Qual feminismo queremos? Um diálogo com bell hooks – IREE

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Qual feminismo queremos? Um diálogo com bell hooks

Letícia Chagas

Letícia Chagas
Liderança do Movimento Estudantil



Essa semana, participei do primeiro encontro de um grupo de leituras feministas, o “De mina pra mina: lendo juntas”. A iniciativa é organizada pelo Coletivo Juntos e tem por objetivo criar um espaço (por enquanto, virtual) em que mulheres possam se reunir para ler e debater livros de temática feminista. Foi um encontro potente e acolhedor, o que é especialmente importante em um cenário pandêmico, marcado pela distância e frieza de um momento tão difícil em nosso país.

Na semana de estreia, lemos o livro “O feminismo é para todo mundo”, de bell hooks. Neste livro, hooks afirma a necessidade de disputar a narrativa feminista hoje predominante em nossa sociedade. De acordo com ela, a visão feminista presente nos grandes veículos de comunicação é de um movimento anti-homem, centrado nas pautas e narrativas de mulheres brancas das classes dominantes, o que afasta do debate grande parte da população.

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Ao contrário disso, hooks propõe um feminismo revolucionário, engajado não apenas na luta contra o sexismo como também contra todas as formas de dominação, à exemplo do racismo e do imperialismo. Para isso, é necessário atuar para a conscientização de mulheres e homens, criando materiais didáticos acessíveis, que demonstrem que o “feminismo é para todo mundo”, como afirma o título do livro.

Ao fazer isso, hooks demonstra sua genialidade e cuidado: muito embora ela seja uma acadêmica, compreende os limites do discurso promovido neste espaço. Hooks é também uma mulher negra da classe trabalhadora, e por isso busca fazer do feminismo uma teoria mais acessível, apresentando seu conhecimento de forma descomplicada.

No mês de março marcado pela impossibilidade de manifestações de rua, discutir qual é o feminismo que queremos ganha ainda mais relevância. Considerando que nossa visão teórica interfere diretamente sobre nossas ações, devemos organizar atuações tendo como centralidade a luta contra o projeto de governo que representa Jair Bolsonaro. E, para isso, é preciso disputar a narrativa bolsonarista, combatendo um projeto que aposta na desinformação e no discurso de ódio.

Devemos, portanto, promover um movimento feminista de massas e intersseccional, que acolha as demandas de mulheres negras, amarelas, indígenas, travestis, evangélicas e tantas outras. Essas demandas envolvem o combate ao projeto bolsonarista: a luta por um auxílio emergencial efetivo, por vacinação e contra a facilitação do acesso à armas de fogo – que podem promover um aumento nos casos de feminicídio.

Espaços de leitura coletiva, como o que participei, são um importante instrumento para esse processo. Devemos criar cada vez mais locais abertos ao diálogo, construídos coletivamente e sobre uma práxis – ação e prática – transformadora.

Nossos trabalhos de leitura devem também se refletir em uma outra prática feminista, que se alie às demandas de mulheres trabalhadoras e que esteja presente nas diversas lutas de nosso tempo, como as lutas por moradias populares, por educação de qualidade e por vacina para todas e todos.

Embora este ano não possamos sair às ruas para o dia 8 de março, devemos nos preparar para, muito em breve, sermos linha de frente para a derrubada deste governo.



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Letícia Chagas

Graduanda em Direito na USP, foi a primeira presidente negra do Centro Acadêmico XI de Agosto (2020-2021) e pesquisadora do Programa de Educação Tutorial (PET) Sociologia Jurídica. Atualmente, é coordenadora de pesquisa do Grupo de Pesquisa e Estudos de Inclusão na Academia (GPEIA).

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