Havia uma piada antiga, que dizia:
-O que significa 100 acordeões no fundo do mar?
-Não sei…
-Um bom começo!
Para os mais novos, preciso explicar a piada: nos anos 60 havia uma certa proliferação de gente tocando – mal – acordeões. Lembro da piada a propósito dos 8 anos de geladeira impostos ao indigitado. Não resolvem, mas é um bom começo.
Um terrorista armou uma bomba num caminhão de combustível. Como além de criminoso é incompetente, não funcionou. Foi condenado a 9 anos de prisão. Isso por ser terrorista, criminoso, incompetente e azarado – MUITO azarado. Tivesse sido julgado por um juiz como o nobilíssimo ministro do TRE Raul Araújo, teria sido absolvido. Sua excelência considerou que Bolsonaro sim, errou, cometeu ilícitos, mas não deu certo. Logo, não deve ser punido.
Por essas e outras acabo achando que certas decisões judiciais deveriam ser tomadas por computador. A dosimetria seria dada baseada em tabelas. Imaginemos o terrorista:
-Armou uma bomba = 10 anos de prisão pela bomba em si.
-A bomba estava num caminhão de combustível = mais 10 anos, pelo aumento da periculosidade.
-Estava perto do aeroporto = mais 10 anos pela possibilidade de atingir mais pessoas.
-Errou o detonador = mais 10 anos pela burrice.
Defeitos pessoais, como essa burrice, podem salvar vidas. Covardia, por exemplo.
Imagine-se um país onde o presidente é um covarde. Teoricamente, este presidente cometeu diversos ilícitos, e encorajou os seus dele aliados a fazerem o mesmo. Ainda no campo da fantasia, ele e seus asseclas chegam à conclusão de que, se perderem a eleição, serão presos. Suponha-se que percam e pleito. O que lhes resta – em tese? Um golpe. Então, nesse país inexistente, todos planejam formas de não aceitar o presidente legitimamente eleito. Fosse verdade, só faltaria o “Tá Ok” deste presidente de conto de fadas.
Mas este ser de romance é um covarde. Um poltrão. Um pusilânime. E não dá a ordem do golpe. Pronto. Todo um país salvo pela falta de coragem de um corrupto. Deo Gratias. Mas, nesta historinha, é importante que suas garras sejam cortadas, seus dentes limados, pois, quem sabe? Melhor não contar com falhas de caráter, elas costumam ser… Falhas.
Voltando ao Brasil, o bom ministro Raul informou a todos que não aceitaria a inclusão da “Minuta do Golpe” no processo. No que fez muito bem, pois este documento nunca fez parte do processo. É sempre bom deixar claro o que não está em discussão.
-Meu bem, não quero ir para o Turcomenistão.
-Mas nós não vamos para lá.
-Sim, eu não quero ir.
-Mas nunca pensamos em ir. Nem temos dinheiro para ir mais longe que sei lá, Cambuquira.
-Cambuquira, sim, mas Turcomenistão, não!
Deixando o judiciário para lá – e parenteseando, vivemos tempos estranhos: não sabemos escalar a seleção brasileira de cór, mas sabemos os ministros do Supremo. Deixando, pois, temos um sistema político curioso. O presidente depende do dono da Câmara. O Banco Central é totalmente independente: independe do bom senso, da inteligência, do povo, de tudo. O Judiciário salva a República, a mesma república que quase destruiu em decisões esdrúxulas; e notem que, mesmo querendo deixar o Judiciário para lá (preciso achar um sinônimo para essa expressão, é o terceiro “Lá” que uso em pouco tempo), volto a ele. Sonho com um país em que a gente não discuta leis no botequim da esquina. Vamos tentar seguir sem a galera de toga:
Lula faz um belo governo. Nos devolve a esperança, a comida sobre a mesa – cozida com gás mais barato e distribuída com combustível mais barato – nos coloca no mapa da relevância mundial, devolve a dignidade ao povo. Mas, repete texto da época de nossa ditadura e diz que a democracia é relativa, se referindo à Venezuela. Isso é uma enorme bobagem, mas caramba, enquanto ele não quiser relativizar a NOSSA democracia, deixem o velho trabalhar. Quem tem sua história – perdão, História – tem o direito a uma ou duas bobagens por semana.
Enfim, para concluir, estamos no meio de duas maravilhosas CPMIs. CPMIs são divertidíssimas, não servem para nada, a não ser desopilar nossos fígados e servir de palanque para nossos políticos fazerem cortes para usar em suas campanhas futuras. Não vão condenar ninguém, os depoentes mentem descaradamente, os membros mentem descaradamente e fica tudo por isso mesmo. Mas, como disse, tem coisas divertidas; na CPI de Brasília, o relator pergunta ao terrorista (parceiro do outro) o que cargas d’água ele queria com aquilo, por que diabos ele lutava. A resposta foi objetiva:
-Queremos os códigos-fonte!
Bem, soa esquisito, estes códigos foram divulgados a quem de direito meses antes das eleições. O relator – ou presidente da comissão, não sei – recebeu uma luz e perguntou:
-O senhor sabe o que é um código-fonte?
-Não.
Pela dosimetria que propus acima, ele ganha os mesmos 10 anos da burrice de não ter funcionado e mais 100 pelo agravante. Que nem sei definir, de tão estúpido.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Ricardo Dias
Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.
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