O Festival CURA e os desafios da arte urbana no Brasil – IREE

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O Festival CURA e os desafios da arte urbana no Brasil

Laura Barbi

Laura Barbi
Curadora



Em 2017 o Festival Cura lançou sua primeira edição e renovou os olhares de quem passa pelo centro da cidade de Belo Horizonte ao criar o primeiro mirante de street art do mundo. Após o fim de sua quinta edição, converso com Juliana Flores*, uma de suas fundadoras, sobre os desafios de realizar um festival de arte urbana no Brasil, o preconceito com o graffiti, o compromisso com a liberdade artística e a relação de amor com a cidade.

Laura Barbi: Como surgiu o Cura?  

Juliana Flores: O CURA surgiu do desejo da Priscila Amoni e do Thiago Mazza de pintarem um prédio em Belo Horizonte.  Ainda em 2015 comecei a pensar na ideia de um festival de empenas para que Thiago pintasse  um prédio e na mesma época a Priscila, sabendo que eu estava começando a desenvolver esse  projeto, me procurou dizendo que também pensava em criar um festival.

Decidimos então  convidar a Janaína Macruz para criar esse projeto com a gente por ser uma das produtoras culturais mais criativas e experientes de BH. Claro que o festival que criamos ficou muito maior que o sonho de dois artistas pintarem prédios na sua cidade.

Começamos a idealizar um festival que chamasse atenção do mundo todo, ajudasse a colocar Belo Horizonte no mapa mundial da  streetart e ajudasse a projetar e fomentar a cena local. Na época que estávamos mapeando as empenas no centro da cidade, tivemos a ideia de criar um mirante de arte urbana, algo único no mundo todo. Dois anos depois da 1ª reunião, conseguimos realizar a 1ª edição do CURA, em julho de 2017.

FESTIVAL CURA 2020 – Circuito Urbanos de Arte
Artista Robinho Santana. Foto: Caio Flavio / Área de Serviço

Laura Barbi: Fale um pouco sobre as últimas edições do Cura, incluindo o que mudou de uma edição  para outra.  

Juliana Flores: Talvez as edições que mais apresentaram mudanças foram as de 2019 e 2020. Em 2019 porque mudamos de bairro e fomos criar um mirante de arte na rua Diamantina, na Lagoinha. Em 2020 porque foi marcado pela entrada de curadoras convidadas, pela convocatória para selecionar um dos artistas, pela presença indígena e pela pandemia.

Em 2019, já provocadas por dois moradores da Lagoinha – Filipe Thales, coordenador do Viva  Lagoinha e Daniel Queiroga, do blog Casas da Lagoinha – a realizar uma edição do festival naquele bairro, tivemos a oportunidade de um dos nossos patrocinadores desejar uma edição do CURA na Lagoinha. Juntou a fome com a vontade de comer ou como diz o Filipe, a sede com a vontade de beber.

Decidimos então mergulhar nesse território e realizar uma edição do CURA lá,  dessa vez tendo a Lagoinha como inspiração para o line-up, mesas de debates, oficinas e  programação de rua. Como no mirante da rua Diamantina não tinham muitas empenas visíveis, decidimos por pintar vários muros e fachadas de locais importantes para o bairro que não  necessariamente são contempladas do mirante. Nesta edição tivemos uma maior presença de  artistas da cidade, das 11 obras, 9 foram realizadas por artistas locais.

Em 2020, ainda no início do ano e antes mesmo do isolamento, decidimos que era hora de trazer  novas perspectivas para a curadoria, espaço onde são tomadas as principais decisões criativas  do festival. Para nós não bastava mais ampliarmos nosso olhar pensando em contemplar ao máximo a diversidade e sim colocarmos outras vozes para tomar essas decisões conosco.

Convidamos as artistas Domitila de Paulo (Belo Horizonte, MG) e Arissana Pataxó (Coroa Vermelha, BA). Foi uma troca rica e muito importante que garantiu esse festival que todos puderam ver: potente, com uma presença artística 100% afro-indígena e uma programação de debates e aulões que tratasse de temas urgentes do nosso tempo.

Como uma forma de  compensar a ausência da programação presencial e das festas no mirante Sapucaí, trouxemos  novas linguagens artísticas para o festival concebendo duas instalações: a Bandeiras na Janela, que trouxe 5 obras de 5 artistas, e a escultura inflável nos arcos, onde convidamos o artista Jaider Esbell, que criou a obra Entidades. Certamente essa ampliação de linguagem artística na arte  pública veio para ficar e o CURA nunca mais vai realizar apenas obras de graffiti e arte mural.

Laura Barbi: Essas mudanças/evolução são fruto das conversas e debates que acontecem durante o  festival? Retorno do público/artistas? 

Juliana Flores: Essas mudanças são fruto de uma escuta muito ativa que temos desde a 1ª edição em 2017.  Estamos sempre escutando atentamente as críticas, todas elas, para acolhermos para dentro do  festival e continuarmos evoluindo. O CURA é um festival marcado pelo dissenso, e a gente  sempre busca trazer para a edição seguinte as críticas que ouvimos na edição anterior.

As  mudanças não marcam só a programação artística, mas também a estrutura do festival. Em 2020, por exemplo, pela 1ª vez o festival foi lixo zero e teve a equipe formada por maioria negra, inclusive nos cargos de liderança como gestão e coordenação de infraestrutura.

A gente sempre se preocupou em ser de verdade, que o nosso line-up representasse quem o festival é na essência, e nesse trabalho invisível que não é visto nas ruas e nas redes sociais. Essa evolução  também é fruto da evolução das próprias realizadoras, certamente não somos as mesmas que éramos em 2015, quando nos reunimos para imaginar o festival.

Laura Barbi: Por se tratar de um festival de arte urbana, a relação entre arte e cidade é intrínseca. Qual a  relação de vocês com as cidades e ambiente urbano, em especial Belo Horizonte? 

Juliana Flores: Nossa relação com a cidade é de amor. Somos filhas da Praia da Estação, criadoras de blocos de carnaval, vivemos intensamente a cena cultural e política da cidade. Sempre frequentamos  eventos de rua, festivais de arte, duelo de MCs no viaduto Santa Tereza…

O CURA sempre foi  uma declaração de amor por BH, fruto de um desejo de que a cidade fosse notada para além das  montanhas como essa cidade criativa e linda que é. Sonhávamos que as pessoas vissem BH sob os nossos olhos, olhos de quem ama e admira a cidade, seus artistas, suas pessoas e sua cena cultural.

Laura Barbi: Vocês lançaram o Cura em 2017, no mesmo ano em que o Dória apagava os murais na Av. 23 de Maio em São Paulo. O quão importante foi, e é, o apoio da prefeitura de BH/Sec.Cultura/Belotur para que o Cura aconteça? Pois grande parte, senão todas os edifícios estão  localizados no hipercentrode BH, em áreas tombadas pelo patrimônio cultural.  

Juliana Flores: No início de 2017, entreguei nas mãos do prefeito Kalil um guia da Lonely Planets chamado Streetart, mostrando para ele que pela 1ª vez na história a maior editora de guias turísticos do  mundo tinha publicado um guia só para os amantes de arte urbana, e que a única cidade brasileira que figurava nesse guia era São Paulo, e que meu sonho na reedição prevista pra 2023 era BH estar nesse guia também.

Na ocasião notei que o prefeito, além de apreciar muito arte urbana – sei que sua esposa Ana Laender também é grande fã de arte de rua -, tinha um desejo de  se contrapor à gestão de Doria em SP.

Por mais que o apoio da prefeitura ao CURA sempre tenha sido importante, especialmente no que diz  respeito à abertura de diálogo e à facilidade em conversar e obter informações, nunca foi  fundamental para a realização do festival. Mas claro, foi um facilitador não ter a Prefeitura como  obstáculo para realizar um projeto tão complexo. O patrocínio do CURA sempre foi pelas leis de  incentivo ou patrocínio direto junto à iniciativa privada.

Em relação à Diretoria de Patrimônio, fizemos o caminho das pedras normal, como qualquer  pessoa. Buscamos orientação junto aos técnicos da Diretoria sobre como montar a  documentação para autorizar as pinturas no hipercentro, área tombada (aliás, toda a área dentro  da av. do Contorno é tombada, bem como a Lagoinha).

Protocolamos a documentação e, uns 2 meses depois, fomos convidadas para fazer a defesa da nossa proposta durante a reunião do  Conselho de Patrimônio, que é formado por representantes da sociedade civil e poder público.  Na reunião aprovamos por unanimidade e sob aplausos a pintura dos prédios.

Isso não é mérito  apenas do festival, mas também do Conselho, que é formado por pessoas que apreciam arte e têm uma visão atual sobre conservação do patrimônio público e relação entre arte e espaço público.

Mas sim, tivemos apoio da Prefeitura em todas as 5 edições realizadas, seja na  facilitação de diálogo junto a órgãos como a Secretaria de Regulação Urbana e BHTrans, seja no apoio de limpeza do mirante pela SLU.

Laura Barbi: Qual a relação com os moradores/proprietários dos prédios/apartamentos etc. onde as empenas são pintadas?  

Juliana Flores: Para pintar os prédios, o CURA precisa ter a autorização formal de todos. E cada caso é um caso. Temos que “vender” o projeto e mostrar sua relevância.

Para a edição de 2017, foi mais complicado porque eu, que cuido dessa relação com os prédios, percebi que a arte urbana era  estigmatizada, muita gente tinha medo do prédio ficar “feio”.

Foi necessário muito diálogo,  participar de assembleias… depois desta edição ficou mais fácil falar do festival porque estava  falando de algo que as pessoas já conheciam, não era mais sobre uma intervenção desconhecida. É importante considerar que até 2017, a única pessoa que tinha pintado empenas em BH havia sido um artista francês chamado Hughes Desmazières, que na década de 90 pintou 10 prédios junto com um assistente belo-horizontino no melhor estilo “na tora”, usando cadeirinha e  contando com o apoio de tinta de alguns fabricantes.

Até fizemos um minidoc chamado “Quem se  lembra do Tiradentes?” recuperando esta história. Então não tínhamos memória de produção para  consultar e a própria prefeitura teve que lidar com uma situação até então inédita.

Laura Barbi: Como é o processo de pré produção/produção do Cura, no sentido não só da curadoria em si, como também de uma seleção de tema? Há a participação/aprovação das propostas artísticas com os moradores dos  prédios que serão pintados?  

Juliana Flores: Importante ressaltar que o CURA nunca submeteu proposta artística de mural ou graffiti para obter autorização, nem junto à Diretoria de Patrimônio, nem junto aos prédios.

Essa sempre foi  uma luta nossa, e nunca admitimos que a autorização dependesse da aprovação de um esboço justamente por entender que nem o Patrimônio, nem os prédios e até mesmo nós temos  “autoridade” para dizer que aquela proposta pode ser pintada ou não.

O que a gente estabeleceu com a prefeitura, prédios e artistas foi a única regra: é proibido pintar obra que traga propaganda  político-partidária ou que seja ofensiva a qualquer gênero, raça, orientação sexual e credo/ religião. Respeitando essa regra, tudo pode.

FESTIVAL CURA 2020 – Circuito Urbanos de Arte
Artista Mirante Sapucai. Foto: Caio Flavio / Área de Serviço

A exceção foi a pintura de um mural abstrato pelo artista argentino Elian Chali no prédio do SENAI Lagoinha, que está em processo de tombamento. Foi uma condição para que fosse autorizada a pintura, criada na reunião do Conselho de  Patrimônio onde foram aprovadas todas as intervenções do CURA Lagoinha, com exceção do  SENAI, onde foi decidido que na reunião do mês seguinte deveríamos apresentar o layout da  obra uma vez.

O interessante dessa reunião foi que, por 6 votos a 4 nos autorizaram pintar sob o argumento de que aquele conselho não tem capacidade técnica de dizer se aquela imagem é ou  não adequada ao edifício, que já havia o precedente de autorizar a pintura, então não tinha sentido condicionar a submissão de um layout da obra.

Sobre tema central do festival, a gente nunca define um tema específico, mas contemplamos alguns assuntos mais sensíveis para aquela edição que desejamos falar. Na edição de 2018, por  exemplo, queríamos honrar a origem do graffiti, que é a arte da caligrafia, e fizemos uma Empena de Letras, trazendo 21 artistas de caligrafia urbana para criar essa obra.

Ao lado desse imenso  painel de letras convidamos um artista que também já foi pixador a criar uma obra que retrata um  jeguerê, que é essa torre humana que os pixadores e artistas vandal fazem para pintar. O graffiti nasceu ilegalmente na década de 80 no Bronx e, como festival de arte urbana, quisemos homenagear as origens dessa arte.

Na Lagoinha, pensamos muito no território como tema para todo o festival, e nesse ano alguns assuntos atravessaram a curadoria, como o afeto entre negros e a arte indígena contemporânea.  Talvez um dia o CURA amadureça para ser um festival com um tema específico, como tantos festivais de arte pelo mundo, mas por enquanto preferimos não definir tema para que possamos  falar de assuntos diversos e sensíveis para nós naquele momento.

Laura Barbi: Há um contrato com o poder público/privado sobre a duração/manutenção/conservação  das pinturas?  

Juliana Flores: Há um contrato com os prédios onde está acordado que eles podem repintar as empenas após 5 anos, e há uma recomendação da Diretoria de Patrimônio para repintar os prédios muito danificados.

Paralelamente fizemos um termo com a prefeitura em que as obras do CURA são obras de arte pública que pertencem à cidade. Mas fizemos esse termo apenas para as 6 primeiras empenas, e temos desejo de fazer para as outras 8. Achamos importante que  seja esse o entendimento jurídico das obras. Elas têm autor, mas são obras públicas.

Em relação ao festival, temos desejo de apenas repintar uma das obra que danificou muito rápido porque fizemos um mal trabalho de preparo da empena (todas as empenas são reparadas antes da pintura,  justamente para garantir uma maior durabilidade).

Laura Barbi: Para mim, o CURA não é só um Festival de Arte Urbana, mas também um olhar generoso sobre a nossa relação com a arquitetura, a arte, a cidade e uns com os outros. Em 5 edições, vocês pintaram 28 painéis, sendo 18 empenas de prédios, maior número já pintado por um único festival, além das duas instalações artísticas. É um feito que muda não só a  paisagem de uma cidade como também a relação de todos nós que vivemos e nos locomovemos pela cidade. Para muitos é o primeiro contato que terão com artes visuais. O quão  importante é para vocês esse alcance e o poder de ampliação e transformação da arte? 

Juliana Flores: A proposta do festival, acredito que de todos os festivais de arte urbana/arte pública, é  justamente promover o encontro entre pessoas e arte, colocar a arte no dia a dia das pessoas,  interromper o cotidiano da população com as obras.

Mas a gente não quer apenas colocar arte no dia a dia das pessoas, mas também contribuir para a ampliação da percepção estética de quem passa pela obra, fomentar debates e provocar. Não é só colorir o cinza, como muitos falam, mas criar questionamentos e reflexões. E claro, mudar a percepção que temos sobre a arquitetura que vemos sempre com o mesmo olhar e que, talvez por causa de uma nova obra, vamos perceber aquele espaço de forma diferente.

Uma obra que tivemos a intenção clara de  “renovar” o olhar sobre um ícone da arquitetura de BH foi a instalação Entidades de Jaider Esbell. Concebemos uma escultura inflável nos arcos, o convite para o artista foi esse: criar uma  escultura inflável nos arcos, o que ele iria propor sairia 100% da cabeça dele, mas ele tinha que criar sua obra que funcionasse num suporte inflável e que fosse instalada nos arcos.

Laura Barbi: Acredito que a arte e a cultura devem ser acessíveis por todos e feita para todos. O CURA amplia questões latentes como a descolonização, a resistência artística, o racismo, a mulher/mãe e o  feminino, a negritude, a comunidade lgbtqia+ etc. Torna o invisível, visível, super visível. E o mais interessante, de forma colaborativa e inclusiva. Fale um pouco sobre esse lado do Cura que  nasce da diversidade e da colaboração, movimentando toda uma cadeia produtiva artística  local/nacional/internacional.

Juliana Flores: Sei que pode parecer preciosismo, mas aprendi ao longo das edições que o CURA não torna o invisível visível, porque os artistas negros, indígenas e periféricos são visíveis. O que acontece é que o mercado quase sempre não os nota, mas eles estão lá muito visíveis e resistentes.

O que o festival faz, talvez, é potencializar essa cena, amplificar essas vozes. O que percebo também é que não é um movimento só nosso, mas da cena. Artistas e curadores negros, indígenas e lgbtqia+  reivindicaram seus espaços, ocuparam esses espaços, lutaram para serem reconhecidos como  autor dessas narrativas e não como “objeto” de estudos como aconteceu ao longo da história da  arte.

Então se um festival de arte pública contemporânea não está atento a este movimento, ele consequentemente vai ficar velho e pouco interessante. Se a gente almeja uma relevância mínima dentro da cena artística, temos que entender/perceber esses movimentos e acolher toda essa  diversidade.

O CURA começou como um festival feminista dentro de uma cena muito machista e  dominada pelos homens, que é a cena da arte urbana. Logo na 1ª edição já vimos que isso era pouco, muito pouco. Tivemos um line-up de empenas 100% branco mesmo com maioria feminina  e nenhum artista do eixo rio/sp.

Ou seja: já começamos fazendo algo que até então nenhum  festival de arte urbana no Brasil tinha feito (nem no mundo ainda tinha festival com line-up de  maioria feminina), mas percebemos que estávamos atrasadas, isso não era suficiente. Era  necessário ter o protagonismo negro, especialmente da mulher negra.

Como disse anteriormente, nossa escuta ativa nos ajudou a evoluir. Ao longo das edições, essa forma colaborativa se deu mais por termos esta escuta sensível e atenta. Depois vimos que a colaboração tinha que acontecer na curadoria.

Acredito que, por ser um festival muito difícil de ser realizado, que exige uma luta grande e muito trabalho, éramos apegadas a esse lugar de decisão criativa: ralamos pra  caramba e não vamos poder fazer o trabalho mais divertido e compensador que é justamente o  de pensar artisticamente o festival? Mas fez parte do nosso amadurecimento perceber que trocar com outras curadoras seria ainda mais interessante, especialmente do ponto de vista criativo, como foi nessa edição de 2020.

Desde a 1ª edição não queríamos ser feminista ou diverso apenas na seleção dos artistas, mas também em toda a estrutura e equipe, e isso também foi  evoluindo e hoje estamos mais diversas e inclusivas do que em 2017.

Laura Barbi: Vejo com grande alegria que este é o primeiro ano que vocês são três mães produzindo o CURA. Fale um pouco sobre esse lugar da maternidade e da feminilidade no mercado da  produção cultural e se já sentiram preconceito ao longo desses anos por serem mulheres.  

Juliana Flores: Sempre fizemos questão de mostrar que o festival é realizado por três mulheres que são mães. Na  1ª edição eu já tinha tido um filho (perdi com 9 meses de gestação) e Jana estava grávida. Na edição especial 120 anos de BH, eu estava grávida novamente e Jana em licença maternidade.  Na edição de 2018 estávamos as duas com bebês e levando eles pra base de produção.

Na edição da Lagoinha foi a Priscila quem engravidou. A gente não apenas manifesta publicamente isso, como colocamos nossos filhos “na roda” em pleno CURA. Às vezes não tem uma cuidadora por perto, ou os pais, então os nossos amigos que trabalham conosco também se revezam para  cuidar e vamos administrando.

Acreditamos que o mercado de trabalho já faz muito bem seu papel de invisibilizar as mães.  Estatisticamente falando (pesquisa da FGV), metade das mães são demitidas em até um 1 ano  após retornar da licença maternidade.

A sociedade espera que as mães criem e eduquem as  crianças, mas não ampara essas mães. Não existe flexibilidade no trabalho, é como se  tivéssemos que fingir que não temos filhos, que temos que ser exatamente a mulher que éramos antes de parir, com a mesma disponibilidade. Isso não existe!

Então, para nós, a maternidade também é um local de militância. E acreditamos ser importante enfatizar que um festival  complexo e grande como o CURA é realizado por três mulheres mães, justamente para mostrar que somos tão capazes de realizar como qualquer homem.

Laura Barbi: Como foi a decisão de manter o festival neste ano tão inesperado e de convidar duas novas  curadoras para fazer parte do CURA 2020? E também de ampliar as ações e incluir  intervenções urbanas e uma chamada aberta na programação?  

Juliana Flores: A princípio confesso que pensamos em adiar o festival para 2021, por vários motivos: empatia pela tragédia que vivemos, a impossibilidade de realizar a programação presencial e as festas no mirante e até o risco que as equipes que realizam as obras poderiam correr.

Mas após o baque inicial, começamos a pensar sob outras perspectivas como entender que 2021 também é um ano que pode ser que não tenha eventos com aglomeração.

Já havíamos captado os recursos para  executar o festival e a pandemia provocou uma crise forte na economia, especialmente no  segmento da cultura. Então num ano tão difícil para a economia criativa, era importante colocar  esse dinheiro para circular.

Para você ter uma ideia, o CURA contrata mais de 70 pessoas diretamente, além dos nossos fornecedores e parceiros. O carro chefe do CURA são as obras de arte pública e era permitido pela legislação da cidade realizar as obras durante a pandemia. Então depois de todas essas ponderações, decidimos seguir adiante e realizar o festival sob forte  esquema de segurança sanitária para as equipes.

As curadoras foram convidadas no final de 2019, já havíamos decidido que precisávamos colaborar com mulheres de visões e vivências diversas das nossas. Mas claro que a pandemia  nos afetou na hora de pensar o festival, pensar os temas que queríamos discutir, artistas que queríamos trazer. Mas sempre com a intenção de apontar caminhos e não falar de doença  porque o ano já era muito trágico.

Inclusive pela primeira vez decidimos nos apropriar da palavra CURA, que sempre tratamos como a sigla para Circuito Urbano de Arte, e deixamos para outras pessoas significar ou não o termo cura para o que fazemos.

A gente sempre entendeu que um festival não tem capacidade de curar ninguém ou algo, que essa experiência é  muito subjetiva, mas num ano de doença e morte não tinha como fugir do nosso próprio nome.

Sobre a chamada aberta para selecionar um artista, também já era uma decisão que tínhamos  tomado ainda em 2019, sabíamos que era a hora de abrirmos para essa ação. Como sempre pintamos poucos prédios, porque é uma ação que custa muito, e tem dezenas de artistas que gostaríamos de trabalhar, adiamos por muito tempo essa convocatória. Mas sentimos que o festival precisava ampliar sua escuta, inclusive na seleção dos artistas das empenas.

As  instalações começaram a ser pensadas como uma forma de compensar a falta da programação presencial. A ideia inicial foi bem simples, usar a verba que tínhamos para a programação do mirante e entregarmos mais obras de arte. Mas foi uma ação que nos deu tanto prazer, criativamente falando, e repercutiu tão bem, que não vejo mais o CURA sendo realizado sem pensar em novas linguagens e suportes.

Além disso, por causa da pandemia, a nossa  programação de debates e aulões foi virtual e hoje segue disponível no nosso canal de youtube. Também sempre fizemos uma feira de arte no  final de semana de encerramento e uma forma de compensar essa ausência foi fazer uma galeria  virtual.

Laura Barbi: No Instagram do Cura diz que “a ação mais combativa” deste ano foi incluir a instalação urbana “Bandeiras na Janela” com obras dos artistas Célia Xakriabá, Denilson Baniwa, Randolpho Lamonier, Ventura Profana e Cólera Alegria, uma “alusão ao ato político e  identitária de se levantar bandeiras”. Fale um pouco sobre a seleção dos artistas e como  foi sua repercussão. 

Juliana Flores: Quando começamos a conceber as instalações, a primeira que decidimos foi por uma que dialogasse com o tempo que vivemos: a manifestação através das janelas, virtuais ou não. Lembramos dos italianos cantando pela janela, das mil e uma lives que invadiram nossos feeds, mas também refletimos sobre a impossibilidade de se manifestar nas ruas num ano difícil como esse, em que há várias razões para ocuparmos as ruas e protestarmos, mas somos impedidos  pela pandemia.

Então por que não colocar bandeiras na janela? Para pensar nos artistas que  convidaríamos, fomos atrás justamente de artistas que já têm a sua produção artística marcada pelo manifesto, pelo protesto, pela crítica social. Quando pensamos no Denilson, tínhamos em  mente a obra icônica dele que coloca o nome da cidade e escreve terra indígena (aqui seria Belo Horizonte terra indígena), mas sempre deixamos claro no convite a liberdade artística, e Denilson quis trazer uma imagem que questionasse a invisibilização dos artistas indígenas ao longo da  história da arte.

Randolpho tem uma série famosa chamada Profecias que pensamos que cabia muito bem nesta instalação. Essa séria nunca tinha sido exibida em BH (e nem poderia, todas as  obras desta série já foram vendidas e estão em instituições diversas) e como a nossa ação era reproduzir em grande formato as obras, poderíamos viabilizar ao menos a exposição de uma das obras de Profecias.

Ventura teve uma participação marcada por polêmica e censura na exposição dos residentes da Bolsa Pampulha em 2019, em BH. Achávamos que seria perfeito trazer a obra  “Sem senhor” para o festival, não só como uma forma de reparar o que ela viveu na cidade, como também é uma frase perfeita para o momento que vivemos de autoritarismo e controle dos  nossos corpos pela religião, pelo governo, pelo militarismo.

Célia foi uma artista que trouxemos principalmente pelo seu ativismo na luta indígena, e Cólera Alegria realiza um trabalho que talvez  mais tenha nos inspirado para essa ação: uma arte-protesto. Chegamos até pensar em fazer essa instalação só com obras do Cólera Alegria e mudamos de ideia por achar que essa  instalação deveria ser polifônica e com artistas diversos.

Essa ação colaborativa dos artistas e criativos que compõe o Cólera Alegria nos inspirou por ser uma ação que acontece através das janelas virtuais (apesar de sabermos que várias obras já foram expostas presencialmente) e por estar sempre manifestando contra o problema do “momento”, ou seja: um protesto artístico  muito contemporâneo.

A escolha do local se deu pelo impacto visual (o CURA sempre pensa muito visualmente as suas obras e a sensação que elas podem provocar seja pela sua dimensão  seja pelo local escolhido) e também porque essa grande empena de janelas da antiga escola de  Engenharia da UFMG é vista da Sapucaí. Assim teríamos duas instalações: uma em cada ponta  do mirante de arte. E a repercussão foi excelente, especialmente dentro da crítica especializada.  Pela primeira vez fomos notadas pelo mercado de arte contemporânea! E na cidade a repercussão foi  ótima, confesso que esperava alguma polêmica, mas isso não ocorreu.

Laura Barbi: Conte um pouco mais como surgiu a idéia da obra “Entidades”, do artista contemporâneo  indígena Jaider Esbell, realizada em um dos ícones arquitetônicos da capital, o viaduto  Santa Tereza, umas das grandes surpresas do festival, e sobre os ataques sofridos em tempos de  fake news por esse trabalho.

Juliana Flores: Essa obra foi pensada pela curadoria para ser a sensação do festival, para ser uma obra que atraísse olhares e flashes. Queríamos uma obra de fácil assimilação e que fizesse sucesso entre  todas as pessoas, enfim, que fosse uma obra popular.

Então pensamos que a forma de atrair a  atenção da população que circula pelo centro diariamente era conceber uma obra de grande  impacto visual. Para que o artista não precisasse vir a BH por causa da pandemia, também consideramos uma obra que fosse possível de ser feita a distância (posteriormente, por decisão de Jaider, ele veio a BH para ser o assistente de pintura da Daiara).

Chegamos então no suporte  do inflável. Na hora de pensar o local, chegamos a considerar a Praça da Estação e o prédio do  Museu de Artes e Ofício. Mas quando veio a ideia do Viaduto sabíamos que tinha que ser lá. Chegamos a ponderar a dificuldade de autorizar a instalação por ser tratar de local tombado e também os custos da ação (teríamos que colocar um segurança 24h, por exemplo), mas o CURA  gosta de desafios e de surpreender.

Seguimos adiante e por fim foi uma execução/produção relativamente fácil. Interessante pensar que quando convidamos o Jaider tínhamos em mente as cobras, mas como sempre não “brifamos” o artista ou encomendamos a obra, fizemos o convite ao Jaider como fazemos aos artistas das empenas: a linguagem é essa, no caso escultura inflável, e o local é esse, os Arcos. Na reunião para discutir a instalação, quando mostramos as fotos dos arcos, imediatamente o Jaider disse: já sei, vou fazer duas cobras grandes. E na hora já  rascunhou como imaginava a escultura. Foi algo mágico!

Jaider sempre fala que foi o universo que nos colocou juntos nessa edição, não só nós da curadoria e ele, mas todos os artistas. A  gente curte bem esse mistério e essa forma de enxergar a vida. Foi um processo bem lindo.  E quando colocamos as cobras e acordamos, a imagem já corria nas redes. Foi um sucesso. Viralizou!

Foi além do esperado. E a gente brinca que o auge do viral é virar fake news.  Enxergamos com bom humor e não nos preocupamos com os ataques à obra porque nossa produção estava preparada para garantir a segurança, mas confesso que lamentamos o cenário geral de ódio, de racismo e preconceito. Mas não é algo que atinge só ao CURA, mas o mundo  todo.

Laura Barbi: Parte do conteúdo/ações paralelas, que em outras edições foi presencial, teve que ser adaptada para o contexto de distanciamento social. Como se deu essa transição para o formato digital e quais as dificuldades e os benefícios desse novo formato? É um formato híbrido que veio para ficar?

Juliana Flores: Essa transição para o mundo virtual foi bem óbvia. Todo mundo fez isso muito antes de nós, apenas seguimos esse fluxo. A vantagem é que por ser uma programação online, pudemos pensar em convidados do mundo todo, algo improvável para a programação presencial por conta dos  custos de passagem e hospedagem.

Tentamos muito trazer a Grada Kilomba, por exemplo, que adora o festival mas estava super ocupada. A Cristiana Tejo participou lá de Lisboa. Tivemos o Aílton encerrando a programação, enfim, foi muito interessante poder conceber a programação sem limite territorial. E sim, acho que o formato híbrido veio para ficar não só pro CURA, mas para  todos os festivais. A pandemia só acelerou esse processo. Não imagino mais realizar um debate presencial sem a transmissão pela internet.

Laura Barbi: Em adição ao festival em si, o Cura, e a Pública, atua com grande relevância na formação de novos artistas em um trabalho educativo não menos significativo.

Juliana Flores: O CURA tem esse norte, trazer jovens artistas, artistas que ainda não pintaram grandes murais,  treinar artistas jovens para serem assistentes de pintura para dominarem técnicas e depois eles terem condições de assinarem seus trabalhos. O CURA já deu curso NR25 para mais de 70 pessoas, o que é uma qualificação necessária para trabalhar em altura. Também já fizemos uma  residência artística e temos muito interesse em repetir essa ação. A própria feira de arte que sempre fizemos em parceria com a Fluxo fez com que artistas que nunca tinham pintado em um  suporte “comercializável” fizessem – e vendessem – uma obra pela primeira vez.

A Pública ainda está engatinhando, mas sempre tem como norte trabalhar com jovens artistas,  mas isso não é uma regra. Tenho muitos desejos e projetos, espero fomentar muito mais não só a formação mas o reconhecimento de novos artistas, mas ainda fizemos pouco mas temos paciência e sei que esse caminho é lento.

Laura Barbi: O Cura terminou a edição de 2020 com os títulos de “Maior empena já pintada por uma artista  indígena (2020)”; “1ª escultura/instalação de arte por um artista indígena em BH” (2020);  “Maior empena pintada na América Latina (2017/2020)”, “Maior empena pintada por uma  artista mulher (2017)”; “1º mirante de street art do mundo (2017)”, além dos já citados  “Maior Festival de Arte Urbana de MG” e “Maior coleção de arte mural em grande escala  feita por um único festival brasileiro”. Vocês tinham alguma ideia em 2016 que alcançariam  esse mérito?

Juliana Flores: É até uma piada interna nossa essa “mania” do CURA de querer esses títulos de maior, único, primeiro etc. Acho que tem muito a ver com esse pioneirismo, querer quebrar as regras, mudar as estruturas, pensar no futuro.

Mas quando começamos a conceber o festival, a gente tinha a intenção de pintar muito grande para chamar atenção, para nós tamanho também era importante, não só a qualidade artística ou o protagonismo feminino (depois ampliamos para outros  protagonismos).

Estávamos pesquisando festivais de arte urbana mundo afora e sabíamos que BH tinha as maiores empenas do mundo e poderia ser um festival que chamasse atenção por  seus murais gigantes, por isso a opção de pintar o centro, onde tem essas “telas” gigantes.

A  ideia do mirante de arte pública veio também não só para aproveitar a geografia da cidade e criar um espaço de contemplação e fruição artística – porque normalmente a arte urbana interrompe o cotidiano, mas dificilmente nos convida a parar e apreciar – mas também para tornar o festival  singular: nas nossas pesquisas não tinha nenhum outro festival no mundo que criou um espaço  de contemplação das obras onde de um único ponto é possível apreciar o conjunto de murais  realizados por um único festival.

E sendo bem sincera, acho que em 2016 tínhamos alguma ideia do que alcançaríamos hahaha. Confesso até que não chegamos perto do que sonhamos lá atrás. A gente sempre brinca que quando as crianças estiverem maiores e essa pandemia passar, vamos dominar o mundo!

Laura Barbi: Para a surpresa de todos, em janeiro deste ano, o Cura foi investigado criminalmente em inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais pelo mural “Deus é Mãe”, do artista Robinho Santana, devido à sua moldura em caligrafia do pixo. Nos conte um pouco sobre como se deu esse processo e a importância de se afirmar e lutar sempre pela liberdade de expressão dos artistas e da arte.

Juliana Flores: Esse episódio foi triste demais. Uma violência mesmo sofrida pelos artistas e pelo CURA. Uma tentativa clara de criminalizar os artistas periféricos e o festival. A empena do edifício Itamaraty, que recebeu a obra “Deus é mãe”, tinha sido pichada no início de 2020 e na época o síndico solicitou na Polícia Civil uma investigação para encontrar os responsáveis pelo pixo.

Não tínhamos qualquer conhecimento desta investigação quando chamamos o Robinho para pintar esta empena. No convite, explicamos para ele que é de praxe quando selecionamos uma empena que já tem pixo, o festival entrar em contato com os pichadores para avisá-los da pintura e convidá-los a propor uma nova intervenção junto com o artista convidado. É um caminho que encontramos para demonstrar nosso respeito com essa estética importantíssima para arte urbana brasileira e também com a cultura de rua e artistas que ocuparam lugares quando nem sonhávamos em ocupar.

Foi a terceira vez no festival que rolou isso de chamar a galera do pixo pra colaborar com os artistas convidados. Pedimos um amigo para nos ajudar a entrar em contato com os meninos, marcamos uma reunião com o Robinho e ficou combinada a intervenção. Claro que tudo com autorização.

No contrato que assinamos com o condomínio, não mostramos layout da obra a ser pintada. Ou seja: garantimos por contrato a liberdade artística. Também não mostramos layout para a Diretoria de Patrimônio, órgão responsável por autorizar as pinturas. Apresentamos apenas os artistas convidados e o portfólio. Tínhamos todos os contratos, seguros, licenças e documentos necessários para realizar a pintura do Robinho em colaboração com Poter, Lmb, Bani, Tek e Zoto.

Logo após o festival ser realizado, em outubro de 2020, fomos incluídas criminalmente no inquérito como co-autoras do crime de pixo. De novo, não tínhamos conhecimento desse inquérito. Em dezembro, cinco dias após minha filha nascer, recebi na minha casa a intimação para depor. Pedi a Jana que fosse no meu lugar junto com nosso advogado. Chegando lá descobrimos, ao acessar o inquérito, que na verdade estávamos sendo investigadas!

Na hora não nos preocupamos, achamos que era algum mal entendido, entregamos toda a documentação que comprova a legalidade da pintura e esquecemos esse assunto, fomos descansar. Em janeiro de 2021, um dos nossos patrocinadores me procurou dizendo que também foi intimado a depor. Descobrimos que mesmo com a documentação em mãos, o delegado preferiu seguir com o inquérito e tentou nos intimidar ao interrogar nossos patrocinadores sugerindo que eles estavam financiando atividade criminosa. Um escândalo.

Decidimos não ficar em silêncio diante da tentativa de intimidar e criminalizar o CURA. Além de solicitar a retirada do festival do inquérito, partimos para uma disputa de narrativas, com uma estratégia de comunicação nas nossas redes e com assessoria de imprensa. Viramos notícia no Brasil. Nas redes sociais, nunca tivemos uma repercussão tão grande. Nosso post tornando pública essa história foi disparado o post mais curtido e comentado, nem durante o festival tivemos um engajamento tão grande.

Relatório da empresa de clipping que contratamos mostra que o CURA gerou mais buzz na mídia com a defesa da liberdade artística do que durante o festival. Tivemos mais de 100 notícias durante esse período (20/01 a 20/02), valoramos o clipping e deu mais de R$ 4 milhões em mídia. Em março deste ano, como a gente já esperava, o Ministério Público deu parecer pelo arquivamento do inquérito e o juiz decidiu pelo arquivamento. Na paralela seguimos oferecendo apoio legal aos meninos do pixo.

Laura Barbi: Parafraseando o curador Hans Ulrich Obrist faz em suas séries de entrevistas  a artistas, arquitetos e curadores: Qual projeto ainda pretende realizar nas próximas edições? Algum artista que vocês gostariam de convidar? O que podemos esperar do Festival Cura  2021?

Juliana Flores: A gente nunca curte dar “spoiler” do que estamos preparando para a próxima edição. Mas posso adiantar que em 2021 vamos mudar de local e criar uma nova visada de arte em BH . Também queremos propor obras de arte pública em diferentes suportes e linguagens e convidar outras curadoras para trabalhar conosco. A previsão é que o CURA aconteça em outubro.

Sobre artistas que queremos trazer, sempre estamos abertas para as discussões que nos guiam quando estamos criando a nova edição, afinal são centenas de artistas que admiramos e desejamos trabalhar. Mas claro que existe um  desejo de ter em BH obras de alguns gigantes da arte urbana do mundo como Os Gêmeos, Aryz e Blu. Quem sabe um dia?

* Juliana Flores é uma das três “meninas do CURA”. Formada em jornalismo pela PUC Minas  (2007), trabalhou com telejornalismo na Rede Minas, fundou a editora Aletria com sua mãe e sócia Rosana Mont’Alverne (2009), trabalhando como coordenadora editorial e gestora de  projetos literários. Em 2017 fundou a Pública Agência de Arte com Janaina Macruz, onde desenvolve outros projetos de arte pública. Paralelamente administra a carreira do pintor mineiro  e seu marido Thiago Mazza. É mãe do José, de 3 anos, da Rita, de 3 meses e do Francisco, seu 1º filho, que já virou anjinho.



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Laura Barbi

É curadora, produtora executiva, arquiteta e designer gráfica. Pesquisadora em arte contemporânea, identidade cultural, diplomacia cultural e mercado das artes. Laura curou e produziu exposições e eventos culturais no Reino Unido e no Brasil. Entre 2008 e 2015, trabalhou como gerente de projetos/produtora executiva na Embaixada do Brasil em Londres. Possui mestrado em design gráfico (University of Arts London) e é doutoranda em artes visuais (EAU-UFMG). É cofundadora da CULCO - Cultural Constellation, uma rede global que reúne 32 trabalhadores da cultura presente em 15 países. Laura é editora de artes visuais do Jornal Letras. Em outubro de 2017, fundou a GAL Arte e Pesquisa, projeto de arte contemporânea que visa proporcionar novos contextos de fruição, participação, criação, crítica e consumo de arte, ocupando espaços vazios dentro das cidades com exposições temporárias e acontecimentos gratuitos.

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