Evento do IREE Mercado reflete sobre o futuro do agronegócio no Brasil – IREE

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Evento do IREE Mercado reflete sobre o futuro do agronegócio no Brasil

Por Samantha Maia

No dia 18 de agosto, o IREE Mercado realizou um importante evento para refletir sobre o futuro do agronegócio no Brasil com a participação de autoridades públicas, empresários e especialistas dos setores financeiro, da defesa, das relações exteriores, da agricultura e da pecuária.

Com a abertura do Presidente do IREE, Walfrido Warde, e do Presidente do IREE Mercado, Henrique Machado,  o evento contou com palestras do Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, do Presidente da FEBRABAN, Isaac Sidney, do CEO Global da JBS S.A., Gilberto Tomazoni, do Embaixador Rubens Barbosa, dos ex-Ministros da Defesa General Fernando Azevedo e SilvaRaul Jungmann, Presidente do IBRAM e do IREE Defesa & Segurança (ID&S), e dos executivos da 2TM (Mercado Bitcoin) Vitor Delduque e Juliana Facklmann.

Walfrido Warde IREE Mercado Agronegócio

Walfrido Warde fala na abertura do evento

Os palestrantes trataram da importância do setor agrícola na economia brasileira, que hoje responde por 25% das exportações globais, e do papel geopolítico estratégico do Brasil diante da perspectiva de reorganização das cadeias produtivas, das relações internacionais e do aumento de consumo de alimentos.

O Presidente do IREE, Walfrido Warde, destacou a relevância de poder reunir personalidades representativas para este diálogo.  “É um momento importante para se conhecer e refletir sobre a realidade e o futuro do agronegócio no país. Um evento estupendo, profundo, com repercussão para a busca de convergências nos campos político, econômico e social”, afirmou.

Henrique Machado, Presidente do IREE Mercado, salientou que o crescimento do agronegócio brasileiro ocorre em um contexto em que se percebe o quanto o setor é um ativo importante nas relações geopolíticas mundiais. “A dimensão nacional e internacional do Agro brasileiro hoje eleva o setor a fator fundamental e fundante para a soberania e a política internacional do País.”

Além disso, destacou que o Brasil será o grande fornecedor de alimentos do futuro e hoje já é o maior exportador mundial de soja, café, suco de laranja, açúcar, carne de frango e carne bovina, fruto de “uma agricultura adaptada às regiões tropicais e de produtores rurais cada vez mais conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente”.

Por fim, salientou que o aperfeiçoamento das relações entre Estado e empresas permite a evolução da disciplina jurídica do setor, como as alterações havidas na regulamentação dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e a criação do FIAGRO.

Confira abaixo os principais momentos das apresentações realizadas no evento “Agro e Mercado: Economia, Direito e Geopolítica”, do IREE Mercado.

Ciro Nogueira, Ministro-Chefe da Casa Civil

O Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, defendeu que o Brasil está em um momento de superação das suas principais adversidades. “Temos em nosso país um momento ímpar, com potencial fantástico para o nosso futuro. Principalmente no agronegócio, o nosso país tem tudo para se tornar a Arábia Saudita dos alimentos. Temos feito o que é possível nos últimos anos para nos preparar para isso, e a Ministra Tereza Cristina foi referência para todos nós, de nos representar internamente e externamente de forma muito positiva”, afirmou.

O ministro contou que esteve no Piauí acompanhando o Presidente Jair Bolsonaro para a inauguração da primeira fazenda 5G do país. “Presenciamos o que pode acontecer nesse setor, acho que será uma revolução. Para isso, nós só precisamos nos preparar e continuar com esse ciclo de tranquilidade que o agronegócio obteve nos últimos anos.”

Para Ciro Nogueira, o Brasil também conseguiu superar os momentos mais difíceis de imagem em relação à questão ambiental com a chegada dos ministros Joaquim Leite, no Meio Ambiente, e Carlos França, nas Relações Internacionais. “Acho que o mundo vai passar por uma transição em que não vai ter mais dependência tão grande da China, e se existem dois setores que vão ter o benefício são o agronegócio e energia. Se o Brasil souber aproveitar, pode atrair os investimentos para fornecer energia para a Europa.”

Rubens Barbosa, Embaixador nos EUA (1999 a 2004)

O embaixador Rubens Barbosa, Presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), destacou o papel estratégico do Brasil na geopolítica dos alimentos e falou sobre as perspectivas para o país e as vulnerabilidades e oportunidades para o agronegócio.

Segundo Barbosa, apenas quatro países hoje – China, Índia, Brasil e Estados Unidos – possuem três características fundamentais do ponto de vista geopolítico em relação ao agronegócio, que são: população elevada, grande território e extensão de terra agrícola. “Uma das grandes vantagens do Brasil é que, além de ser um dos quatro maiores produtores agrícolas do mundo, somos autossuficientes dos principais produtos”, disse ele.

Para se ter uma ideia da importância estratégica do Brasil e do Mercosul no mercado mundial de alimentos, Barbosa destacou que o Brasil representa sozinho mais de 25% das exportações do agronegócio do mundo, uma receita de 140 bilhões de dólares. Se considerar o Mercosul, essa fatia sobe para 40%.

O diplomata citou a projeção da FAO/ONU de que a população mundial aumentará 25% nos próximos 20 anos, período em que o consumo de alimentos crescerá 60%, e 40% desses novos alimentos devem vir do Brasil. “Do ponto de vista da segurança alimentar, o Brasil é percebido pelo mundo como um dos grandes pilares para sustentar essa nova demanda.”

Barbosa também falou sobre os impactos das mudanças climáticas sobre o setor agrícola e sobre como o Brasil, pela primeira vez, está no centro de uma prioridade global com a questão do meio ambiente. “O foco é a Amazônia. Se o desmatamento da Amazônia continuar, daqui a 10, 20 anos, o clima no cerrado e em outras regiões vai mudar totalmente e vai ser impossível ter certas culturas nesses locais.”

Outro fator de mudança importante para o agronegócio brasileiro tem sido a guerra na Ucrânia, que remodelou o cenário global do comércio de alimentos e levou o Brasil a exportar mais trigo. “Eu acho que nos próximos 5 anos, o Brasil deve ser autossuficiente em trigo e vai exportar em maior quantidade”, afirmou Barbosa.

Barbosa alertou para as vulnerabilidades do agronegócio brasileiro, que são a concentração das exportações para poucos mercados e em poucos produtos, e a dependência externa em fertilizantes. “Três a quatro produtos representam quase 70% das nossas exportações, e 31% vai para a China. E vimos aí agora o risco enorme que é a questão dos fertilizantes. Como é que o Brasil, uma das maiores potências agrícolas do mundo, pode se dar ao luxo de ter que importar 85% dos fertilizantes?  No caso do trigo, 60% do consumo interno vem do exterior, 85% vem da Argentina, isso do ponto de vista da estratégia é inaceitável”, afirmou ele.

Para Barbosa, os grandes desafios do setor, além de diversificar o mercado e reduzir a dependência externa de fertilizantes, são manter o crescimento da produtividade, desenvolver novas tecnologias, resolver gargalos para a implantação do 5G, enfrentar medidas protecionistas e pensar em como inserir o Brasil nas cadeias produtivas regionais.

General Fernando Azevedo e Silva, ex-Ministro da Defesa

O General Fernando Azevedo e Silva, ex-Ministro da Defesa, destacou o papel das Forças Armadas como um seguro imprescindível para o país. “Para desenvolver o mercado, um agronegócio, o país tem que se sentir seguro com as Forças Armadas.”

Azevedo e Silva também falou sobre a importância das Forças Armadas na redemocratização e o alinhamento com a Constituição de 1988. “Os militares se afastaram da política, foram cuidar da sua missão. Aproveitamos a Constituinte de 1988, regulamos nossa missão com o artigo 142, garantia da lei e da ordem, e o artigo 4, prevalência dos Direitos Humanos, busca da paz e da solução pacífica dos conflitos, a cooperação entre os povos.”

Sobre a importância estratégica da Amazônia na geopolítica global e mercado de alimentos, o ex-ministro citou como as Forças Armadas passaram em 10 anos de um efetivo de 10 mil militares na região para 40 mil, sem aumentar seu efetivo total.

“A nossa missão está muito bem regulamentada, basta segui-la. Temos apenas um problema orçamentário. A Política Nacional da Defesa e a Estratégia Nacional da Defesa estimulam que o orçamento em relação ao PIB seja de 2%, e nós recebemos 1,2%. Isso faz com que os projetos estratégicos sejam completamente defasados. O Brasil deve contar com suas Forças Armadas como instituição de Estado”, afirmou Azevedo e Silva.

Raul Jungmann, ex-Ministro da Defesa, Presidente do IBRAM e do ID&S

O ex-ministro Raul Jungmann trouxe dados da mineração brasileira, que faturou R$339 bilhões e exportou 58 bilhões de dólares em 2021, e destacou como a vulnerabilidade do agronegócio pela dependência externa de fertilizantes cruza com o setor de mineração.

“O governo, em boa hora, lança um programa voltado para os fertilizantes. Lamentamos que isso tenha vindo no fim do governo, mas aplaudimos a iniciativa e esperamos que quem vier continue e aprofunde esse plano, porque ele é absolutamente estratégico para o país.”

Na análise de Jungmann, o mundo vive uma realidade de choques sucessivos (subprime, epidemia de Covid, guerra na Ucrânia, crise climática) e dentre as consequências estão a desaceleração da globalização, assim como uma maior seletividade de parceiros. “A tendência é que na reconfiguração das cadeias de valor, os países vão procurar parceiros que estejam fora de zona de conflito, e isso acrescenta desde já uma vantagem para o Brasil.”

Dentre as oportunidades para o Brasil nesse cenário, o ex-ministro também destacou o fato de sermos globais e uma democracia, de vivermos em estabilidade e de não termos conflitos em fronteiras. “O país tem grandes possibilidades para o setor agro e o setor mineral, mas é fundamental que a gente mantenha a democracia, esteja alerta ao papel de líderes globais em sustentabilidade e superação da crise climática, e precisamos de cada vez mais segurança jurídica e das reformas de Estado, a tributária a frente das demais.”

Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS S.A.

O CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, falou sobre como a presença em vários países do mundo e a diversificação de produtos permite que a empresa enfrente as oscilações do mercado. “Nossos mercados têm ciclos, e quando se tem diversificação por tipo de proteína e por região, é possível atenuar as oscilações”, disse ele.

Hoje a JBS é a maior empresa de alimentos do mundo, com faturamento de 390 bilhões de reais e 250 mil colaboradores. Seu maior mercado é os Estados Unidos, enquanto o Brasil representa 28% dos negócios da companhia. “Temos grande orgulho de ser uma multinacional brasileira que hoje lidera o setor de alimentos nos Estados Unidos.”

Segundo Tomazoni, a desaceleração da globalização já é perceptível. “A globalização não vai ter fim, mas vai ter uma maneira diferente de ser. A segurança alimentar passou a estar na agenda prioritária dos países. As empresas vão ter que se deslocar para não perder o mercado, vão ter que produzir localmente”, afirmou.

O executivo falou sobre como a JBS colocou a sustentabilidade no centro das suas decisões e tem buscado se posicionar no enfrentamento às mudanças climáticas. “Temos que produzir mais e de forma diferente do que produzimos hoje. E vemos o Brasil como grande protagonista nisso, na transição para uma matriz mais verde.”

Isaac Sidney, Presidente da Febraban

O presidente da Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN), Isaac Sidney, falou sobre a disposição do setor financeiro em auxiliar na expansão do agronegócio do Brasil. Segundo ele, o crédito para o setor tem crescido acima da política oficial, com uso dos recursos dos próprios bancos.

“Enxergamos no agronegócio uma força importante. Houve uma expansão de 61% na carteira de crédito nas últimas três safras, isso significa um fluxo de recursos expressivos para o agro.” No ano agrícola 2021/2022, foram 1,9 milhões de operações de crédito rural oficial.

Sidney chamou atenção para a contratação recorde em julho deste ano, quando o volume financeiro de contratações foi 21% maior que no mesmo período de 2021 e 232,2% maior que em julho/2017. Ele também destacou como houve avanço no volume e representatividade de contratações de crédito rural por meio de fontes de mercado, com destaque para os títulos do agronegócio, em especial a CPR.

O Presidente da FEBRABAN abordou a questão dos altos cursos de financiamentos, e mostrou que o crédito rural é o que contribui menos para a rentabilidade do mix de produtos de crédito. “A margem de ganho com crédito rural é pequena, em razão dos custos e da política oficial, e mesmo assim estamos chegando a um volume próximo a meio trilhão quando somamos recursos oficiais e livres para o setor.”

Para aumentar o volume de concessão de crédito, Sidney defendeu que é preciso desburocratizar o processo, aumentar a sustentabilidade e o foco nas finanças verdes, e aprimorar os marcos legais.

Vitor Delduque, Head de Produtos do MB Tokens, e Juliana Facklmann, Diretora de Regulação do Mercado Bitcoin

O Head de Produtos do MB Tokens, Vitor Delduque, falou sobre a mudança para a economia digital e defendeu que o uso de tokens ajuda a democratizar tanto a parte de investimento, quanto o acesso ao crédito, com custos mais baixos e menos burocracia.

“O token nada mais é que a representação do ativo real no mundo digital. Hoje eu posso organizar uma safra com ativos digitais que representem essa safra, em uma plataforma onde tenho mais de 4 milhões de investidores, e a partir de 100 reais eu consigo comprar parte daquela safra”, explicou.

A Diretora de Regulação do Mercado Bitcoin, Juliana Facklmann, falou sobre como o uso de criptoativos não se limita à questão de crédito, mas também a certificações e outras formas de negociação. “Quando falamos de criptoativos, estamos falando de um ambiente descentralizado. Imagine esse ambiente eletrônico descentralizado possibilitando a negociação de um certificado, não precisa mais ter uma entidade intermediária para garantir a segurança de que aquilo é aquilo mesmo.”

No caso específico de crédito, o token e o criptoativo podem ser usados também para monitoramento de safra e do uso de dinheiro, como forma de otimização do mercado. Segundo Juliana Facklmann, é possível vincular diferentes documentos e fazer monitoramento de forma automática. “Token e criptoativos, juridicamente, são um documento, com todas as regras dentro deles.”

* Samantha Maia é Diretora de Comunicação do IREE



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