Desde o final de maio, uma onda de protestos antirracismo, iniciada nos Estados Unidos em reação ao assassinato do cidadão negro George Floyd por um policial branco no dia 25 de maio, tem se espalhado por diversos países do mundo como o Brasil, a França, o Reino Unido, a Alemanha, a Bélgica, a Dinamarca, a Espanha, a Grécia e o Canadá.
No Brasil, a morte do menino negro João Pedro, de 14 anos, assassinado dentro da sua casa no Complexo do Salgueiro (Rio de Janeiro), no dia 18 de maio, com um tiro de fuzil pelas costas, durante uma operação policial, também foi um estopim para manifestações no estado.
O fenômeno acontece em meio ao enfrentamento da maior crise sanitária global da nossa época, causada pela pandemia de COVID-19. Segundo a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, o novo coronavírus “está expondo desigualdades endêmicas que há muito tempo são ignoradas” e os protestos desencadeados pelo assassinato de Floyd destacam não apenas a violência policial contra pessoas negras, mas também desigualdades em saúde, educação, emprego e discriminação racial.
Ainda segundo a nota emitida pela ONU no dia 2 de junho de 2020, as estatísticas mostram um impacto devastador da COVID-19 em populações de origem africana, assim como em outras minorias étnicas, em países como Brasil, França, Reino Unido e Estados Unidos.
Alguns dados chamam atenção, como o boletim da Prefeitura de São Paulo do fim de abril que mostra que um cidadão negro tinha 62% mais chance de morrer de COVID-19 na cidade do que um branco. As estatísticas nos Estados Unidos também mostram que as comunidades negras concentram casos e mortes de maneira desproporcional.
A desigualdade econômica entre negros e brancos faz com que os negros sejam maioria entre os que vivem em condições habitacionais que não favorecem o isolamento, com acesso precário a saneamento básico, o que dificulta a manutenção das medidas de higiene, além de menos acesso a serviços de saúde e maior exposição no transporte público e em trabalhos informais, por exemplo.
As pessoas negras, adultos e crianças, também aparecem como as maiores vítimas de mortes por intervenção policial. No Rio de Janeiro houve aumento nos números de morte por intervenção policial durante a quarentena. Nos meses de março e abril, 290 pessoas morreram no estado em operações policiais, embora os crimes em geral tenham diminuído. Para ter uma base de comparação sobre a letalidade das operações policiais no Rio de Janeiro, o número de vítimas em março e abril equivale a um terço dos mortos pela polícia norte-americana em todo o ano de 2019.
A falta de investigação e punição dos culpados por mortes resultantes de operações policiais e a ausência de espaço de diálogo das autoridades com a população sobre os problemas resultantes do racismo estão no cerne dos protestos mais recentes. A pandemia contribui para tornar as desigualdades raciais ainda mais evidentes.
Como forma de avançar no combate ao racismo, o movimento negro tem destacado a importância da sociedade se conscientizar e se educar sobre as questões raciais. Como disse a escritora negra Conceição Evaristo em uma entrevista em 2018, falar sobre racismo no Brasil é derrubar o mito de democracia racial. “Esses 130 anos de abolição, para mim, são 130 anos de reivindicação”, disse ela. Cabe a toda a sociedade cobrar para que propostas de combate ao racismo sejam pautadas pelos governos no país.
Por Samantha Maia
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