O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2022 apresentou um tímido crescimento de 1% em relação ao quatro trimestre de ano de 2021. Do ponto de vista da oferta, o setor que mais se destacou foi o setor de serviços, que também apresentou alta de 1%, puxado – principalmente – pela normalização e abertura dos setores econômicos que demandam plena interação social. A Indústria apresentou alta de apenas 0,1%. No entanto, esse resultado é positivo, já que interrompe um ciclo de resultados negativos do setor. O destaque ficou para a agropecuária, que apresentou recuou de -0,9%, sobretudo em função da seca na região sul do país.
Pelo lado da demanda, o determinante foi o consumo privado das famílias, que cresceu 0,7%, também motivado pela possibilidade de consumo dos serviços, agora já plenamente normalizados. O consumo do governo manteve-se estagnado em 0,1% e, do lado negativo, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que é um indicador do investimento na economia brasileira, amargou queda de -3,5%. Com isso, a taxa de investimento com relação ao PIB chega a níveis dramáticos, perfazendo apenas 18,7% do Produto, bem abaixo do que foi registrado no mesmo período do ano passado, que foi de 19,7%.
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Juros altos não reduzem a inflação, mas deterioram as contas públicas
O investimento, ou seja, tudo aquilo que é feito para adicionar capacidade produtiva e produtividade à economia brasileira está sendo comprometido em um cenário em que o Estado perde capacidade de liderar a retomada do investimento, sobretudo em função do teto de gastos que comprime o total dispendido na rubrica de despesas discricionária, e pelo ambiente macroeconômico mais geral. Juros elevados, renda real em queda corrida por uma inflação acumulada com mais de 2 dígitos e na ausência da liderança dos investimentos públicos, são componentes que ajudam a explicar a retração nesse setor.
Ainda do lado da demanda, o motor do crescimento de 1% do PIB foram as exportações, que cresceram 5% em relação aos três meses anteriores e, concomitantemente a isso, as importações apresentaram recuo de 4,6% no mesmo período. Em que pese a agropecuária e a indústria extrativa mineral terem apresentado recuo, o volume e os preços das exportações compensaram a queda no setor. Por outro lado, a queda nas exportações pode representar um comportamento típico de um ajuste recessivo. Dessa forma, as famílias com menor renda real; o dólar valorizado e as incertezas quanto a retomada do investimento privado explicam porque o total importado na economia apresentou tamanho recuo.
As expectativas para o próximo trimestre ainda são mais nebulosas. A primeiro lugar, o primeiro trimestre foi fechado antes do aperto mais substancial na taxa básica de juros. Portanto, para os próximos meses a economia brasileira deverá sentir os efeitos de uma demanda interna ainda mais contraída. Ainda no front interno, a manutenção da política de preços da Petrobras e os recentes anúncios de possibilidade de mais choques nas tarifas de energia também podem comprometer as indústrias locais pelo encarecimento de custos e insumos, além da corrosão do poder de compra dos trabalhadores.
No campo externo, dois fatores deverão comparecer com mais preocupação: o primeiro deles é a expectativa de redução do crescimento econômico chinês para algo em torno de 3%, distante da meta de 5,5,%. A queda do crescimento do nosso principal parceiro comercial deve afetar o nível de demanda por nossas exportações. Em segundo lugar está em curso um processo de normalização da política em diversos países, especialmente nos EUA, o que deve impactar no ciclo internacional de liquidez direcionado dos países periféricos.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Juliane Furno
É Economista-Chefe do IREE. Cientista social, mestre e doutora em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp. Especialista em mercado de trabalho, desenvolvimento econômico e política industrial no setor de Petróleo e Gás.
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