A nomeação de Eduardo Bolsonaro ao mais importante posto da diplomacia brasileira é mais um ato de diversionismo.
Essa é a tática deste governo. É o todo de sua política aparente, a que se vê e a que de nós toma toda a atenção.
Funciona. Só se fala no histrionismo do Presidente.
Das suas peripécias, dos seus rompantes, das suas frases que alvejam as minorias e a sua agenda progressista-liberal.
E, agora, da sua vontade de nomear seu filho Eduardo, bom-de-voto, mas absolutamente inepto para a vida diplomática, ao cargo de embaixador brasileiro nos EUA.
É nepotismo, é ridículo, é levar o elefante pra passear na loja de porcelanas.
Mas, na verdade, enquanto a gente olha o passarinho, muita coisa importante, muitas transformações estruturais acontecem, transformações que vão mudar por muito tempo a vida das pessoas neste país.
O combate puramente repressivo à corrupção, que não distinguiu as empresas envolvidas de seus dirigentes e administradores, fez profundo estrago, e por muito irreversível, no capitalismo nacional.
Em meio a tudo isso, perdemos a Embraer e o pré-sal, cujos direitos de exploração eram, até 2015, um ativo intangível não quantificado no balanço da Petrobras. O pré-sal foi fatiado e é vendido para grandes petroleiras estrangeiras, algumas delas estatais.
Estamos às vésperas de uma privatização em massa de empresas estatais que não deverá distinguir as úteis, as estratégicas, daquelas das quais devemos nos desfazer, porque acreditamos no discurso de que se é estatal, é ineficiente e corrupta.
Observamos uma drástica redução de direitos sociais, primeiro na esfera trabalhista, para diminuir custos empresariais em desfavor do trabalhador, agora na Previdência, para garantir a higidez fiscal, mais uma vez em desfavor do trabalhador.
Uma higidez fiscal que não vê problemas na continuidade da política de emendas orçamentárias, no melhor estilo do bom e velho toma lá, dá cá.
Nesse mesmo tempo, uma lei de liberdade econômica, versão anabolizada da medida provisória que a antecedeu, está no forno. Submete às relações privadas e mesmo as relações de trabalho a uma amplíssima autonomia.
Livre caminho para a realização de trocas desiguais nos mercados, para o enriquecimento de poucos e o empobrecimento de muitos, no contexto de desenfreada concentração de renda e de poder econômico.
Depois de tudo isso, o Brasil será muito, muito diferente do que foi nas últimas décadas, e ainda mais distante do sonho de igualdade e de justiça social. O menor de nossos problemas será Eduardo, o embaixador da América.

Jair Bolsonaro é recebido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na companhia do filho Eduardo Bolsonaro
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Walfrido Warde
É advogado, escritor e presidente do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE).
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