Estamos em recesso parlamentar, período de longo descanso do principal corpo representativo do País. É nesse período, porém, que a vida política municipal ganha força nos bastidores.
As eleições municipais, também chamadas de intermediárias, costumam aparecer na imprensa como “termômetro” para a eleição geral seguinte. Ou seja, o pleito de outubro de 2020 seria um teste do que está por vir em 2022.
Em especial no que diz respeito ao crescimento ou encolhimento dos partidos políticos nos Executivos municipais, e, consequentemente, a configuração do quadro partidário no Congresso.
A expectativa não está errada se olharmos para as conexões entre deputados federais e membros da política local, prefeitos e vereadores.
Existe nas campanhas políticas brasileiras, não de forma generalizada, é claro, uma articulação entre as duas esferas.
Deputados se engajam nas eleições nos municípios, seja para retribuir os esforços das lideranças municipais na campanha, seja para preparar o terreno para a sua própria reeleição.
Prefeitos e vereadores fazem o papel de cabos eleitorais dos deputados em seus municípios, tanto na campanha quanto no dia a dia da política.
Contudo, a partir do resultado da eleição para a Câmara dos Deputados em 2018 essa expectativa precisa ser vista com parcimônia. Tivemos a maior renovação política das últimas décadas com o surgimento de um novo e imenso partido político, o PSL, e também com a entrada de um considerável grupo de deputados alinhados a uma autoproclamada “nova política”, de viés abertamente antipartidário.
No caso do PSL, tivemos o racha entre a ala bolsonarista e a ala alinhada ao presidente da sigla, Luciano Bivar.
A tentativa da fundação do novo partido do presidente Jair Bolsonaro, “Aliança pelo Brasil”, corre contra o tempo. Foi ventilado pelo clã Bolsonaro que o recolhimento de assinaturas necessárias, 491.967, estava em fase de conclusão. Porém, alguns aliados já afirmam que não haverá tempo hábil.
Há quem diga que teremos também nos municípios uma “ressaca” da onda da renovação de 2018, sustentada pelo descrédito da população com a política partidária tradicional, e por fim, com a classe política.
Por outro lado, sabemos que os temas municipais são outros, menos guiados pelos embates ideológicos e mais orientados para a solução de problemas concretos das cidades, em especial na grande massa dos minúsculos municípios brasileiros.
Independentemente disso, o que chamo atenção aqui é que a imensa alteração no perfil político desse novo Congresso pode colocar em teste a influência desse esquema de articulação entre a esfera nacional e a municipal.
Outro fator a ser considerado e que sempre desperta curiosidade é o peso da participação do ex-presidente Lula, agora livre, nas campanhas municipais.
O PT foi o partido que mais perdeu prefeituras na última eleição municipal, em 2016. Era o período em que o partido vivia as consequências do golpe parlamentar que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff.
Apesar disso, o partido conseguiu manter a liderança, em número de parlamentares, na Câmara dos Deputados, e as últimas pesquisas de opinião indicam alta confiança no nome do ex-presidente, superando inclusive a confiança no atual presidente.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
Leia também

O Mendigo, os Leitores e os Polissílabos
Continue lendo...
Lei Anticorrupção completa 10 anos
Continue lendo...
Emendas parlamentares: histórico e influência
Continue lendo...