O sujeito ia pela rua pedindo:
-Por gentileza, Bolsonaro ainda é o presidente?
-Não, senhor, o presidente é o Lula.
-Obrigado.
Passava outro:
-Por gentileza, Bolsonaro ainda é o presidente?
-Não, não é mais.
e mais um:
-Por gentileza, Bolsonaro ainda é o presidente?
-Não, ele perdeu a eleição.
E assim ele ia pela rua. Uma pessoa observou e perguntou:
-Mas o senhor pergunta a mesma coisa por quê? Já não está careca de saber que ele não é mais presidente????
-Sei. Mas eu não me canso de ouvir…
O fato é que o país mudou. Os dementadores, que ainda estão por aí, perderam a força, não sobrevoam mais as pessoas decentes. O pessoal anda assoviando, se namora mais, se sorri mais, se briga menos… Temos um presidente que se deixa vacinar pelo vice! E não esconde de ninguém! Imaginem isso há poucos anos:
-Ô Mourão, tu não vai me espetar com esse negócio daí não, tá okey?
-Mas, presidente, precisamos dar o exemplo!
-Ne-ga-ti-vo! Sei lá o que você botou nessa seringa! Pode ter posto peste bubônica, cuspe, esper… Espert… Espertazomóide, sei lá o quê! E eu sou hétero, ninguém mete a seringa em mim, rá rá rá!
Saímos, enfim, da quinta série. E passamos direto! Ficamos para a prova final, mas fomos aprovados.
Enquanto isso, Bozo começa a cumprir uma série de compromissos internacionais. Faz palestras em igrejas evangélicas. Lula é requisitado no mundo todo, ele em diversos estados americanos. Lula fala para chefes de Estado, ele, pelo andar da carruagem, já já estará expulsando demônios:
-Abandona esse corpo que não te pertence, tá okey?
-Não saio! Ele é meu!
-Olha aqui, esse negócio de diabo macho ficar entrando em outro não é coisa de sujeito homem, tá okey? Vamos ver isso daí, aqui a gente preza a família!
Capaz do demônio obedecer, eles se entendem bem.
Mas nem tudos são flores. O país está destroçado, as vidas perdidas não voltarão. Houve muita tristeza nesses anos, e é natural que se pense em vingança. Mas não vale a pena. Dizem ser um prato que se come frio, que nem gaspacho, mas não sei se é nutritivo. A gente é condicionado a acreditar em Céu e Inferno. Mesmo os espíritas, que não creem nessas coisas, arrastam uma asa para castigos não eternos, como o Umbral, uma espécie de purgatório. O fato é que, se Deus existe, e for perfeito como dizem por aí, não será malvado como nós, será misericordioso. E é aí que incomoda…
-Olha aqui, tu tem a obrigação de me perdoar, tá okey? Nem sei do quê, eu sempre prezei a família, tanto é que tive várias, rá rá rá, e andei dentro das 4 linhas, então não vem com essa de Inferno pra cima de mim!
-MEU FILHO (Deus fala em maiúsculas), VOCÊ É AMADO, NÃO EXISTE INFERNO, MEU PERDÃO É INFINITO!
-Ah, é bom mesmo, eu nunca pequei!
-MENOS, MEU FILHO…
-Esses Yamonames, sei lá, é tudo venezuelano comunista, sabia?! Tem clube de tiro por aqui? Tem umas moças, caso pinte um clima, sabe como é? E não esqueça de…
De repente ele se vê num lago de fogo. Sozinho. Grita:
-Que história é essa? Você não disse que não existia inferno?
-ACABEI DE CRIAR UM, SÓ PRA VOCÊ. ADEUS.
Diálogos imaginários são divertidos, até exequíveis. Mas tem coisas sem explicação possível: um sujeito dar cloroquina para uma ema – e também restos de comida, que as mataram mais rápido do que a cloroquina faria; esvaziar um lago com carpas caríssimas e tradicionais para recuperar um balde de moedas; se dizer imbrochável, ou contar urbi et orbi que “deu um bom dia especial” para a primeira dama.
Mas inexplicável MESMO é a foto do sofá do Alvorada: como diabos ele conseguiu emporcalhar tanto o pobre do estofado?
-Ah, isso daí eu posso explicar, tá okey, foi o seguinte…
Pensando bem, prefiro não saber.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Ricardo Dias
Tem formação de Violonista Clássico e é luthier há mais de 30 anos, além de ser escritor, compositor e músico. É moderador do maior fórum de violão clássico em língua portuguesa (violao.org), um dos maiores do mundo no tema e também autor do livro “Sérgio Abreu – uma biografia”.
Leia também

Flip 2023: Pagu, necropolítica e crise climática
Continue lendo...
Derivas êxtimas: uma viagem à Bahia e à Bienal de São Paulo
Continue lendo...
Reinventando o Brasil pela arte
Continue lendo...