Li na página de um analfabeto funcional com déficit intelectual:
-Bolsonaro tinha razão: é só uma gripezinha!
Como estava de bom humor – e sempre fico de bom humor ao debochar dessa raça – desencavei um vídeo onde nosso amado presidente de plantão desafia:
-Duvido que me mostrem uma única declaração minha dizendo que era só uma gripezinha!
Meu interlocutor, com o destemor e o discernimento que o caracteriza e aos seus pares, fez o que qualquer pessoa intelectualmente honesta faria: me bloqueou. Em tempo: no vídeo, ele estava mentindo. Havia falado SIM da gripezinha.
O bolsonarismo é isso, um mistério embrulhado em um enigma. A desfaçatez com que ele diz e desdiz é incrível. Ele fala uma coisa e em seguida diz que não falou. Não fala e diz que disse, faz e diz que não fez, é um mentiroso compulsivo. O Gregório Duvivier andou fazendo uma compilação de suas dele mentiras, até um bisavô nazista inventou. Já pensaram nisso? As pessoas inventam antepassados nobres, heróicos, valentes… Nosso amado líder inventa um bisavô NAZISTA – e que perdeu um braço. Qual o propósito? O que alimenta essa alma atormentada? Será que ele busca alguma justificativa genética para as milhares de mortes que proporcionou? Poder dizer que a culpa não é dele, e sim dos genes do bisavô?
-Presidente, temos que vacinar as crianças!
-Não.
-Mas presidente, como assim? Precisamos cuidar delas!
-Não.
-Mas por quê?
-Não.
-Algum motivo?
-Não.
-Mas o senhor tem alguma justificativa para isso? Não tem pena, não tem preocupação?
-Bem, meu bisavô…
Haver UM ser descaçambado como ele é estatisticamente aceitável. Mas e os quase 50 milhões que ainda o apoiam? Tirando os militares, que nunca tiveram tanta moleza, QUEM está melhor hoje que há 4, 5 anos? Sim, ele teve o mérito de favorecer a inclusão de algumas minorias: nunca tantos imbecis trabalharam para um governo, nunca tantos inúteis conseguiram cargos. Gente que não teria capacidade andar e mascar chiclete ao mesmo tempo agora ocupa cargos de chefia.
Pois é um governo que derruba paradigmas: racismo reverso, por exemplo, é coisa que nenhuma pessoa séria jamais aceitou. Pois nesse governo tem! O que dizer da chefia da Fundação Palmares? A ministra da Agricultura era conhecida como “musa do veneno”, dada sua volúpia em aceitar agrotóxicos; o ministro da saúde claramente não faz questão de crianças vacinadas. O da educação não quer escolas mistas, com crianças especiais junto das outras; o secretário de Cultura, well… Digamos apenas que não a tem. Ou seja, é fácil colocar alguém que entenda de seu mister numa pasta; o inacreditavelmente difícil é achar tanta gente despreparada para cargos chave.
Quis o destino que coubesse a este governo indicar até agora dois ministros do Supremo. Há manobras em curso que tentam duplicar ou triplicar esse número. Nesse caso, sejamos justos: o PT caprichou nas escolhas anteriores. Indicou ministro que não passou em prova de juiz de primeira instância… Então temos uma jurisprudência nesse quesito. TODO governo faz suas lambanças, apenas o atual supera todos os parâmetros anteriores. Não sabia qual era a meta e a dobrou. E como meu ídolo maior (Millôr) dizia “Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”, tô doidinho para ser oposição a Lula. Ser oposição a Bolsonaro significa apenas ter QI positivo, nenhum mérito envolvido.
Mas nada de comemorar antes da hora! Alguns bolsominions “esclarecidos”, que se arrependeram de seu voto, hoje se bandeiam para o lado de Moro (dizem do macróbio da Havan, por exemplo). E Moro é um Bolsonaro que usa toalha de mesa, num certo sentido é até pior. Trata-se de uma pessoa que queria que gravações ilegais pudessem ser usadas em processos, que usou gravação ilegal para impedir Lula de ser ministro, mas que se escondeu atrás da lei quando as gravações ilegais O desnudavam. Então precisamos tomar cuidado: ele deu um golpe para eleger Bolsonaro num momento em que Lula liderava as pesquisas com folga, não sabemos o que pode acontecer agora. Uma nova facada parece improvável, e não temos nenhum juizeco querendo aparecer, mas precisamos tomar cuidado. As forças ocultas não descansam.
Estamos começando um novo ciclo, temos um inútil para defenestrar e um país para reconstruir. E 50 milhões de compatriotas para conviver, sem que possamos fazer nada além de aturar. Não creio que eles procurem o mago de Oz pedindo cérebros. Ou um coração.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Ricardo Dias
Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.
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