A economia mundial segue um caminho de concentração cada vez maior da renda e de aumento da desigualdade, como alerta o relatório da rede de organizações não-governamentais Oxfam, apresentado no dia 20 de janeiro, às vésperas do Fórum Econômico de Davos.
Segundo a entidade, o número de bilionários no mundo dobrou em dez anos. São cerca de 2 mil pessoas hoje que concentram juntas uma renda superior à soma dos recursos de 60% da população mundial, ou 4,6 bilhões de pessoas.
A Oxfam chama o fenômeno de crise global da desigualdade e defende uma mudança a partir da ação de governos para construir “uma economia humana que seja feminista e que valorize o que realmente importa para a sociedade, em vez de promover uma busca interminável pelo lucro e pela riqueza”.
Como formas de reduzir essa desigualdade, a Oxfam recomenda o investimento em serviços públicos gratuitos e em sistemas de proteção social, maior tributação sobre a riqueza e a proteção de direitos dos trabalhadores, principalmente das chamadas cuidadoras.
O documento destaca a importância de se olhar para o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago. Esse trabalho inclui o cuidado de crianças, idosos e de pessoas portadoras de doenças ou deficiência, além do trabalho doméstico.
Segundo a Oxfam, mulheres e meninas dedicam gratuitamente 12,5 bilhões de horas todos os dias para esse tipo de trabalho ao redor do mundo. Se fossem remuneradas, o valor agregado à economia seria de pelo menos 10,8 trilhões de dólares por ano, segundo estimativa da entidade.
Caso a riqueza do 1% mais rico do mundo fosse taxada em mais 0,5% nos próximos dez anos, a Oxfam calcula que seriam arrecadados recursos suficientes para gerar 117 milhões de empregos em “educação, saúde e assistência a idosos e outros setores, e eliminar déficits de atendimento”.
A desigualdade como freio do desenvolvimento
No mesmo dia do relatório da Oxfam, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou novas projeções para a economia mundial e elevou a expectativa de crescimento do PIB brasileiro em 2020 de 2% para 2,2%.
A diretora do departamento de pesquisa do FMI, Gita Gopinath, atribuiu a revisão positiva sobre a economia do Brasil à reforma da Previdência e às “significativas” quedas nas taxas de juros, conforme noticiou o Valor Econômico.
O órgão internacional olha com preocupação o nível de endividamento do Brasil e recomenda que o País adote mais reformas fiscais, incluindo a revisão dos salários do setor público.
O corte de gastos públicos é, no entanto, um dos principais fatores que agravam a crise da desigualdade, segundo a Oxfam. E o Brasil já é um dos países mais desiguais do mundo, com 10% mais ricos concentrando cerca de 42% da renda total do País.
O aumento da desigualdade, por sua vez, atinge em cheio o desenvolvimento do País, como apontado recentemente pela ONU. Apesar do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil ser elevado, quando ajustado pela desigualdade, ele cai 24,5% e passa a ser classificado como médio. É um ciclo perverso.
Segundo estudo divulgado pelo Fórum Econômico Mundial sobre mobilidade social, haveria um ganho de até 4,4% no PIB global caso as economias dessem oportunidades mais igualitárias a seus cidadãos. Neste ranking de mobilidade social, o Brasil ocupa apenas a 60ª posição entre 82 nações.
Importante lembrar que o País tem adotado políticas de austeridade ao menos desde 2015, e a recuperação econômica tem tardado a vir, enquanto a extrema pobreza aumenta na sociedade.
Um projeto econômico para o País não pode dissociar a saúde das finanças públicas do desenvolvimento social e produtivo. No caminho atual, o crescimento do PIB brasileiro tende a refletir pouco na melhoria de vida da sua população.
Por Samantha Maia
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