Por Zhang Lirong, Secretário-Geral do China Forum
Nós do China Fórum (CF) estamos muito felizes por termos tido uma conferência virtual bem sucedida com o IREE no último mês de junho, com o apoio da Embaixada Chinesa em Brasília, e pela posterior parceria formada entre o CF e o IREE. A conferência se concentrou na responsabilidade dos partidos políticos em um mundo em constante mudança, conferência essa em que participaram presidentes de sete partidos políticos brasileiros, vários cientistas políticos chineses e o embaixador chinês no Brasil. Através da parceria entre o CF e o IREE, nós concordamos em continuar com conferências sobre temas variados e organizar artigos que apresentem a China e o Brasil para os leitores de ambos os países.
Lançado em 2019, o China Forum é uma plataforma permanente do Centro de Segurança e Estratégia (CISS), da Universidade de Tsinghua, chefiada por Fu Ying, que foi vice-ministra chinesa das Relações Exteriores. O trabalho do CF inclui recomendar e apoiar pesquisadores nacionais, ex-oficiais, empresários e especialistas em mídia para participar de fóruns internacionais de alto nível, promover artigos de especialistas para a mídia nacional e internacional, produzir e lançar programas de vídeo e podcast com o objetivo de auxiliar o mundo a conhecer melhor a China.
Quando as pessoas buscam entender a China, é preciso ter alguma noção sobre a história desse país. A China é uma das civilizações mais antigas do mundo com uma história de cerca de 3500 anos de registros escritos. Durante um dos períodos mais prósperos da história, a Dinastia Tang (618-907 d.C.), o PIB da China representou mais da metade do mundo e continuou sendo cerca de um terço do PIB do planeta por volta de 1820. A força nacional da China regrediu em sua história moderna a partir da primeira Guerra do Ópio em 1840. O último imperador foi destronado em 1911, quando declarou-se uma república no país, mas por muitos anos seu povo ainda viveu em maus lençóis devido aos conflitos entre senhores da guerra e da agressão japonesa contra a China, de 1931 a 1945. Depois de muitos anos de lutas árduas e combates liderados pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e o seu presidente Mao Tsé-Tung, uma nova China, a República Popular da China (RPC) foi fundada em 1949. A nova China encerrou a era da sociedade semi-colonial e semi-feudal e o povo chinês pôde se levantar.
Nos primeiros 30 anos, a RPC desfrutou de uma rápida recuperação econômica e de desenvolvimento social, mas também sofreu retrocessos políticos e econômicos culminados durante a Revolução Cultural (1966-1976). Em 1978, a China adotou uma política de reforma e abertura e o país começou a se transformar de uma economia planejada para uma economia de mercado socialista, sob a liderança do Sr. Deng Xiaoping. Durante os 30 anos seguintes, a economia da China teve um desenvolvimento fascinante.
As reformas começaram nas áreas rurais com a implantação do sistema de contratos domiciliares, resultando em maior produção e menor carga de trabalho. A ascensão das Township and Village Enterprises (TVE) reforçou a vitalidade do desenvolvimento rural. Elas reduziram muito os custos e atenderam às necessidades do mercado. As TVEs não apenas se tornaram um apoio relevante ao progresso rural, como também se tornaram uma importante força da economia nacional na época.
Impulsionadas pela reforma rural, as reformas urbanas trouxeram maior autonomia da gestão empresarial e maior vitalidade às empresas, ampliando a economia não-pública e aprofundando a reforma das empresas estatais, de modo a fazer com que o mercado desempenhasse um papel decisivo.
No front externo, a China fez reformas em seu sistema de comércio exterior, abriu-se para a tecnologia estrangeira, para a experiência de gestão e para o investimento direto. A China ingressou na Organização Mundial do Comércio em 2001, se tornando um participante ativo do comércio multilateral e uma força motriz positiva da globalização econômica.
Com o início do século 21, o desenvolvimento econômico e social da China progrediu ainda mais rápido, a taxa de crescimento econômico ficou entre as melhores do mundo, sua economia aberta atingiu um novo nível e o padrão de vida das pessoas foi significativamente melhorado. O PIB da China passou a subir ano após ano. A China superou o Japão e se tornou a segunda maior economia do mundo em 2010.
Nos últimos dez anos, o desenvolvimento e a inovação de alta qualidade têm sido o foco da economia chinesa, ao mesmo tempo em que se mantém o crescimento de média e alta velocidade. O país vem reforçando inúmeras vezes que a inovação é a força motriz inesgotável para a prosperidade nacional. A solução a longo prazo do desenvolvimento de alta qualidade depende das inovações científicas e tecnológicas. Conquistas formidáveis foram feitas na comunicação móvel, na tecnologia ferroviária de alta velocidade, na inteligência artificial, no voo espacial tripulado, na ciência quântica, na supercomputação, e assim por diante. A economia digital teve um rápido crescimento, atingindo 38,6% do PIB em 2020. Ao mesmo tempo, o governo tem atribuído grande importância à resolução dos maiores problemas ambientais e à promoção vigorosa de um desenvolvimento verde. A China comprometeu-se a atingir o pico de sua emissão de CO2 antes do ano de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060.
Nos últimos 72 anos, especialmente nos últimos 40 anos de reformas e aberturas, grandes mudanças ocorreram na China. O país hoje é a segunda maior economia do mundo, com um PIB de mais de 15 trilhões de dólares. É a maior nação em termos de manufatura do mundo. Dentre os 500 principais produtos industriais, a China possui 220 produtos em primeiro lugar no planeta. Sua infraestrutura tem melhorado cada vez mais. A quilometragem ferroviária nacional atingiu cerca de 140 mil quilômetros, incluindo 35 mil quilômetros de ferrovia de alta velocidade. Em termos de quilometragem de via expressa, a China ocupa o primeiro lugar do mundo com quase 150 mil quilômetros. O padrão de vida da população está cada vez melhor. Um total de 700 milhões de pessoas foram retiradas da pobreza no país, com a erradicação da pobreza absoluta de quase 99 milhões de pessoas até o final do ano de 2020, servindo de modelo para o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. O PIB per capita da China aumentou de 27 dólares há 70 anos para cerca de 10 mil dólares em 2020.
Se resumirmos brevemente as experiências do desenvolvimento da China, eis a seguir alguns dos fatores chave. Escolheu a forma de desenvolvimento com base nas condições nacionais, não apenas copiando o sistema político e o modelo de desenvolvimento de outros países. Compreendeu o desenvolvimento como base e chave para resolver todos os problemas. Criou oportunidades de desenvolvimento através da reforma e de aberturas. Otimizou e atualizou a estrutura industrial através de inovação. Aderiu a uma política centrada nas pessoas. Uma liderança e um governo forte são essenciais. As empresas estatais são importantes na economia nacional, mas o papel crescente do setor privado não deve ser negligenciado. A economia não-pública da China representa hoje mais de 60% do PIB, mais de 50% da contribuição fiscal e mais de 80% da contribuição para o emprego.
Tendo demonstrado esse maravilhoso progresso, não devemos ignorar os desafios e dificuldades que a nação enfrenta. A disparidade de desenvolvimento entre as diferentes regiões do país, as dificuldades e os obstáculos de modernização de tecnologias médias para tecnologias de ponta nas cadeias de produção e de suprimentos, o perigo de cair na “armadilha da renda média”, o envelhecimento da população e os desafios e incertezas internacionais são alguns dos desafios que podemos citar.
Olhando para o futuro, de 2020 a 2035, a China quer se empenhar na modernização básica. De 2035 até meados deste século, o alvo é o rejuvenescimento da nação, mantendo-se como um país socialista próspero, forte, democrático e moderno.
Na frente internacional, a China tem defendido ativamente o desenvolvimento pacífico e a cooperação global com o destino de uma comunidade humana com um futuro compartilhado. A China defende que o sistema internacional em vigor deva ser aquele em que as Nações Unidas estejam no centro, a ordem internacional deve ser baseada no direito internacional e as normas básicas das relações internacionais devem ser baseadas nos princípios da Carta das Nações Unidas. O presidente Xi Jinping disse em seu discurso na Assembleia da ONU deste ano que a nação chinesa herdou e continua em busca do conceito de paz e harmonia. Ela não invade e não irá invadir, intimidar ou buscar hegemonia. A China sempre se interessou em trazer a paz mundial, em contribuir para o desenvolvimento global, em defender a ordem internacional e prover bens públicos. A China continuará a oferecer novas oportunidades para o mundo com seu novo desenvolvimento.
Com uma economia em rápida ascensão, sendo ela a maior nação comercial e o maior mercado consumidor, o segundo maior investidor de saída, a taxa de contribuição da China para o crescimento econômico mundial já ultrapassou 30%. A China defende a economia aberta, o livre comércio e a globalização econômica. A nação aderiu à Parceria Econômica Integral Regional (RCEP) no ano passado e acaba de solicitar a adesão à Parceria Transpacífico Abrangente e Progressiva (CPTPP). O presidente Xi Jinping propôs a Iniciativa “Cinturão e Rota” (em inglês, Belt and Road Initiative – BRI), que segue o princípio da construção conjunta por meio de consulta com benefícios compartilhados. Desde que a iniciativa foi apresentada há 8 anos, a BRI já teve resposta de 138 países e 30 organizações internacionais com mais de 200 acordos de cooperação. Como a pandemia do coronavírus tem representado um grande desafio para o mundo todo, a China tem proposto inúmeros esforços conjuntos internacionais para combatê-la. Até agora, o país já forneceu ao mundo um bilhão de doses de vacinas e fornecerá mais um bilhão dentro do próximo ano.
Como primeiro texto, espero que a história e os dados supracitados te ajudem a conhecer melhor a China, especialmente a sua economia. O China Forum gostaria de continuar informando sobre os vários aspectos da China, em particular o desenvolvimento de seu setor manufatureiro e as perspectivas chinesas sobre questões globais.
Texto escrito por Zhang Lirong, Secretário-Geral do China Forum
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