Qual a relevância do bloco no atual contexto mundial? Seria esse o momento de escolha entre ostracismo e liderança para o grupo?
Entre os dias 25 e 27 de julho, a África do Sul irá sediar a 10ª Cúpula dos BRICS, cujas principais temáticas estão voltadas para colaboração e crescimento inclusivo, prosperidade compartilhada e uma chamada nos países participantes para questões de direitos humanos e questões de gênero.
Neste ano, Joanesburgo sai na frente da liderança rotativa do grupo e usa uma estratégia similar a de Xiamen: procura incluir outros países para se alinharem ao BRICS em projetos de cunho econômico e de desenvolvimento social e político.
Chama a atenção o grande número de líderes de países em desenvolvimento, sobretudo africanos, que não fazem parte do bloco, mas que foram convidados para participar da Cúpula, entre eles estão Erdogan da Turquia, Macri da Argentina e pelo menos outros cinco líderes de países africanos.
A iniciativa de integração sul-africana é vista com bons olhos externamente – aumentando o alcance por um projeto em comum, se aumenta a legitimidade do bloco para atuar em causas de desenvolvimento econômico e de livre comércio ao redor do mundo – porém, será que isso basta para o bloco alçar um voo mais alto e conquistar um protagonismo internacional?
Em linhas gerais, e informais, o BRICS surgiu em 2001, ainda como sigla BRIC (na época, a África do Sul não fazia parte). O termo foi cunhado pelo então pesquisador e economista do Goldman Sachs, Jim O’Neil, que na época vislumbrou um novo polo de liderança global para as maiores economias do mundo em desenvolvimento.
O grupo ainda não é formalmente um bloco econômico como a União Europeia e nem uma associação de comércio formal, porém desde 2006 promove reuniões entre corpos diplomáticos desses países. A primeira Cúpula BRIC aconteceu na Rússia em 2009.
É inegável o reconhecimento dos atores de peso que fazem parte desse bloco – que são o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – cujos PIBs somados equivalem a 22% do PIB mundial e suas populações juntas correspondem a quase 50% dos habitantes do planeta.
Em linhas gerais, o BRICS é um bloco de coordenação que não possui, em tese, um mandato formal de condutas em comum – o que se extrai principalmente dessas cúpulas são potenciais projetos e iniciativas para serem levados em outras instâncias.
A grande reflexão deste artigo seria: diante de um cenário mundial de incertezas, gerado por fatores como Trump, casos de protecionismos políticos e comerciais, chegou a vez do BRICS finalmente mostrar pra que veio e assumir papel de liderança internacional levando o mundo para uma nova ordem de governança global? Seria o momento de se destacar a efetividade de parcerias eixo Sul-Sul?
Esse é o momento do BRICS – os países já ressaltaram seus compromissos com uma maior integração em termos institucionais – em 2014, o grupo fundou o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como “Banco dos BRICS”, com sede em Xangai e cujo principal objetivo é financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países do bloco e em outras economias emergentes.
Nas notícias que correm no momento que este artigo será publicado, todos os países parecem compartilhar preocupações em comum, sobretudo, em relação às medidas protecionistas dos Estados Unidos (China e Brasil fortemente afetados comercialmente). Os líderes BRICS afirmam que as decisões unilaterais de Trump ameaçam o crescimento e a prosperidade da economia global.
Apesar de grandes convergências, nem tudo na prática da política é um “mar de rosas” e o BRICS realmente ainda têm um grande caminho por percorrer se quiser aumentar sua influência. Mas será mesmo que os lideres almejam maior sincronia nesse bloco?
Comecemos pelo Brasil – que lá atrás com Celso Amorim foi um dos grandes atores no surgimento do grupo. O país parece ter perdido seu protagonismo, gerando um vácuo dentro dos BRICS. Todos sabemos das crises internas que o Brasil vem sofrendo, isso afeta sua posição internacional (como dito em artigo anterior).
O Brasil está desfalcado, sem importância e estagnado – impressão que só aumentou no governo Michel Temer. O Brasil tem um soft power diplomático exemplar. Se soubesse usá-lo nos momentos certos, poderia ter grande projeção em áreas em que a China não consegue exercer influência.
Nesta próxima cúpula o país busca o estabelecimento de uma rede de parques tecnológicos para maior cooperação cientifica entre os países. Parabéns ao Brasil. É uma excelente iniciativa e bastante convergente para o contexto da chamada 4ª Revolução Industrial.
Porém, volto a última pergunta levantada por aqui. Seria isso o bastante para conseguir realmente o protagonismo global deste bloco e convencer os países a efetivamente atuarem em sincronia?
O grande problema dos BRICS está na distância geográfica entre seus integrantes e na substancial diferença demográfica e econômica que impera entre os seus membros. Políticas e acordos são feitos para saciar os interesses dos seus atores – portanto, um país irá sempre agir em prol do seu interesse próprio antes de tudo.
O fator diferença é um impedimento para os BRICS terem maiores interesses comuns e fortalecerem seus laços. Existe uma teoria em Comércio Exterior que frisa a proximidade geográfica como principal ponto de interseção entre os países, vide Canadá e Estados Unidos – União Europeia e alguns blocos regionais – que se tornaram supranacionais em alguns aspectos como, por exemplo, livre comércio e politica monetária em comum.
Se for para repensar uma nova ordem global, talvez seja o caso de repensar uma nova ordem cartográfica para que os BRICS finalmente consigam agir com o peso que o seu nome traduz.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Maria Antonia De’Carli
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