O texto base da Reforma da Previdência foi aprovado em primeiro turno com 379 votos favoráveis e tudo indica que esse resultado dificilmente poderá ser revertido nas demais etapas do processo.
Entre os partidos de oposição, a “ressaca” da votação, que hoje em dia se passa essencialmente em nossas redes sociais, se expressou através de um debate acalorado sobre alguns membros “traidores” de partidos identificados com a esquerda, de modo particular o PDT, em que um terço da bancada votou “sim”, a favor da Reforma.
Em especial, a conta sobrou para a novata Tabata Amaral, deputada federal eleita por São Paulo, e símbolo da (boa) “nova política” para uma fração de eleitores mais identificados com a esquerda.
Podemos discutir se Tabata Amaral traiu seus eleitores-fãs progressistas, se está no partido equivocado, ou ainda se de fato representa uma nova política, já que faz parte da safra de jovens protegidos pelo mega-empresário Jorge Paulo Lemann.
A questão que quero destacar aqui, porém, é outra: o que o eleitor brasileiro espera de um deputado federal?
Uma nova relação entre eleitor e parlamentares
A ideia de “nova política” está conectada a um cenário internacional de crise da democracia e das instituições representativas. No caso brasileiro ela se alimenta de uma forte repulsa da figura do parlamentar, que representa o estereótipo negativo do político em sua forma mais tosca.
Pesquisas em anos anteriores indicavam que funções básicas dos membros do Legislativo eram desconhecidas pela maioria da população, e que atividades de prestação de serviços destinadas ao seu Estado eram tão ou mais almejadas quanto a tomada de posição em votações nacionais.
Em 2018, o voto dos indignados levou a uma mudança radical no perfil do Congresso, transformando-o num mix de novas caras.
Empossados, muitos dos parlamentares parecem, agora, afoitos por uma selfie ou um vídeo que viralize e “lacre” nas redes sociais.
O eleitor, que não estava acostumado a acompanhar o mandato parlamentar – seja por uma dificuldade inerente ao próprio sistema eleitoral, pela falta de tempo ou mesmo por desinteresse – passou a conviver com uma campanha permanente da classe política.
Até 2018 havia certo equilíbrio entre estilos de representação política, com índices de renovação parlamentar relativamente estáveis e baixos.
Não sabemos ao certo o que espera o eleitor brasileiro de um deputado federal a partir de agora. Os novos parlamentares parecem acreditar nas benesses da exposição diária da sua imagem. Contudo, o estado perene de indignação do eleitor também pode ter seus limites, trazendo surpresas para 2022.
Virada Política debate as redes sociais na campanha de 2020
Participei da Virada Política, em São Paulo, como palestrante na mesa “Eleições 2020 e a influência das redes sociais”, junto com o publicitário Moriael Paiva e Danilo Strano, da TubeLab.
A Virada Política é um encontro anual organizado por um coletivo independente que reúne cidadãos, ativistas e políticos. Em 2019 foi realizada no dia 30 de junho na cidade de São Paulo.
Diversos temas esquentaram o debate, entre eles destaco a inevitável presença das redes sociais na construção das campanhas eleitorais; a relativização do lugar de autoridade do Judiciário na definição do que é ou não fake news; e a importância em discutir as redes sociais e seu caráter empresarial na definição dos pleitos.
A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 certamente ficou marcada pelo uso (e abuso) das mensagens instantâneas no aplicativo Whatsapp. Pesquisadores e profissionais de campanhas ainda discutem o impacto das mensagens na vitória do ex-capitão, tido com outsider naquele pleito.
Teremos um modelo de campanha similar nas eleições municipais de 2020? As conclusões do debate na Virada Política sugerem que é preciso parcimônia nessa análise.
Tratar-se-á de uma eleição muito distinta, em que embates ideológicos precisarão abrir espaço para pautas e propostas concretas para os problemas particulares da gestão municipal. Cada eleição tem sua lógica, a adoção de modelos prontos nunca é a melhor opção.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
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