No dia 04 de maio, a CPI da Covid – que irá investigar as ações do Executivo na condução da pandemia – começou a ouvir as primeiras testemunhas. Poucos dias antes, no sábado, dia 1º de maio, em que se comemora o Dia do Trabalho, houve agitação no front bolsonarista.
Manifestações de apoio popular ao presidente, ainda que de pequena dimensão, montaram o palco para que Bolsonaro ocupasse seus canais das redes sociais com mensagens de agradecimentos, tentando demonstrar que tudo está sob controle. Os manifestantes alinhados ao discurso do Executivo procuraram destilar mensagens de desagravo aos governadores e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Começava ali a preparação para a batalha da CPI.
Contudo, na terça-feira, após mais de sete horas de depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ficou bastante claro que a base de apoio do presidente fez uma fraca preparação parlamentar.
Foi divulgada via imprensa a tentativa de aproximação entre a presidência e uma importante figura da política brasileira, o ex-presidente José Sarney (MDB), em uma óbvia busca de influência junto ao relator, o senador Renan Calheiros (MDB). Aproximação que naufragou, haja vista as últimas declarações do senador.
O instrumento parlamentar da CPI não terá poder de julgar e condenar – caberá aos órgãos da Justiça –, tampouco implicará em uma obrigatória abertura de impeachment de Jair Bolsonaro. Entretanto, a “amostra” obtida nos primeiros dias de trabalho foi de que o desgaste na já combalida imagem da gestão Bolsonaro será grande.
Na noite da mesma terça-feira, o Brasil foi tomado por uma onda de comoção pela morte do ator e comediante Paulo Gustavo devido à Covid-19, uma figura carismática e de forte penetração em todas as classes sociais. Inusitadamente o presidente Bolsonaro fez um post homenageando o mesmo. Atitude que causou uma forte onda de críticas e ataques, atribuindo inclusive a responsabilidade pela morte do ator ao presidente, omisso na celeridade dos contratos de compra dos imunizantes para a vacinação. Assim, rapidamente se apagou aquele cenário favorável de apoio popular construído no fim de semana.
O depoimento do também ex-ministro da Saúde Nelson Teich foi morno comparado ao de Mandetta. Porém, ficou evidente pela fala de ambos que o presidente estava ciente do alto risco de um afrouxamento das regras de isolamento social e fez a opção em defender o tratamento precoce, contrariando a orientação de seus ministros e da OMS.
O desespero do presidente fica explícito quando ele reage contra-atacando. Bastou a CPI da Covid dar os seus primeiros passos para aparecer a influência do seu filho 02, Carlos Bolsonaro, através de duros e inadequados ataques à China e de uma potencial edição de um decreto coibindo as medidas estaduais e municipais de isolamento. O presidente sabe que está nas cordas.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
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