IREE e Paris Lumière debatem desafios da democracia – IREE

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IREE e Paris Lumière debatem desafios da democracia

O IREE e a Université Paris Lumière assinaram um convênio de cooperação em cerimônia em São Paulo no dia 10 de abril de 2023. A assinatura foi realizada pela Presidente da Université Paris Lumière, Fabienne Brugère, pelo Presidente do IREE, Walfrido Warde, e pelo Diretor do IREE Rafael Valim.

assinatura convenio iree paris limuere

“Temos a honra de assinar um acordo para avançar ainda mais a tradição de cooperação cultural entre Brasil e França. Hoje se materializa a confiança, que se transmite ao IREE, da Université Paris Lumière, uma das mais importantes instituições de pensamento, de pesquisa e instrumento da coordenação de uma série de aparelhos culturais do Estado francês”, disse Walfrido Warde em sua fala de abertura.

Fabienne Brugère agradeceu as palavras e a confiança depositada na instituição. “Agradeço toda a confiança na Paris Lumière e nas relações entre a França e o Brasil, e a perspectiva da construção de um futuro”, disse a filósofa.

Apresentação do livro “A ética do cuidado”

Jose Socrates

A cerimônia seguiu com o lançamento do livro “Ética do Cuidado”, de Fabienne Brugère, que contou com a apresentação do ex-Primeiro Ministro de Portugal José Sócrates. Publicado no Brasil pela Editora Contracorrente, com tradução de Ercilene Vita, a obra propõe uma ousada revolução teórico-prática em que a atenção para com os outros e a responsabilidade social dos indivíduos e do Estado assumem o protagonismo, de modo que todas as formas de vulnerabilidade – dos migrantes à natureza, das mulheres às pessoas com deficiência, dos condenados pela justiça aos idosos – possam ser devidamente cuidadas.

“Esse livro fala de uma ética da atenção aos outros, da proximidade, da solicitude, que não precisa de nenhum princípio geral, de nenhum valor dedutível de um esforço lógico e abstrato para se saber o que se deve ser feito e perceber o que é a boa ação. Essa ética do cuidado é a do laço social, da ajuda, da vulnerabilidade. O que se descobre quando se lê esse livro é que todos dependemos uns dos outros”, disse José Sócrates.

Seminário “Desafios da democracia contemporânea”

Na sequência, foi realizado o seminário “Desafios da democracia contemporânea”, primeira ação da parceria entre IREE e a universidade francesa, com a apresentação dos professores da Paris Lumière Fabienne Brugère, Philippe Chanial e Armelle Enders.

Paris Lumiere Fabienne Brugere

Com o tema “É possível uma democracia de cuidados na atualidade?”, Fabienne Brugère trouxe o contexto da sua obra e defendeu a perspectiva da ética do cuidado tornar-se uma política e permitir uma transformação da democracia.

“Considero que todos e todas são mais ou menos vulneráveis em toda a nossa vida. A ética do cuidado é pensada como uma maneira de poder responder à situação de vulnerabilidade sem o abuso de poder, sem a questão vertical que reintroduziria o paternalismo, mas em relações as mais horizontais possíveis, apesar das diferenças entre as pessoas que ajudam e as que precisam ser ajudadas. A ideia é que essas relações possam ser democráticas”, explicou Brugère.

Philippe Chanial abordou o tema “Democracia, socialismo e emancipação” e falou sobre os desafios para tornar a democracia mais social em um contexto em que as relações humanas tem sido reduzidas a relações contratuais e os indivíduos, a um animal econômico.

Paris Lumiere Philippe Chanial

“Tornar a democracia mais social significa multiplicar as trocas, os pontos de contato entre os indivíduos, entre os grupos, entre as identidades. Todos estamos ligados, como disse a Fabienne. Sem ser irônico, eu diria que um dos desafios das democracias é menos fazermos uma declaração de independência, e mais uma declaração de interdependência. Essa ideia me parece essencial, sobretudo face aos desafios ligados ao contexto neoliberal, pois uma das características do neoliberalismo é a sua sóciofobia”, afirmou o sociólogo.

Em sua apresentação, Armelle Enders falou sobre “A alternância política como questão democrática” e trouxe a experiência francesa como reflexão. Ela lembra que em 1981, quando o socialista François Mitterrand ganhou a Presidência na França, foi a primeira vez em 23 anos que ocorria alternância de poder no país. Mas as seguidas alternâncias de poder acabaram representando o aprofundamento de um modelo republicano autoritário.

 

“Quando se olha de perto essas alternâncias, elas foram frutos de um desencantar político, uma derrota de quem estava saindo do poder. Essas alternâncias repetidas acabaram produzindo um desencantar com a democracia, reforçando o discurso anti-sistema e beneficiando, nos anos 90, o partido do Le Pen. E houve um certo desistir das esquerdas a partir do alinhamento liberal e do afastamento das classes populares, sobretudo se comparar com a aproximação de certos grupos populares com do partido de Le Pen”, explicou.

 

O evento foi encerrado com a apresentação musical do violonista e Coordenador do IREE Cultura, João Camarero.

Joao Camararo Paris Lumiere

Assista à cerimônia completa abaixo



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