Vivemos tempos estranhos. Temos duas guerras em andamento em que TODOS estão errados: a Rússia está errada de invadir, a Ucrânia está errada em romper acordos: quem paga é o povo. O Hammas é um grupo terrorista, Israel se comporta como um estado terrorista: quem paga é o povo… Saudade do tempo em que havia bandido e mocinho. Mas isso acabou em Nagasaki.
Porém, nosso objetivo aqui é falar bobagem. Ou falar DE bobagens. Paulo Guedes, por exemplo. Uma das criaturas mais inúteis que já pisaram o solo pátrio. Barbatanas de colarinho são mais úteis. Instruções de uso de sabonete líquido são mais úteis. Capas de liquidificador de crochê são mais úteis. Já um Paulo Guedes não serve nem para fazer graça. Ou melhor…
-Ministro, e se o dólar chegar a 5 reais?
-Só se a gente fizer muita besteira!
Agora essa criatura divulga um vídeo em que fala das maravilhas de sua administração. Fala do Auxílio Brasil – que ele queria que fosse de 200 reais, fala de crescimento do PIB…
Acho que foi o Chico Anisio que disse, no governo do ditador Figueiredo, sobre o ministro Ernane Galvêas:
-Será que ele não tem UM amigo que diga que aquela porra daquele bigode dele é torto????
Não sei – e tenho preguiça de procurar no Google – se Guedes tem filhos, se é casado, mas será que ele não tem UM amigo que diga para ele tomar vergonha na cara e se mancar? Foi um ministro exemplar, na medida em que foi a cara do “governo” Bolsonaro. Suas declarações, sempre ponderadas, iam do vírus chinês até dizer que seu governo “roubava menos”. Sem esquecer do emocionante desabafo, quando reclamou das empregadas domésticas indo à Disney.
Bolsonaro o chamava de Posto Ipiranga. Para quem não lembra, havia um anúncio em que se perguntava qualquer coisa para um sujeito na beira da estrada, e a tudo ele respondia: no Posto Ipiranga. Até que fazia sentido, pois no anúncio a gente nunca via NADA se concretizando…
Resolvi falar do Paulo Guedes pois anda difícil achar algum assunto que não seja dramático. Não que ele não seja dramático, mas é tão risível que ameniza a conversa. Podia falar de Lula…
Millôr dizia que imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Concordo plenamente, mas depois do que passamos neste país temos que dar um tempo. E aí temos dois fatos recentíssimos: Lula diz que não deverá cumprir o déficit zero, e é primeira página. Insinuam fritada do Haddad, as bolsas caem, os colunistas esbravejam, acusam-no de irresponsável. Não disse NADA demais, apenas cometeu o erro grave de dizer a verdade. No dia seguinte, bate-se o recorde de empregos da série histórica, e todos se calam.
Nossa imprensa gosta de gente como Bolsonaro. Sempre o tratou como pais ruins, que perdoam as má-criações dos filhos passando pano, dizendo “ele é assim, tem gênio forte”, “não dormiu depois do almoço”, e fica por isso mesmo. Ele mandava jornalistas calarem a boca e calavam. Hoje, numa coletiva de imprensa, Haddad se recusou a responder pela QUINTA vez a mesma pergunta, deu boa tarde e encerrou a coletiva. Ficou por lá, conversando, e as manchetes diziam que ele havia “abandonado” a coletiva. É divertido ver Reinaldo Azevedo – cunhador da expressão “petralha” e hoje chamado de petista, assinalando essa postura dos coleguinhas. Vale, aliás, um voto de louvor ao jornalista, que teve a hombridade de mudar de posição, e ser dos primeiros a denunciar a ilegalidade da prisão de Lula. Aliás, é divertido ver a diferença moral: Lula, inocente, altivo, se recusando a ser anistiado; Bolsonaro, culpado, choramingando, se borrando de medo. Vou ter 10 encarnações e não vou conseguir entender como alguém, especialmente militares, apoiam essa criatura patética e covarde.
Acho que já disse essas coisas antes. Acho que a culpa…
Tive covid. Graças a 5 doses de vacinas, à ciência, aos voluntários que testaram, aos enfermeiros que aplicaram, foi uma coisa suave, mas que mesmo assim me rendeu uma síndrome pós-covid. No dia em que descobri que estava contaminado, por parar de sentir qualquer cheiro, me lembrei do indigitado fingindo estar sufocado, debochando dos milhares que morreram. Só lembrando que somos menos de 3% da população mundial, e tivemos 10% das mortes (também acho que já falei disso, mas a covid tem esses efeitos na memória). As pessoas morrendo e ele andando de moto, promovendo ajuntamentos. Quantos não morreram diretamente por causa disso? Poderiam dizer que um sujeito que é imbecil a ponto de aglomerar numa pandemia merece morrer; não diria que merece, mas que certamente é uma espécie de suicídio. O diabo é que esses idiotas matavam gente que não tinha culpa de nada. Saíam alegremente assassinando filhos, pais, entregadores, balconistas (ainda acho que o governo devia homenagear esses heróis, que mantiveram o mundo mais ou menos funcionando). Ainda hoje tem acólitos do inominável defendendo a cloroquina e atacando a vacina. A sempiterna Bia Kicis, num podcast, reclamava que não respeitavam o direito democrático de não querer se vacinar. Ela esquece que o seu dela direito acaba quando começa o do outro, que pode ter a estranha mania de querer continuar vivo.
Fui interceptado por um ex-amigo. Queria saber por que eu não falava mais com ele, afinal, “é só política”. Perguntei-lhe se ele acreditava na vacina.
-Não muito. Tomei só duas doses.
-E a que você atribui à queda das mortes?
-Ora, à imunidade de rebanho! Chega uma hora em que o vírus fica fraco naturalmente, nada a ver com vacina. E teve a cloroquina, a ivermectina… Quando passaram a dar para todos, acabou o problema.
Eu tinha ACABADO de fazer o teste – positivo – de covid. Perguntei:
-Posso te dar um abraço?
Ele me olhou, desconfiado:
-Abraço?
-É. Acabei de pegar meu teste de covid, deu positivo, olha aqui. Já que você acha que o perigo acabou, podemos nos abraçar sem susto.
Fiz menção de abraçá-lo.
Ele saiu correndo.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Ricardo Dias
Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.
Leia também

Henrique Vieira: Radicalização à direita vai além dos evangélicos
Continue lendo...
Cláudio Castro: Relação com governo Lula está muito boa
Continue lendo...