Uma piada velha, a do contrabandista burro na alfândega:
-E aí, tudo joia?
-Não, metade é cocaína!
Acho que nem preciso comentar. O nível de nossos heróis não cansa de subir. O cidadão recebe MILHÕES em presentes e, well, ou esquece de declarar, ou não sabia que precisava declarar, ou demorou meses para declarar, ou sabe-se lá o quê. O fato é que entregar os bens foi a última coisa feita.
-E eu lá vou usar um relógio desse valor?
Pergunta nosso paladino, com justa razão. Se, com arma e tudo, teve sua moto roubada, no vigor da juventude, imagine hoje, idoso, decadente, borocoxô, com um Rolex no centro do Rio de Janeiro:
-Passa o bobo, tio!
-Bobo? Não entendi a qüestão!
-Bobo é relógio. É bobo porque trabalha de graça.
-Ah, gostei, vou contar pra todo mundo.
-Mas passa o bobo!
-Ne-ga-ti-vo! Isso é um bem do Estado Brasileiro! Sou apenas o fiel depositário! Não vai roubar nada! Vai assaltar outro, seu petista de meia tigela!
-O senhor tem razão, mil desculpas.
E no fim das contas nada aconteceria, afinal todos zelam pelo patrimônio do Estado.
Ainda nessa questão, gostaria de parabenizar o megacampeão e uber Nelson Piquet pela delicadeza de guardar bens de seu chefe. É de vizinhos assim que todos precisamos.
Mas temos outro assunto: no dia em que escrevo alguns comemoram o 31 de março. Tema espinhoso, corremos o risco de termos estes espinhos introduzidos em nossos amados retos. Saudar esta data é debochar de mortos, é incentivar os tarados remanescentes a manter viva esta chama. Chama esta que pode ser usada para queimar testículos ou aréolas de seios. Já temos a frustração da anistia, que igualou todos, e ainda engolimos diversos logradouros com nomes que nos remetem a este passado nojento. São Paulo tem 33 ruas batizadas por essas criaturas; no Rio, um monte, no Brasil todo mais de 700 locais com nomes de ditadores da época. Algum deputado poderia propor que onde houvesse nome de torturador, que se colocasse o nome de algum torturado; onde de ditadores, de artistas; onde datas, que fossem substituídas por datas positivas, como a da promulgação da Constituição ou do fim do AI-5. Não se pode admitir esse tipo de coisa.
-Por gentileza, como chego na Avenida 31 de Março?
-Morrendo.
Ou
-Por favor, onde é a Rua Sergio Fleury?
-Pra quê você quer saber, filho da puta? Toma!
Por fim, depois de quase 100 dias de governo Lula, a sempiterna jornalista Vera Magalhães nos informa que Lula se igualou ao pior do Bolsonarismo. Sempre achei isso, daqui de onde escrevo. Lula pôs sob suspeita as ameaças do PCC ao impoluto senador Moro. Dúvidas descabidas, afinal o plano foi elaborado em cadernos escolares, com post-its coloridos, e teve seus códigos revelados em conversas de WhatsApp entre namorados. Levantar essa desconfiança indubitavelmente se compara às milhares de mortes desnecessárias durante a pandemia, ao uso de remédios ineficazes, às rachadinhas, aos imóveis em dinheiro vivo, à homofobia, aos clubes de tiro… O mundo gritou quando Lula recebeu uma declaração de amor de um infante enquanto estava no palco. Criminosamente ele não pegou a criança no colo e a ensinou a fazer arminha. Numa demonstração clara de crueldade, apenas disse que também amava a criança, quando ela declarou seu próprio amor.
As armas são a realidade do mundo. Bozo sim, sabe preparar as novas gerações para o futuro.
Amor é uma idiotice sem sentido.
No dia em que batuco no teclado estas bem-traçadas, Biroliro volta da Flórida.
Perguntar não ofende: passou pela alfândega?
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Ricardo Dias
Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.
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