Confira aqui a análise sobre setores produzida pelo Centro de Estudos de Economia do IREE, na edição semanal do Boletim Econômico de novembro de 2021!
Todos os setores da economia registraram recuo da atividade em setembro
A economia brasileira caminha para o final do ano sem motivos de comemoração, tampouco razões para otimismo. As oscilações nos resultados mensais dos setores da economia demonstram a tépida potência da recuperação da atividade. A inflação e o desemprego estão no centro dos problemas comuns aos setores para lograrem retomada mais robusta. Os fatores macroeconômicos, todavia, não representam apenas um limitante para a recuperação da atividade, mas também refletem nos balanços empresariais e, por consequência, nas decisões de negócio.
Enquanto o elevado desemprego restringe a renda das famílias, a inflação corrói seu poder de compra. Em cenário de elevada instabilidade e perda de renda real, a opção das famílias, que já passou a ser consumir bens inferiores, também se traduz em redução do consumo em geral. Como aponta a rede varejista Carrefour, “a elasticidade dos consumidores ao preço diminuiu, especialmente nos produtos básicos”. Ou seja, variações no preço têm refletido com maior intensidade na demanda. Essa situação tem se refletido nos resultados orçamentários das empresas, que em todos os setores – apesar da heterogeneidade – apontam queda na lucratividade no terceiro trimestre de 2021.
Na indústria, a inflação das matérias primas e insumos trouxe a economia a uma espiral de elevação do nível de preços conhecida como preço-preço. Isto é, uma alta dos custos de matérias primas é repassada para os bens finais, elevando os preços desses bens. Quanto maior o repasse, maior é dito o “poder de marcação” das firmas – maior o poder que possuem sobre o mercado para determinar o preço dos seus produtos. Isso parece estar presente em boa parte das firmas brasileiras. Nas palavras do diretor-presidente da locadora Unidas, em depoimento ao Valor Econômico: “Não abriremos mão de rentabilidade por nenhum outro critério. Empresas que fizeram alternativas diferentes não estão aqui mais para contar história”.
O outro lado da história, da elevação dos preços, é que os trabalhadores poderiam demandar salários cada vez mais altos, para que não tivessem perdas reais. Ou seja, pressionar também para que os salários acompanhassem a alta dos preços, para que pudessem manter consumindo uma cesta de bens equivalentes. O que poderia provocar novas rodadas de alta nos preços, mas manteria o consumo. Todavia, com o elevado desemprego, elevada informalidade, terceirização e postos precários – cujo grau de sindicalização é substancialmente reduzido – a pressão por salários não encontra respaldo; pelo contrário, temos vivido um momento de achatamento da massa de rendimentos do trabalho na economia. E em que a elevada inflação tem mais impacto ainda sobre as famílias de baixa renda. Esse resultado pode ser observado pela elevada inflação de energia, habitação, alimentação e transporte.
Alguns grupos, por outro lado, preferiram reduzir a margem de lucros, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar, para tentar evitar uma perda maior da demanda. Independentemente do poder de marcação das firmas, o mormaço do mercado de trabalho impede que as vendas se concretizem. Resultado disso foi a piora do balanço das empresas no terceiro trimestre de 2021, com uma elevação dos custos sem lograr uma manutenção das vendas – seja em casos de preços que acompanharam com maior proximidade ou não.
Todos os setores da economia registraram recuo da atividade em setembro. Nem mesmo o setor de serviços, que foi o último a manifestar recuperação e vinha de uma série de cinco meses de alta consecutivas, se salvou, e apresentou retração de 0,6% na comparação livre de efeitos sazonais com o mês de agosto. Na mesma comparação, a indústria registrou a quarta queda seguida, de 0,4% no mês. Já o comércio varejista recuou pela segunda vez consecutiva e a quinta queda no ano, acusando -1,3%. Nesse setor, com exceção das vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos e de livros, jornais, revistas e papelarias, que ficaram estáveis na margem, todos os demais ramos registraram queda.
A queda na lucratividade das empresas preocupa não só ao setor empresarial, mas a economia como um todo. Decisões de investimento dependem de avaliações patrimoniais das firmas, que podem promover expansão da capacidade, desenvolver tecnologias e, sobretudo, gerar empregos, que possibilitem alavancar o crescimento da economia e recuperar a demanda. Ou seja, o elevado desemprego, que impede que os consumidores tenham renda suficiente para arcar com os preços dos produtos na economia, também tem provocado uma queda da margem de lucro das empresas que, por sua vez, impacta na decisão de investimentos futuros. Logo, nas perspectivas futuras para a economia, que hoje não são as melhores.
O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.
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