No dia 31 de agosto de 2020 os cariocas foram surpreendidos por mais um conjunto de ações criminosas envolvendo a gestão de Marcelo Crivella (Republicanos).
Trata-se de um esquema de fiscalização paralela de moldes milicianos envolvendo funcionários da prefeitura do Rio de Janeiro. Gerenciado pelo Whatsapp, o grupo atua de modo violento e agressivo na porta de clínicas e hospitais municipais agredindo e cerceando jornalista e cidadãos que tentam falar sobre os problemas da saúde pública do município.
As imagens divulgadas pelo RJTV e pelo Jornal Nacional mostram o modo de operação dos auto denominados “Guardiões do Crivella”, que inclui selfies e escalas de trabalho, além de comemorações efusivas quando conseguem “derrubar uma matéria”.
Ainda que supostamente o prefeito Crivella não tenha conhecimento do esquema, uma série de crimes precisam ser investigados, já que se trata de funcionários públicos cometendo, no mínimo, desvio de função.
Estão em curso investigações por parte da Polícia Civil sobre três crimes na ação do grupo: as pessoas podem responder por associação criminosa, atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública e advocacia administrativa, quando o servidor público usa a administração pública com fins privados.
Tendo em vista a proximidade do pleito municipal de novembro, e sendo Crivella pré-candidato a reeleição, seria vital uma investigação que procurasse esclarecer conexões do grupo com a agenda eleitoral do prefeito/pré-candidato e supostos crimes eleitorais.
Pelas denúncias divulgadas, o esquema é coordenado pelo ex-coordenador da campanha eleitoral de Crivella em 2018, Marcos Luciano, atualmente assessor especial do gabinete do prefeito. Dada a recente aproximação entre Bolsonaro e o prefeito do Rio, não é coincidência que ambos adotem o mesmo estilo de tratamento à imprensa, de modo particular quando o alvo é a Rede Globo.
Também não é por acaso que os “guardiães” bradassem algumas expressões bastante utilizadas pelos apoiadores do presidente, como “globolixo” e “bolsomito”.
Pode-se dizer que o confronto direto à mídia constitui importante forma de atuação de líderes da extrema direita no Brasil, geralmente carimbando as críticas veiculadas em órgãos tradicionais da imprensa de fake news.
A justificativa da desinformação está inclusive nas entrelinhas da nota oficial sobre o caso. A prefeitura informou que: “reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública, como, por exemplo, quando uma parte da imprensa veiculou que um hospital [no caso, o Albert Schweitzer] estava fechado, mas a unidade estava aberta para atendimento a quem precisava. A Prefeitura destaca que uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde”.
Independentemente das críticas à cobertura política partidarizada e parcial dos grandes veículos de imprensa, em particular envolvendo a Rede Globo, nada justifica que comportamentos e esquemas criminosos sejam adotados por um representante democraticamente eleito.
O mais irônico é que Crivella foi eleito em 2016 utilizando o slogan “eu vou cuidar das pessoas”. Infelizmente o abuso e o desrespeito ao cidadão carioca serão as maiores marcas da sua gestão.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
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