Eu tenho uma amiga que, segundo todos, tem o “dedinho podre” para homem. Já se relacionou com todo tipo de cretino na vida, e rejeitou outros que, teoricamente, teriam muita a oferecer. Mas, como disse alguém mais sábio, o amor tem razões que a própria razão desconhece.

Ela me lembra Lula e o PT escolhendo ministros do Supremo.

Mas a performance de Zanin tem uma coisa muito boa: me permite bater no peito e dizer: EU AVISEI!

Tem outra coisa positiva: demonstra cabalmente que Janja não apita nada no governo, apesar do que dizem por aí. Ela não deixaria Lula ser tão burro.

A CPMI do 8 de Janeiro, organizada pela oposição, é das coisas mais divertidas que temos visto: um deputado nos informa que os patriotas presos são injustiçados. Velhinhas tementes a Deus, bons vovôs, tudo gente pacata. MAS… Culpam o governo federal, especialmente Flavio Dino, pela quebradeira criminosa nos 3 Poderes. Um argumento esquizofrênico, como se vê.

-O ministro Flavio Dino prevaricou! Não impediu essa pacata senhora, presa injustamente, de quebrar o Congresso, fazer cocô no lobby e se limpar com o original da Constituição e a mantém presa sem motivo.

Convocam o “hacker” para depor. A oposição vocifera, não se pode ouvir um criminoso! Mas quem primeiro quis ouvi-lo foi seu mito… Ou seja: contratar um bandido pode, não pode é botá-lo para testemunhar. E temos um fenômeno típico dos dias de hoje: um deputado, eleito sabe Deus como, que só aparece para fazer papel de palhaço. Não digo seu nome para não aumentar sua popularidade, pois aquele deserto de ideias e raciocínio tem uma claque que praticamente garante sua reeleição. Os idiotas têm isso em comum: são unidos. Quem pensa tem o péssimo hábito de contrapor, de ponderar. Os imbecis são felizes, mugem sua falta de senso com unção.

 

Mas temos OUTRA CPI: a do MST! Essa é disparado a melhor de todas. Convenhamos, CPIs são apenas uma forma de deputados e senadores selecionarem lacrações para as redes sociais e garantirem suas reeleições. Não se apura nada, e quando se apura, nada acontece. Mas são divertidas. O relator desta Comissão é o nobelérrimo Ricardo Salles. Sim, aquele que queria “passar a boiada” aproveitando as milhares de mortes da pandemia. Ele e o presidente da dita, uma criatura estranha cujo nome não consigo guardar – e que não vale a pena procurar – não se cansam de ser esculhambados pela deputada Sâmia Bonfim e suas colegas. Chega a dar pena, aqueles senhores sérios, com jeito de gente rica, fazendo cara de paisagem ouvindo as ironias da parlamentar – isso, quando as entendem. Geralmente nem isso conseguem. Imagino uma conversa entre eles:

-Então, a deputada até que pegou leve com a gente…

-Verdade, achei que ela ia nos ofender.

Passa um deputado um tantinho menos tapado:

-Mas ela chamou vocês de burros!

-Uai…

É uma humilhação atrás da outra. Com o Stedile, eles pareciam o Monark, só diziam sandices e eram rebatidos com total elegância. Aliás, acho que precisamos falar sobre o Monark:

 

Seu ex-companheiro de Flow, o Igor 3K, ponderou:

-Todo mundo chama o Monark de burro. Será que não conseguiriam vencê-lo nas ideias? Precisam calar a boca dele?

E tem uma certa razão. A saga do ciclista começa quando ele defende a POSSIBILIDADE de criação do partido nazista. Ele sabe que nos EUA pode, então, como todo jovem alienado, acha que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Até então era apenas um cara bobinho com uma certa repercussão. Um sujeito decente, distribuía os lucros do canal – que eram bem grandes – com os funcionários e contratados, um cara do bem. Ao dizer o que disse, o mundo caiu sobre sua cabeça. Bastava fazerem como a comunidade judaica (que, diga-se, em boa parte aplaudiu Bolsonaro…), que o procurou e esclareceu as coisas. Ele se desculpou, mas a sanha canceladora não o deixou em paz. Foi BEM perseguido, perdeu o que tinha, e foi ficando cada vez mais isolado. Quem o acolheu? A extrema direita. Ora bolas, o cara não é um intelectual, é destruído pela dita esquerda e acolhido pelos fascistas, é evidente que ele se bandearia para aquele lado, e foi num crescendo. E note-se que as críticas que ele faz ao Xandão são exatamente o simétrico do que fazemos todos os dias sobre Nunes Marques e André Mendonça. Mas nós podemos. Ele, não. Então a veia autoritária do Morais acabou por enterrar a vida do cara.

Um de meus autores favoritos, Giovanni Guareschi, escreveu a série Don Camilo, um padre italiano do pós-guerra que vive às turras com o prefeito comunista, Peppone. Ele conversa com o Cristo de madeira de seu altar e este, eventualmente, responde. Um dia, ele desabafa ao crucificado, dizendo que não aguentava mais determinada situação, e que queria que todos se danassem. O Cristo respondeu:

-Don Camilo, com que facilidade dás de presente as ovelhas de teu rebanho!

É isso. Cada um conta. Precisamos acolher. Nós podíamos tê-lo trazido para nós, preferimos lacrar. Acabamos entregando uma ovelha burrinha para os lobos, que vão usá-la para se exibir para as demais ovelhas burrinhas.

 

PS: Escrevo minha coluna, geralmente, perto do dia 25 ou 26, e entrego no último dia do mês. Por azar – ou sorte – viajei e esqueci de enviar, só podendo fazê-lo no dia 4, segunda-feira. Como faço toda segunda, comecei o dia assistindo ao Greg News no Youtube. E arranquei os cabelos: os primeiros 10 minutos do programa eram quase que exatamente o que eu havia escrito aqui. Resolvi alterar tudo, mas também resolvi não jogar fora o que havia escrito. Segue, pois, uma parte do trecho que alterei. E assista ao Greg News!

 

-Alô, Janja? É o Mito, rá rá! Chama o Nine aí, eu sei que aquele retóga… Regrótado… Retrógar… Aquele velho não usa celular.

Fala, presidiário! Estou ligando para te pedir um favorzinho, de amigo, tá ok? indica um adevogado para mim. Você é bom nisso, só escolhe gente que defende a família e os bons costumes! Mas quero um melhorzinho que o Zanin, afinal ele perdeu todas. Mas é dos nossos!

 

A atuação de Zanin até agora no Supremo nos faz crer que ele ficaria, de fato, mais confortável defendendo Bolsonaro que Lula. O cara está à direita do Nunes Marques! Conta a mitologia que Cassandra – não confundir com a sogra de Caco Antibes (Viva Aracy Balabanian!)- era conhecida pelas profecias acertadas, mas nas quais ninguém acreditava. Seu único consolo era poder dizer, assim como faço agora: EU AVISEI!

Ricardo Dias

Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.