Sergio Etchegoyen: É ridículo! – IREE

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Sergio Etchegoyen: É ridículo!

Sergio Etchegoyen

Sergio Etchegoyen
Presidente do Conselho do ID&S



Nas últimas duas décadas o ambiente político brasileiro enfrentou tensões tão intensas que com frequência parecíamos diante do impasse definitivo.

A corrupção sistematizada como instrumento de poder, a profunda incompetência na gestão da máquina pública, o populismo demagógico e o anacronismo ideológico dispararam crises sem precedentes nos campos econômico, político e moral.

A brava gente brasileira enfrentou a todas elas sem permitir que seus valores democráticos experimentassem o menor abalo. Podemos dizer com orgulho que o Estado Democrático de Direito é sim um valor consolidado entre nós e que aventuras em contrário jamais vingariam.

Curiosamente, ao longo de todo o governo que chega ao seu último quadrimestre, muitos analistas renomados e outros menos conhecidos dedicaram-se diuturnamente a discutir a iminência de quebra institucional. Consumiram litros de tinta anunciando o inevitável golpe que abalaria o país. Obviamente, a descabida hipótese nunca saltou do mundo das meras especulações para a realidade.

A ideia estapafúrdia da possibilidade de sequer uma tentativa de quebra da normalidade institucional, tão difundida ultimamente, revela incapacidade de compreender as circunstâncias presentes, ignora o exitoso sucesso da construção da democracia no Brasil e comete enorme injustiça com todo um povo ao imaginá-lo abúlico e incapaz de defender seus valores.

Como o golpe não veio, nem virá, os arautos da tragédia reclamarão cinicamente para si a glória de ter evitado a terrível catástrofe criada em suas imaginações distorcidas para assombrar seus seguidores.

Lamentavelmente, é preciso reconhecer, que algumas atitudes alimentam e encorajam os devaneios dos profetas do apocalipse. O presidente, é inegável, cultiva um estilo conflitivo e abusa da retórica belicosa, sua forma de expressar opiniões e defender pontos de vista é muitas vezes imprópria. O candidato da oposição, mitômano confesso, alinha-se entre os catastrofistas e brande surrados espantalhos do golpismo. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral investe de forma inclemente, com medidas duríssimas, contra empresários que trocavam opiniões e desabafos em grupo de WhatsApp por suspeita de conspiração.

Beira o grotesco imaginar que pessoas de conhecimento público, expostas como são os grandes empresários, responsáveis por milhares de empregos, fossem, ao mesmo tempo, perigosos e descuidados maquinadores de ruptura da ordem constitucional. Em nome da credibilidade daquela Corte, espera-se com ansiedade pelas provas robustas e irrefutáveis do risco gravíssimo e iminente de ação antidemocrática e da existência dessa extensa e articulada rede de experimentados conspiradores. É ridículo!

São todas atitudes reprováveis que merecem crítica e repúdio, filhas da falta de compostura, da arrogância e da vaidade, mas só isso. Os brasileiros temos consciência clara do valor da democracia e saberemos defendê-la e rechaçar falsos super-heróis.

Duvidar do vigor da nossa democracia a cada contrariedade é vulgarização irresponsável das convicções mais sagradas de um povo que já deu exaustivas mostras de lealdade aos seus princípios.

A democracia no Brasil é barulhenta e imperfeita, mas sólida, sem lugar para tutores e capitães-do-mato.



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Sergio Etchegoyen

É Presidente do Conselho de Administração do IREE Defesa & Segurança, General de Exército da reserva e foi ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (maio de 2016 a dezembro de 2018). Ingressou no Exército em 1971, na Academia Militar das Agulhas Negras, e foi declarado Aspirante a Oficial de Cavalaria em 1974. Como oficial-general, de novembro de 2004 a maio de 2016, comandou a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, foi Assessor Especial Militar do Ministro de Estado da Defesa e cumulativamente chefe do Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa, comandou a 3ª Divisão de Exército, exerceu as chefias do Departamento-Geral de Pessoal e do Estado-Maior do Exército.

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