Confira aqui a análise sobre Crescimento Econômico, Setor externo e Câmbio produzida pelo Centro de Estudos de Economia do IREE, na edição semanal do Boletim de março de 2022!
Foi divulgado o agregado do PIB do ano de 2021, feito pelo IBGE, e o resultado aponta um sinal de alerta: a economia brasileira, somente agora, retomou as perdas da pandemia, mas permanece em um patamar de 2,8% abaixo da sua marca histórica recente, representada pelo ano de 2014. O crescimento de 4,6%, no cômputo geral, foi determinado – basicamente – por carregamento estatístico deixado como herança do ano 2020, em função da dirimida base de comparação pregressa.
Gráfico 1: Comportamento da variação anual do PIB
Fonte: IBGE. Elaboração: CEE/IREE
Do ponto de vista da comparação internacional, os 4,6% de crescimento situam a economia brasileira no 21º lugar em um ranking de 34 países compilado pela Austin Rating. O resultado pífio em termos de crescimento não é um fenômeno conjuntural, nem pode ser creditado, unicamente, à pandemia. A economia brasileira já vem apresentando baixa performance, externada pelo fato de que vivemos a recuperação pós crise mais lenta da nossa história. Na década que se finda, de 2012 a 2021, o Brasil apresentou crescimento médio anual de apenas 0,4%, quanto os países pertencentes ao Brics tiveram média de crescimento de 3,4%; o mundo 3% e os países desenvolvidos – que logram taxas mais baixas em função do acúmulo precedente de investimento – cresceram 1,2%, três vezes mais que o Brasil. Até mesmo países com situação de restrição externa e inflação deveras elevada lograram crescimento maior que o brasileiro, como é o caso da Argentina, que cresceu 10,3%.
O crescimento de 4,6% é, portanto, bem abaixo da média mundial de crescimento, que foi de 5,5%, e isso contanto que a economia brasileira beneficiou-se de um cenário externo favorável, representado por um robusto ciclo de commodities com a vigência de um câmbio depreciado. Desde o ano de 2017, o Brasil tem perdido posições no ranking global das maiores economias do mundo. Somente de 2019 para 2021 foram quatro posições perdidas, em que o Brasil passou da 9ª para a 13ª maior economia.
Obviamente a desvalorização da moeda doméstica concorre para aferir esse cenário. Contudo, o baixo desempenho interno é o fator determinante. O valor nominal do PIB, medido em bilhões de dólares segue ainda inferior ao período pré-pandemia. Em 2019 o montante estimado estava em US$ 1.877 trilhões e em 2021 se encontra em US$ 1.608 trilhões.
Elemento importante, ainda, da análise é que com o resultado positivo de 0,5% do quarto trimestre de 2021 em relação ao trimestre imediatamente anterior nos tira da condição de economia em “recessão técnica”, caracterizada por dois trimestres seguidos de crescimento negativo (1º tri: -0,3%; 2º tri: -0,1%). Na comparação interanual com ajuste sazonal o crescimento do último trimestre de 2021 apresentou um crescimento de 1,6%.
Gráfico 2: Variação mensal do PIB
Fonte: IBGE. Elaboração: CEE/IREE
Do ponto de vista da oferta, o crescimento da economia brasileira foi puxado, prioritariamente, pela recuperação do setor de serviços, que ocorre na esteira do avanço da mobilidade social motivado pela abertura das atividades econômicas no contexto do avanço da vacinação. É preciso lembrar, no entanto, que o setor de serviços é marcado por uma intensa heterogeneidade. Enquanto serviços de comunicação e informática avançam a passos céleres, os serviços prestados às famílias – que não podem prescindir da total interação social – ainda amargam retomada lenta, com volume de atividades em patamar pré-pandemia. O setor agropecuário teve crescimento expressivo no último trimestre, ainda que ambas tenham apresentado resultado negativo do cômputo do ano. A indústria, embora com resultados positivos na margem, apresenta nível de produção da indústria de transformação 14% inferior ao ano de 2012.
Já do lado da ótica da demanda, o consumo das famílias, principal componente do PIB, apresentou um avanço de 0,7% no último trimestre e de 3,6% no agregado do ano, enquanto os gastos do governo tiveram alta de 0,8% na comparação trimestral e crescimento anual de 2%. As exportações líquidas, por sua vez, representaram um resultado negativo na comparação interanual do quarto trimestre, refletindo um crescimento da absorção doméstica (2%) acima do registrado pelo PIB. No acumulado, em quatro trimestres, o vazamento externo foi mais significativo, com as exportações crescendo 5,8% enquanto as importações aumentaram 12,4%. Esse movimento já estava sendo monitorado em nossos boletins passados e reflete a “normalização” da economia brasileira, com déficits estruturais nas transações correntes, fenômeno que havia sido suavizado, tão somente, por elementos estruturais pandêmicos.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) que é uma proxy da taxa de investimento, avançou 0,4% no quarto trimestre e encerrou o ano com forte alta, de 17,2%. O quarto trimestre, portanto, levou a taxa de investimento a passar de um total de 18,4% para 19% do PIB, ainda assim distante do “pico” representado pelo ano de 2013, quando a taxa de investimento chegou a superar os 21% do Produto. No entanto, em termos metodológicos, a comparação não pode passar incólume a algumas considerações. Segundo um conjunto de pesquisadores do Ibre/FGV os números que conferem sustentação a elevação substancial da taxa de investimento na comparação anual entre 2020 e 2021, foram impulsionado por fatores pontuais e questões meramente contábeis.
No estudo está indicado que parte substancial da melhora adveio da alta maior dos preços nos bens de capital em relação aos preços da economia como um todo. Por exemplo, no 3º trimestre de 2021 a inflação geral estava em 10% enquanto a dos investimentos em FBCF já ultrapassavam os 15,3%. Outro fenômeno ainda de ordem conjuntural foi a internalização abrupta das plataformas importadas de petróleo, que passaram a contar como investimento apenas por uma mudança contábil no sistema do Repetro, o que permitiu que as empresas transferissem o título de propriedade desses equipamentos de subsidiárias no exterior para sua sede no Brasil.
O que, de fato, foi investimento interno também ocorreu por indução da demanda vinda do setor externo e da melhoria dos termos de troca, sinalizada pelo forte investimento em máquinas agrícolas, tratos, caminhões e ônibus, influenciados, portanto, pelos preços internacionais elevados das commodities. Portanto, é mais factível a sinalização de que o Brasil está, no máximo, recuperando capacidade perdida do que vivendo um movimento sustentável de retomada do investimento, condição fundamental para o crescimento sustentado e redução da vulnerabilidade aos ciclos externos.
O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.
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