Jerome Powell, Presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, sinalizou recentemente que o país seguirá elevando a taxa básica de juros de forma “inevitável e rápida”, mesmo que isso prejudique a atividade econômica e o mercado de trabalho nos EUA. Em 12 meses, a inflação aos consumidores já acumula 8,5% e, é bom lembrar, que diferentemente do Brasil, a recuperação econômica foi célere e o mercado encontra-se em pleno emprego.
Em 2020, somente dois anos antes, a preocupação da autoridade monetária era, justamente, o contrário. A inflação passou por uma trajetória extensa extremamente baixa. Nos primeiros meses da pandemia, o Fed sinalizou que a autoridade monetária “perseguiria” a inflação e seria condescendente com um percentual acima da meta. O cenário mudou, a desorganização das cadeias globais, especialmente na oferta de semi-condutores, energia e na logística dos transportes, aliada a uma possível pressão de demanda explicam o cenário.
No último comunicado informal de Powell, em discurso de abertura do Simpósio Econômico de Jackson Hole, o presidente desse que o foco do Fed é reduzir a inflação e trazê-la de volta a meta de 2%, concedendo ênfase na estabilidade de preços.
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O Brasil, pela sua posição periférica tanto na economia mundial quanto na hierarquia de moedas, é refém das decisões tomadas, sobretudo, nos EUA e que impactam os fluxos internacionais de capitais. Diferentemente dos EUA, nossa opção por manter uma trajetória de juros tão elevados esbarra no fato de que a economia ainda “caminha de lado”. Se a comparação for o ano de 2014, ainda estamos distantes do nível de atividade que caracterizou aquele ano, mesmo passados sete anos. No mercado de trabalho, mesmo com a tendência a redução do desemprego, o número absoluto de desocupados, desalentados e subocupados chega a quase 30 milhões de pessoas.
Portanto, o desafio brasileiro é ainda maior: conjugar a necessidade de manter um suficiente diferencial de juros internacionais – pela nossa posição subordinada na hierarquia de moeda – com o equilíbrio tênue de garantir que esse choque monetário não seja mais um obstáculo à renovada satisfatória do crescimento com geração de emprego.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Juliane Furno
É Economista-Chefe do IREE. Cientista social, mestre e doutora em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp. Especialista em mercado de trabalho, desenvolvimento econômico e política industrial no setor de Petróleo e Gás.
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