A fusão dos partidos de direita DEM e PSL, oficializada no dia 6 de outubro, já era anunciada há meses. Na convenção ficou estabelecido que a presidência da sigla será de Luciano Bivar, até então presidente do PSL. Sob um aspecto genérico, a fusão das legendas conservadoras parece um excelente negócio para ambos, já que formam no momento a maior bancada da Câmara dos Deputados (81 cadeiras).
O longo processo para a efetivação da fusão mostra que a história não é tão simples, dada a dificuldade em conciliar múltiplos interesses das siglas nos estados. Inclusive, era aguardada a definição, na mesma convenção, das presidências dos diretórios estaduais, fato que não aconteceu devido aos conflitos em diversos estados. O jeito foi empurrar com a barriga e esperar os ânimos acalmarem.
O PSL foi a grande potência eleitoral de 2018, conquistando a cadeira presidencial e a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados (52 assentos). Contudo, a saída precoce de Jair Bolsonaro, em novembro de 2019, provocou um racha no partido, deixando a sigla segmentada entre deputados fiéis ao presidente e independentes/opositores.
Já o DEM, um dos mais antigos e tradicionais partidos de direita do Brasil, passou por um momento de encolhimento, no que tange ao número de deputados eleitos para a Câmara, na última década e só conseguiu ressurgir com alguma expressividade de 2018 para cá, quando conseguiu o feito notável de aumentar sua bancada e ainda emplacar duas importantes conquistas: a presidência da Câmara dos Deputados, com o então deputado federal do partido, Rodrigo Maia (RJ), e a presidência do Senado, na figura do senador Davi Alcolumbre (DEM- AP). Na eleição de 2020 o DEM ainda conseguiu aumentar o número de prefeituras conquistadas em relação a 2016, de 268 para 466.
Desse modo, a janela partidária que acontece em março de 2022 – quando os deputados podem mudar de legenda sem perder o mandato – mostrará o real tamanho do União Brasil. Um dos principais elementos para o aumento ou diminuição do número de mandatários da legenda serão os acordos para as eleições nos estados. No caso do Rio de Janeiro, um forte reduto do PSL, os principais dirigentes estaduais das velhas siglas, DEM e PSL, já deixaram claro que dificilmente caminharão juntos.
Outro aspecto que norteará o tamanho da legenda será a decisão sobre uma candidatura própria a cadeira presidencial. A ala bolsonarista do PSL, por exemplo, vê com maus olhos os planos ventilados de uma eventual candidatura própria. No momento os nomes apontados são o ex-ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta (DEM-MS), o apresentador de televisão José Datena (PSL-SP) e o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Já uma ala da nova legenda, especialmente os candidatos a deputado federal e estadual, almejam a candidatura própria para alavancarem suas campanhas.
Quanto ao direcionamento programático da sigla ainda será preciso aguardar, já que nada foi dito ou sequer discutido na convenção do dia 6 de outubro. A sensação é de que a primeira fusão da direita está em um campo minado, em que cada passo é dado para evitar que uma explosão aconteça antes mesmo da campanha de 2022.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
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