Mark Weisbrot: Biden deve derrotar Trump nas urnas – IREE

Entrevistas

Mark Weisbrot: Biden deve derrotar Trump nas urnas

Por Samantha Maia

A não ser que Donald Trump inicie uma guerra ou consiga interromper o processo de votação pelo correio, Joe Biden muito provavelmente será eleito Presidente dos EUA nas eleições de novembro.

Esta é a opinião do economista e pesquisador norte-americano Mark Weisbrot, Co-Diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington e Ph.D. em economia pela Universidade de Michigan.

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Em entrevista para o IREE, Weisbrot falou sobre a influência do movimento “Black Lives Matter” e da escolha de Kamala Harris como candidata à vice-Presidência pelos democratas nas eleições norte-americanas. Segundo ele, o grande erro de Trump foi não apelar para eleitores fora de sua base dura.

“Uma vez no poder, Trump pôde usar a Presidência – e apelos racistas que foram além das normas republicanas dos últimos 50 anos – para consolidar uma base política, mas não para expandi-la”, diz Weisbrot.

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Confira a seguir a entrevista completa

Os protestos nos EUA motivados pela morte de George Floyd chegaram a Washington com manifestações por justiça racial. O movimento “Black Lives Matter” deve influenciar as eleições americanas? 

Mark Weisbrot: A mobilização em massa do movimento pelas Vidas Negras desde a morte policial de George Floyd pode ter sido, de acordo com uma revisão dos dados da pesquisa do New York Times, o maior movimento de protesto da história dos EUA, com entre 15 e 25 milhões de participantes.

Isto produziu uma mudança de consciência para milhões de pessoas aqui, e é quase certo que produzirá mudanças políticas significativas nos próximos anos. Parte do impacto já se reflete nos principais veículos de comunicação e nas pesquisas de opinião pública, assim como em algumas reformas policiais em nível local, estadual e federal. E sem dúvida influenciará as eleições de novembro também.

O movimento Occupy, que começou em 2011, era apenas uma fração do tamanho deste movimento de protesto, mas mesmo assim estimulou uma mudança bastante significativa no debate político dos EUA. Pela primeira vez em décadas, e talvez mais do que em qualquer outro momento desde a década de 1930, a desigualdade de renda tornou-se uma questão importante na política dos EUA.

É muito cedo para dizer quantas mudanças virão do movimento de protesto dos últimos três meses e o quanto esta mudança influenciará as eleições de novembro, que vêm pouco mais de 5 meses desde o início dos protestos.

Mas há bons motivos para acreditar que o impacto será significativo, especialmente porque a tendência de registro e de participação de eleitores  jovens e de outros grupos demográficos que tendem a votar nos democratas está em ascensão, o que deu aos democratas uma vantagem substancial em 2018 – uma eleição que teve recordes de participação de eleitores em pelo menos 40 anos.

 

O candidato democrata à eleição presidencial dos EUA, Joe Biden, anunciou a senadora da Califórnia, Kamala Harris, como sua candidata à vice-Presidência. O que esta escolha representa e que impacto pode ter nas eleições?

Mark Weisbrot: Para Biden, foi uma escolha segura. Eles conseguiram fazer história, pois Harris será a primeira mulher afro-americana e sul-asiática a ser candidata à vice-Presidência de um grande partido político dos EUA. Ela dá à base do Partido Democrata um símbolo da diversidade que eles gostariam de trazer para seu partido e para a liderança do país.

Ela é centrista, como Biden, o que a liderança do partido – incluindo Biden – prefere. Por outro lado, a base do partido tem se movido para a esquerda nos últimos anos, forçando o Partido Democrata a adotar grande parte do programa do senador Bernie Sanders – salário mínimo de 15 dólares, universidades gratuitas, “a saúde como um direito humano”, alívio da dívida estudantil, a luta contra a plutocracia e a desigualdade – como seu próprio, embora Sanders não tenha conseguido ganhar a nomeação presidencial.

Mas os dados indicam que quase todas as pessoas que apoiaram Bernie nas primárias apoiarão Biden e Harris contra Trump. Não está claro o quanto a escolha de Harris afetará o resultado da eleição, mas o mais provável é que ajude os votos nos democratas.

Mark Weisbrot,

Mark Weisbrot, Co-Diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington

Biden aparece como favorito nas pesquisas. É possível dizer que o resultado da eleição já está definido? Quais suas previsões ?

Mark Weisbrot: Biden muito provavelmente derrotará Trump, o que possivelmente inspirará as maiores celebrações de rua nos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial. Trump é odiado pela maioria do país, por razões óbvias, e também pela maioria dos principais meios de comunicação.

Para ser justo, mesmo um presidente normal teria dificuldade em ser reeleito diante da pior crise econômica desde a Grande Depressão e de uma pandemia que está matando mais de 1000 pessoas por dia e que não tem um fim claro à vista, embora a má gestão da pandemia por parte de Trump também coloque muita responsabilidade sobre ele.

O fenômeno Trump é amplamente mal compreendido em todo o espectro político. Ao contrário da ascensão dos presidentes Richard Nixon e Ronald Reagan, que englobou um grande retrocesso contra os movimentos sociais dos anos 60 e 70, Trump chegou ao poder numa época em que o retrocesso da direita já havia ultrapassado seu pico, e o país estava caminhando em direção à esquerda, com os democratas assumindo a Câmara dos Deputados em 2006 e a Presidência em 2008. A campanha presidencial de Obama foi na verdade um movimento de massa, e as campanhas de Bernie Sanders, ainda mais.

Uma vez no poder, Trump pôde usar a Presidência – e apelos racistas que foram além das normas republicanas dos últimos 50 anos – para consolidar uma base política, mas não para expandi-la. De fato, ao contrário de quase qualquer chefe de Estado de qualquer país – mesmo ditadores reais – Trump não tentou nem mesmo apelar para eleitores fora de sua base dura.

 

Quais são as chances de Trump para a reeleição?

Mark Weisbrot: Sua melhor chance de reeleição é interromper o processo de votação pelo correio. De acordo com os dados da pesquisa, cerca de 62% dos democratas, mas apenas 24% dos republicanos, planejam votar pelo correio. Um grande aumento devido à pandemia, mas com uma enorme divisão partidária.

Os ataques aos correios por parte do doador republicano que dirige a organização, apoiado por Trump, começaram, mas os democratas no Congresso e grande parte do público estão resistindo.

A outra possibilidade de Trump seria iniciar uma guerra no momento certo em outubro. O presidente normalmente recebe um impulso temporário, mas grande, nas pesquisas de opinião nos EUA com o início de uma guerra. Não está claro se ele obteria o nível normal de apoio da mídia, ou mesmo se o exército ou o “estado de segurança nacional” alinharia com isso. Mas é um caminho possível para a reeleição.



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