Os casos de machismo no esporte, principalmente no futebol mundial, não são novidade para ninguém e se repetem, dia após dia, mesmo com a crescente popularização das pautas feministas. Isso ocorre pois esse mundo é controlado e pensado para os homens. O futebol, além de pregar máximas patriarcais, se propõe a perpetuar o que há de mais tóxico dentro do referencial de masculinidade, não à toa vimos inúmeros casos de acusações de estupros e até crime de feminicídio cometidos por jogadores, que são formados dentro dos clubes, onde as mulheres são vistas como seres inferiores, inclusive ao receberem menores salários como profissionais e terem seus corpos objetificados.
Obviamente que não foi o futebol moderno que inventou os ataques às mulheres nos esportes, isso é estrutural e persiste por séculos, porém é certo que os dirigentes cultuam o sexismo dentro de seus times. Como dito anteriormente, a diferença do valor atribuído aos homens e mulheres, por exemplo, acentua comportamentos machistas.
O futebol é o esporte de maior prestígio no cenário nacional e parte desse fascínio se associa ao fato do grande aporte midiático que o esporte recebe. Trata-se de um espetáculo que gera muito lucro aos clubes e seus patrocinadores. Assim, muitos jovens sonham em serem jogadores de futebol famosos, já que principalmente para as camadas menos privilegiadas da sociedade, esse seria um caminho de ascensão social mais fácil: a banalização da escola e a esperança de muitos se tornarem milionários através do futebol.
Ocorre que a única preocupação dos clubes, quando esses jogadores chegam, jovens e crianças nas categorias de base, é de que eles tenham virilidade e se imponham fisicamente sobre os outros. O que importa é que esses novos gladiadores tragam títulos e tenham alto valor financeiro no mercado da bola, assim pouco se investe em base educacional, familiar e até mesmo psicológica desses meninos que, ao se empoderarem financeiramente, replicam o estigma do homem predador. E essa não é uma culpa apenas das instituições futebolísticas. As próprias torcidas pensam apenas nas vitórias dos atletas. Para muitos, o jogador de futebol não necessita de educação escolar.
Para mudar tal cenário é essencial que os clubes, com a responsabilidade de seus dirigentes, tenham o dever de educar e formar os profissionais para além dessas exclusivas funções: vencer jogos e gerar lucros. O jogador de futebol não é um objeto com mero valor especulativo. Se os clubes têm direitos até mesmo sobre suas imagens, também têm deveres quando estamos tratando da educação de muitos menores afastados dos seus lares. Os times devem ter compromisso com a formação e caráter de seus atletas e não podem ser coniventes com qualquer tipo de violência, principalmente as cometidas contra mulheres.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Danielle Zulques
É Diretora para assuntos de política e sociedade do IREE. Advogada formada pela FAAP e pós-graduada em Ciências Políticas pela FESPSP. É Coordenadora da CAUSA - rede que conecta advogadas a mães em busca de suporte legal.
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