Falar que o Brasil é um país muito pobre e desigual já praticamente se tornou um clichê. É uma verdade que já estamos cansados de ouvir. Geralmente, essa verdade vem acompanhada de uma mentira: “a causa da desigualdade e da pobreza é a falta de políticas públicas sociais e econômicas, e os lucros absurdos dos empresários!”
A realidade é o exato oposto: sobram políticas públicas sociais e econômicas e falta lucro para os empresários.
60% dos trabalhadores brasileiros recebem só um salário mínimo, 937 reais. Por causa das nossas leis trabalhistas – que, apesar do avanço da reforma, continuam atrasadas –, esse trabalhador custa mais de 1.800 reais pro seu empregador. Esse dinheiro poderia ir pro bolso de quem produz, mas vai direto pro governo.
Enquanto isso, juízes e procuradores chegam a ganhar até R$ 200 mil reais por mês. Isso porque o teto constitucional, ou seja, o salário máximo permitido para um funcionário público, é de cerca de 33 mil reais. Ainda assim, mais de 70% dos juízes e procuradores recebem acima desse teto. E esses supersalários são pagos advinha por quem? Exatamente. Aquele trabalhador que tem de sustentar sua família só com um salário mínimo.
A elite do Judiciário ainda conta com auxílio-moradia, carro com motorista, cota de gasolina, auxílio alimentação, de transporte, plano de saúde, pagamento de escola particular para os filhos, dinheiro para a compra de livros e computadores, pagamento de até 5 salários mínimos para quem adota uma criança, extras para quem dá aulas e mais uma infinidade de privilégios. É praticamente um mundo paralelo. Um universo com rios de chocolate, unicórnios voadores e auxílios que dão em
árvore.
Esses privilégios continuam na aposentadoria. Para cada um real pago para um beneficiário do INSS, 8.5 reais são pagos para um funcionário público aposentado. Se quem sustenta o setor público é o trabalhador da iniciativa privada, como esse mesmo trabalhador se aposenta recebendo 8 vezes menos?
Aliás, é justamente o setor público que mais esperneia contra a reforma da previdência. Não é sem motivo: no atual sistema, eles trabalham menos tempo e ganham muito mais do que nós, plebeus da iniciativa privada. Triste é ver que boa parte da população cai nesse estelionato corporativista.
Enquanto o setor público vive nesse mar de rosas, aqueles que trabalham e produzem ardem num inferno burocrático, abrir uma empresa no Brasil leva 119 dias e custa mais de dois mil reais, no Chile, leva só um dia e é de graça. Isso sem falar no fato de que temos o sistema tributário mais caro e complexo do mundo. Empreender no Brasil é praticamente um crime.
Por falar em imposto, os nossos impostos sobre o consumo são uma aberração. O preço de um videogame, por exemplo, é 72% só imposto. Na prática, você está comprando imposto, o videogame vem de brinde. Os mais prejudicados, como sempre, são os mais pobres, que gastam, proporcionalmente, muito mais do seu salário com consumo do que as classes mais altas. Não sobra
dinheiro para investir em poupança, bolsa de valores ou qualquer coisa do tipo.
Em nome de uma suposto “desenvolvimento da indústria nacional”, pagamos impostos altíssimos, curiosamente defendidos por aqueles que dizem se preocupar com a miséria. É gente que defende imposto no Brasil, mas vai pra Miami comprar iPhone pela metade do preço. Seres iluminados que dizem defender a justiça social, mas vivem criando teses e discursos para defender o sistema que faz com que aquele que nasce pobre morra pobre.
A desigualdade e a pobreza no Brasil são causadas pelo governo. O Estado brasileiro é um Robin Hood ao contrário, transfere a renda dos mais pobres para os mais ricos. Enquanto uma casta privilegiada de funcionários públicos e empresários corruptos vivem num paraíso de privilégios, o brasileiro honesto que acorda cedo todos os dias pra trabalhar vive na miséria e é obrigado a pagar a conta.
Está na hora de nós, brasileiros, cobrarmos do governo e do Congresso uma mudança nas prioridades do Brasil. Enquanto nós não cobrarmos uma mudança de postura da nossa classe política, o Brasil vai continuar sendo o país dos privilégios, da burocracia e da corrupção.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Kim Kataguiri
É deputado federal (DEM-SP) e líder do Movimento Brasil Livre (MBL). Foi colunista do IREE até novembro de 2018.
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