Por Samantha Maia
A perda de participação da indústria brasileira na geração de riquezas do país é um dos dados estruturais mais preocupantes no baixo crescimento da economia, alertou o economista Nelson Marconi em sua participação no IREE Diálogos Especial Economia para o Povo.
“A indústria é o setor que mais gera inovação, que tem mais encadeamento com outro setores e cujo aumento de produção proporciona maior ganho de produtividade”, disse o professor da FGV ao justificar a importância do setor.
No evento, realizado no dia 6 de junho, o economista explicou que uma série de erros na política macroeconômica levaram o Brasil ao ciclo recente de baixo crescimento. No centro das falhas está a falta histórica de uma estratégia de desenvolvimento que permitisse à indústria ganhar competitividade e sofisticação.
Indústria fraca e crescimento baixo
“O fato é que estamos crescendo pouco há muito tempo. E por que a gente cresceu tão pouco? Porque o Brasil não tem uma política industrial forte”, disse ele.
Ao analisar o desempenhos de outras economias no mundo nos últimos 60 anos, Marconi explicou que os países que mais conseguiram aproximar a sua renda per capita da dos Estados Unidos, um parâmetro de desenvolvimento, foram os que adotaram uma estratégia nacional de desenvolvimento industrial.
A Coreia do Sul, por exemplo, que tinha uma renda per capita equivalente a 8% da norte-americana nos anos de 1960, chegou a 50% nos dias de hoje. Já o Brasil mantém a mesma proporção que apresentava há 60 anos, com uma renda per capita equivalente a 20% da dos Estados Unidos.
O que a Coreia e outros países que conseguiram avançar nesse índice fizeram de diferente? Segundo Marconi, uma característica comum foi o aumento da participação dos manufaturados nas exportações.
A indústria da Coreia saltou de 10% do PIB nacional nos anos 60 para 28% hoje, período em que os manufaturados passaram de 10% para 90% das exportações do país. No Brasil, a participação da indústria no PIB está em 11%, e o peso dos manufaturados nas exportações, que chegou a 60% no começo dos anos 1990, está hoje em 40%.
Recuperação complexa
Entre as políticas macroeconômicas que mais prejudicaram o desempenho das empresas estão a sobrevalorização do câmbio e os juros altos, combinação mortal para a indústria, segundo o economista.
Marconi mostrou que além do Brasil ter um histórico de grandes níveis de apreciação da moeda, o que permitiu a entrada de importados e o desmonte da cadeia de fornecedores locais, a volatilidade do câmbio e o alto custo de financiamento tiveram forte impacto na decisão de investimento do empresariado.
A complexidade da crise econômica envolve, segundo o professor da FGV, questões conjunturais e estruturais, e por isso nenhuma solução pontual será capaz de reverter o quadro, nem mesmo as prometidas reformas, como a da Previdência e a Tributária.
Papel do Estado
As solução, para Marconi, precisa vir de uma ação anticíclica do Estado, único agente capaz de reativar investimentos. “Para um empresário tomar decisão de investimento, ele olha para a capacidade da demanda absorver a sua produção, e hoje temos uma insuficiência de demanda muito grande com endividamento e desemprego altos.”
O vídeo completo da apresentação pode ser visto aqui.
Nelson Marconi é doutor em economia pela FGV-SP e Massachusetts Institute of Technology. É professor em Administração Pública e Governo na FGV-SP, coordenador do Fórum de Economia da FGV e do CDN, e colaborador externo da Organização Internacional do Trabalho. Desenvolve pesquisas com ênfase em macroeconomia do desenvolvimento, teoria do desenvolvimento econômico e economia do setor público.
IREE Diálogos Especial Economia para o Povo é uma série de encontros organizados pelo IREE com ilustres economistas para debater caminhos para a economia brasileira. Abaixo, a cobertura dos demais encontros.
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