogiosos as manifestações favoráveis ao governo que aconteceram no domingo, dia 26 de maio.
Mais lenha na fogueira
Os atos pró-governo tiveram como mote a defesa dos principais projetos do Executivo: o pacote anticrime do ministro da Justiça Sergio Moro e a PEC da Reforma da Previdência, encabeçada pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
Entretanto, o ódio dos apoiadores bolsonaristas respingou, e muito, no presidente da Câmara dos Deputados, que teve um boneco inflável ridicularizando sua imagem e foi alvo de palavras e cartazes ofensivos.
O endosso do presidente às manifestações poderá complicar a já fragilizada articulação com o principal responsável pela agenda da Reforma da Previdência.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
Leia também

A crise dos Poderes e a campanha permanente do Presidente
Continue lendo...
A empreitada de Bolsonaro contra os povos indígenas
Continue lendo...
O Presidente e os “Paraíba”
Continue lendo...