O fracasso do renascimento do PSDB – IREE

Colunistas

O fracasso do renascimento do PSDB

Carolina de Paula

Carolina de Paula
Cientista Política



A eleição presidencial de 2018 trouxe a vitória de um candidato de extrema direita e a implosão de dois partidos da centro direita tradicional no Congresso, o PSDB e o MDB. As duas legendas tiveram papel central para a viabilização do golpe parlamentar que retirou a presidente Dilma da presidência em 2016. Contudo, nada capitalizaram, em termos eleitorais, e viram suas bancadas encolherem significativamente, tanto no Legislativo nacional quanto nas assembleias estaduais.

O caso do PSDB é o mais emblemático. O partido vinha de uma última campanha presidencial consideravelmente bem-sucedida, tendo conquistado 48,36% dos votos no 2ºturno em 2014. Quatro anos depois, a campanha do tucano Geraldo Alckmin, em 2018, obteve somente 4,76% dos votos, a pior marca da história da legenda. A migração de uma parcela expressa de eleitores acostumados a votar no partido –  para o campo ainda mais à direita do espectro ideológico – deve-se em grande medida a falta de unidade interna da sigla. Figuras importantes do partido como o atual governador de São Paulo, João Dória (PSDB), então prefeito da capital do maior colégio eleitoral do país, “cristianizaram” seu correligionário para subir no palanque de Jair Bolsonaro. O ainda bastante desconhecido Eduardo Leite (PSDB), candidato ao cargo de governador pelo Rio Grande do Sul, não hesitou em fazer o mesmo que Dória.

É curioso observar que coincidentemente ambos protagonizaram a tentativa (frustrada) de renascimento do PSDB nos últimos meses na disputa das prévias que escolheriam o candidato do partido para a eleição de 2022. Com ampla e desproporcional cobertura midiática, dado o pequeno tamanho do partido atualmente, as prévias serviriam, em tese, para mostrar algum resquício de força e importância do partido no xadrez eleitoral.  O fiasco foi generalizado. O número de inscritos para participar da votação foi minúsculo, somente 3,3% (44 mil) dos 1,35 milhão de filiados se interessaram em participar do processo. A coordenação da logística da votação foi ainda pior. No dia marcado (21/11) uma instabilidade do aplicativo usado foi tão grande que o processo precisou ser suspenso, lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, não conseguiram participar. O problema até poderia ser contornado sem grande repercussão negativa se não fossem as públicas trocas de farpas entre os candidatos, incluindo acusações de tentativa de sabotagem do processo.

A escolha do nome de Dória nas prévias no dia 27/11, com 54% dos votos contra 44,7% de Leite, teve mais cara de derrota do que vitória. Correligionários do seu próprio estado, como o senador José Aníbal, optaram em apoiar Eduardo Leite. Já o ex-candidato e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ofereceu apoio ao gaúcho, porém, sabe-se que vem trabalhando em uma aproximação cada vez maior aos partidos do centrão que apoiam a candidatura de Jair Bolsonaro.

Assim, a visibilidade promovida pela grande mídia ao universo do PSDB gerou um efeito bumerangue: ao tentar promover positivamente o alcance da legenda, incluindo debates televisionados entre os candidatos, acabou revelando uma face ainda pior da desunião e caos do ninho tucano.



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Carolina de Paula

É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.

Leia também