Por Samantha Maia
As mortes por covid-19 voltaram a crescer no Brasil este ano depois de seis meses com tendência de queda e ultrapassaram 1 mil por dia no começo de fevereiro, marca que não era registrada desde agosto de 2021. Especialistas estimam que o pico desta onda de contágios deve ocorrer por volta da segunda quinzena de fevereiro, o que indica que os números de mortes ainda podem piorar.
A mudança de cenário é causada pela ômicron, uma variante altamente contagiosa que infectou cerca de 3 milhões de brasileiros apenas em janeiro. Para ter uma base de comparação, em março de 2021, um dos momentos de maior agravamento da pandemia no Brasil, aproximadamente 2 milhões de novos casos foram registrados .
Como observado em outros países, o reflexo sobre o número de mortos não tem sido proporcional. Enquanto em março passado 66,6 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil, neste janeiro ocorreram 8 mil óbitos, o que mostra o impacto das vacinas na redução de casos graves da doença. Cientistas ainda estudam se também há alguma característica na variante que contribua com a menor letalidade do vírus. Até o momento, 70% dos brasileiros receberam ao menos duas doses de imunizante contra Covid-19 e 23% receberam dose de reforço.
Características da nova onda da pandemia
O atual quadro da pandemia tem sido caracterizado pelo maior risco de contágio para toda a população e pelo aumento de casos graves entre pessoas com comorbidade, idosos e não vacinados, entre eles as crianças, que começaram a receber imunizantes no Brasil há apenas três semanas.
Como consequência, vimos aumentar o afastamento de trabalhadores por causa da doença, com impacto sobre o funcionamento de fábricas, canteiro de obras, lojas, agências bancárias e cancelamento de voos. Também tem crescido o número de crianças internadas em decorrência da covid-19, muitas delas sem comorbidades anteriores. Segundo especialistas da saúde, os casos aumentam entre as crianças por serem atualmente a faixa etária menos imunizada.
A explosão de casos tem pressionado o sistema de saúde, com diversas cidades e estados enfrentando redução de funcionários disponíveis, falta de insumos, entre eles testes e medicamentos, e lotação em UTIs (unidades de terapia intensiva). De acordo com o Observatório Covid-19 da Fiocruz, 8 das 27 unidades da federação estavam na última semana de janeiro em situação crítica de ocupação de leitos de UTIs.
Novas ações e perspectivas futuras
Apesar da situação alarmante trazida pela alta transmissibilidade da ômicron, houve menos ações dos governos locais para intensificar medidas de isolamento comparado ao período de agravamento da pandemia no começo de 2021. Algumas restrições foram adotadas no sentido de rever a flexibilização para uso de máscara, limitar o tamanho de alguns eventos e exigir comprovante de vacinação para entrada, cancelar ou adiar festas de Carnaval e atrasar o início do ano letivo. Mas parece haver pouca disposição política e menor aceitação da sociedade em se buscar uma redução dos contágios via isolamento social.
Outras ações de prevenção que poderiam ajudar tampouco avançaram no Brasil, como a facilitação de acesso a testes e a distribuição de máscaras de qualidade. O Brasil é um dos países que menos testa no mundo: apenas três brasileiros são testados a cada 100 mil habitantes, enquanto no Reino Unido a taxa é de 2,2 mil testes aplicados para cada 100 mil britânicos.
A gestão das políticas de combate à pandemia também foi muito prejudicada pelo apagão de dados, causado por ataques a sistemas do Ministério da Saúde, que durou mais de um mês e coincidiu com o início da nova onda. A falta de dados confiáveis dificultou a análise do cenário da pandemia e contribuiu para que poucas medidas preventivas fossem adotadas antes das festas de fim de ano.
Apesar da expectativa gerada sobre a menor letalidade desta onda de infecções, o agravamento do cenário mostra que ainda não é possível vislumbrar um fim da pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a ômicron não é considerada uma variante branda, já que tem levado muitas pessoas a óbito e, assim como as outras variantes, pode causar reinfecção. Existe uma hipótese otimista de que a covid-19 venha a evoluir de forma a se tornar sazonal, endêmica, como outros vírus respiratórios. Enquanto isso não acontece, as recomendações continuam a ser prioritariamente uso de máscaras, distanciamento e vacinação.
*Samantha Maia é jornalista e Diretora de Comunicação do IREE
Por Samantha Maia
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