A taxa de desemprego tem cedido no país de forma surpreendente. Pela primeira vez, desde 2015, a taxa de desemprego está abaixo dos dois dígitos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, no trimestre de abril, maio e junho de 2022, o número de pessoas ocupadas cresceu em 2,5 milhões na comparação com o mesmo período em 2021.

Alguns elementos são importantes para compreender esse cenário. O primeiro deles é que o desemprego tem caído concomitantemente à redução da taxa de participação, que é o total de trabalhadores que estão ou trabalhando ou procurando emprego sobre o total de trabalhadores em idade ativa. Entre 2017 e 2019, essa taxa estava em 64%. Atualmente está em 62%. Ou seja, parte da redução do desemprego é explicada pela queda no total de pessoas procurando trabalho.

Além disso, a renda média está caindo concomitantemente à redução do desemprego, o que sinaliza que estamos ingressando em um “novo normal” de salários mais baixos, o que pode comprometer o crescimento via tração de demanda.

Por fim, a economia brasileira experimentou no ano de 2021 um crescimento do PIB deslocado do crescimento do emprego. Houve variação positiva no Produto Interno Bruto sem geração de postos de trabalho. O que está ocorrendo, neste momento, é o ajuste temporal desse processo, um reflexo de uma recuperação deveras heterogênea.

Uma vez que o isolamento social foi bastante descoordenado e desincentivado na esfera federal, a retomada completa das atividades produtivas foi dispersa e errática, e somente agora, com a plena imunização, o setor mais empregador – o comércio e os serviços – estão retomando o nível de atividade pré-pandemia e liderando a retomada dos empregos.

CEE

O Centro de Estudos de Economia (CEE) é um núcleo do IREE chefiado pela economista Juliane Furno que se dedica a diagnosticar os principais obstáculos e problemas da economia brasileira por meio de criterioso estudo e um permanente exercício de diálogo entre os vários agentes da sociedade. Saiba mais em: iree.org.br/economia

Juliane Furno

É Economista-Chefe do IREE. Cientista social, mestre e doutora em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp. Especialista em mercado de trabalho, desenvolvimento econômico e política industrial no setor de Petróleo e Gás.