Para enfrentar a crise econômica, o Brasil precisa de uma nova política anticíclica baseada em uma estratégia de desenvolvimento produtivo, defendeu o economista Guilherme Mello em sua apresentação no IREE Diálogos Especial – Economia para o Povo, no dia 07 de junho de 2019.
Segundo o professor da Unicamp, a alternativa deve se diferenciar de outras políticas anticíclicas já adotadas por partir de uma estratégia de desenvolvimento orientada para as demandas sociais como saneamento básico, educação, e complexo industrial da saúde.
“A estratégia de desenvolvimento produtivo orientada por missões é uma ideia da Mariana Mazzucato, economista italiana, e que trazemos para o Brasil com a proposta de adotar missões sociais”, explica Mello.
A depressão brasileira
Mello classifica o momento atual da economia brasileira como “a maior crise da história do país”.
“Faz cinco anos que não conseguimos reverter a tendência de queda no PIB e de aumento do desemprego. Estamos com uma grande dificuldade de enfrentar os desafios que são colocados para a economia brasileira no século XXI”, diz.
Para o economista, depois da economia brasileira sofrer uma desaceleração, nos anos de 2013 e 2014, e uma recessão, nos anos de 2015 e 2016, o Brasil entrou em uma “depressão”.
“Saímos da recessão em 2017 e entramos numa estagnação no fundo do poço, com o PIB lá embaixo, com o desemprego lá em cima, empresas endividadas, investimento muito baixo e caindo cada vez mais. É esse cenário que estou descrevendo como depressão”, diz.
As causas da crise
A análise de Mello caminha desde o ajuste fiscal realizado por Dilma em 2011, quando o governo acreditava que a economia estava aquecida demais, passa pela adoção de uma agenda voltada para as demandas dos empresários da indústria, que aprofundou a crise fiscal, e termina nos ajustes adotados de 2015 até o atual governo.
Mello observa que, mesmo em um cenário de contenção de gastos, como é a política adotada desde 2015, há uma deterioração do superávit primário e da dívida pública, pois o investimento privado não veio como esperado pelos governos.
“Desde o Joaquim Levy estamos tentando a mesma fórmula: diminuição dos gastos, do investimento público e das estatais. E o resultado foi a deterioração dos resultados fiscais. A resposta tem sido que precisa mais, agora vamos na Previdência e na Educação, e a perspectiva para o ano que vem é não crescer de novo.”
Mello explica que a deterioração dos resultados fiscais ocorre pela queda da arrecadação, pois os cortes de gastos não geraram investimentos.
“Muita gente acha que com corte de gastos, PEC do Teto, Reforma Trabalhista, a confiança do empresário aumenta e impulsiona a economia. De fato a confiança melhorou, mas o investimento só vem se houver expectativa de demanda, de rentabilidade, e isso a economia brasileira não recuperou”, diz Mello.
O vídeo completo da apresentação pode ser visto aqui.
Guilherme Mello é doutor em Ciência Econômica pela Unicamp. É professor do Instituto de Economia da UNICAMP e diretor do Centro de Estudos de Conjuntura do IE/UNICAMP. Foi assessor econômico para a campanha de Fernando Haddad à Presidência da República.
IREE Diálogos Especial Economia para o Povo é uma série de encontros organizados pelo IREE com ilustres economistas para debater caminhos para a economia brasileira.
Confira as outras edições
Naercio Menezes fala sobre o papel da educação no desenvolvimento econômico
Belluzzo: Sem articulação entre Estado e empresa, País não se recupera
Delfim Netto: Investimento só virá com absoluta segurança jurídica
José Márcio Camargo: Brasil caminha para ser país de juros baixos
Nelson Marconi: Crescimento depende de política industrial forte
Bresser-Pereira: O liberalismo é a causa da estagnação econômica
Laura Carvalho: É momento de pensar uma nova agenda econômica
Paulo Rabello: Reforma Tributária complicará ainda mais o sistema
Leia também

Super-ricos, tributação e desigualdade no Brasil
Continue lendo...
IREE Webinar: As armadilhas do déficit zero
Continue lendo...