No último domingo, dia 27 de setembro, foi dada a largada oficial na corrida eleitoral, com número recorde de candidatos inscritos. Por enquanto, até a homologação pelo TSE, são 19.137 candidatos a prefeito e 507.682 a vereador. O pleito de 2020 vem recheado de novidades, destaco três: fim das coligações nas eleições proporcionais; primeira eleição municipal realizada com o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC); e, claro, a variável “surpresa” mais importante, a Covid-19.
Um dos efeitos da primeira novidade é o recorde que destaquei acima. Esse ano, os partidos entraram no jogo sozinhos (lembrando que a coligação de partidos servia como um grande time para a distribuição de cadeiras e para facilitar o alcance do quociente eleitoral), e agora cada candidato a vereador – mesmo que não seja um grande atacante – ajudará o partido com seus votos. Ou seja, o reforço de cabos eleitorais inscritos na disputa como candidatos é uma boa estratégia, já que existe agora, de modo mais acentuado, o temor da dificuldade de alcance do quociente. Consequentemente o aumento de candidatos a prefeitos é notório. Estes podem ajudar a potencializar o pedido de voto para os candidatos da chapa proporcional do seu partido, seja em eventos de rua, seja nas plataformas digitais.
Quanto aos efeitos do FEFC, ainda precisaremos aguardar o desenrolar da campanha, mas especula-se que algumas obrigações atreladas ao fundo (como a obrigatoriedade de recursos para candidaturas de mulheres, por exemplo) irão aumentar a competitividade delas.
Por fim, a Covid-19 mexeu com boa parte da rotina do ano eleitoral, começando pela data do pleito, que precisou sofrer alteração. Um efeito previsto dessa “novidade” – mas sob suspeita, tendo em vista as aglomerações por todo o Brasil observadas no domingo de estreia – era a diminuição expressiva da campanha presencial, particularmente o famoso corpo a corpo, tão presente em campanhas municipais, e o deslocamento para a arena digital via redes sociais.
Diante de tantas novidades, será que a velha premissa do marketing eleitoral, do “poder do patrono” (ou seja, o poder de uma liderança partidária capitanear o escolhido do partido/coligação no município) ainda se manterá forte em 2020?
Pesquisas de opinião qualitativas por todo o Brasil sugerem que teremos novidade também nessa seara. O eleitor brasileiro parece cansado de promessas e tapinha nas costas. O que tem chamado atenção é a trajetória e biografia do postulante, indicando também uma pausa na ascensão de outsiders. O raciocínio ganha ainda mais força quando colocamos em questão que a Covid-19 exigirá medidas concretas dos novos prefeitos para resolver difíceis problemas que certamente virão a curto prazo, como o aumento do desemprego, que já atormenta a vida de tantas famílias brasileiras.
Dessa forma, no cálculo do eleitor sobrará pouco espaço para aventureiros. Sem sombra de dúvidas essa não será uma eleição de promessas, mas sim de projetos sobre quem pode – e como pode – fazer melhor para resolver os problemas do município. Arrisco afirmar que os figurões da política nacional terão pouco a contribuir, já que o eleitor precisa escolher seu cardápio de metas e ações concretas, isso sem falar que os velhos fiadores estão cada vez mais desacreditados.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
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