Laura Carvalho: Por uma nova agenda econômica – IREE

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Laura Carvalho: Por uma nova agenda econômica

Para enfrentar a crise econômica, é urgente pensar uma agenda que combine crescimento com distribuição de renda, defendeu a economista Laura Carvalho em sua apresentação no IREE Diálogos Especial – Economia para o Povo, no dia 11 de setembro de 2019.

Segundo a professora da USP, houve a sensação de que o país caminhava para isso no período de 2006 a 2010, mas o modelo se mostrou insustentável no longo prazo.

“A realidade é que não tem tantos casos de países que conseguiram combinar crescimento com distribuição de renda, mantendo estabilidade da dívida pública, controle da inflação, sustentabilidade ambiental.”

Nova agenda econômica

Laura Carvalho propõe uma nova agenda econômica com três pilares: 1. uma reforma do regime fiscal, que permita ao Estado aumentar sua dívida para investimentos que gerem retorno, como infraestrutura; 2. uma reforma tributária que permita arrecadar o necessário para manter os serviços essenciais, com justiça fiscal; e 3. uma política de desenvolvimento de produto competitivo em tecnologia. 

Para a reforma do regime fiscal, a economista defende que é possível buscar inspirações em modelos adotados na Europa. “Para que o Estado funcione como motor do crescimento, é evidente que não pode ter as mãos atadas por um teto. Há países que excluem investimentos públicos de alto retorno do cálculo da dívida pública em relação ao PIB, por exemplo”, explica.

No caso da reforma tributária, Laura defende que seja feita uma discussão sobre qual a carga total desejada e necessária para manter os serviços essenciais como educação e saúde gratuitas e universais. “Esse debate está interditado. A gente não pode querer serviços suecos com carga tributária da Guiné Equatorial. E quando falamos sobre problemas nos serviços, não é só uma questão de desperdício e má gestão, mas também insuficiência de investimentos”, afirmou.

Ainda sobre a questão tributária, a economista destacou que é importante também debater a simplificação do sistema atual e o seu caráter concentrador de renda. “Iniciar a discussão pela simplificação, como a proposta que está no Congresso, é importante, mas é preciso complementar repensando o caráter desigual da tributação.”

Por fim, para uma política de desenvolvimento de produto competitivo em tecnologia, o desafio é pensar os setores em que o Brasil pode se diferenciar no mundo. “A ideia de missões sociais desenvolvida por Pedro Rossi e Guilherme Mello, da Unicamp, é interessante por colocar demandas sociais como vetor de desenvolvimento de produtos.”

Lições e desafios

Em sua apresentação, a economista também realizou uma ampla análise sobre os períodos mais recentes da economia brasileira como forma de avaliar erros e acertos das políticas adotadas. 

“Para apresentar soluções, é preciso olhar os acertos e os erros que explicam o processo de crescimento mais acelerado dos anos 2000, que foram sucedidos por uma desaceleração, entre 2011 e 2014, posteriormente por uma recessão e agora pela estagnação que tende a continuar por alguns anos”, disse.

No caso do período de 2006 a 2010, a economista destacou os estímulos dados no período a políticas redistributivas, ao crescimento do salário mínimo e ao acesso ao crédito, além da expansão dos investimentos públicos em infraestrutura física e social. 

No entanto, o desenvolvimento produtivo daqueles anos ficou concentrado em serviços e construção civil, setores que empregam mão de obra menos qualificada e que não competem com o mercado externo. Isso não permitiu desenvolver aqui uma estrutura produtiva competitiva internacionalmente, nem dar oportunidade para a mão de obra mais qualificada. 

“É importante olhar essa questão, porque isso não responde a desafios de longo prazo e a necessidade da gente desenvolver a indústria no país”, disse Laura.

Por outro lado, uma importante lição deixada por esse período, segundo a economista, é de que é possível crescer com base no mercado interno.

“Como um país continental, nós temos sim oportunidade de crescer com base no mercado interno. Isso é uma das lições que a gente deve aproveitar em qualquer agenda futura”, disse. 

Confira a apresentação completa no vídeo abaixo

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