Desigualdade racial no mercado de trabalho – IREE

Análises e Editorial

Desigualdade racial no mercado de trabalho

No Brasil, a população negra representa uma parcela significativa, totalizando 55,7% dos brasileiros, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa estatística evidencia a diversidade racial presente no país.

Embora a Lei de Cotas tenha celebrado uma década de existência em 2022 e algumas empresas tenham implementado ações afirmativas em prol da inclusão racial, é evidente que o mercado de trabalho no Brasil precisa encarar essas questões de forma mais abrangente.

Salário

Segundo estudo do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, trabalhadores negros com características produtivas semelhantes aos brancos, como nível de escolaridade e tipo de vínculo, formal ou informal, ganham, em média, de 13% menos do que os colegas brancos.

A pesquisa abrange dados desde 1982 e aponta que a desigualdade salarial entre brancos e negros persiste em todo o período, atingindo seu ápice em 1989, no fim do governo de José Sarney, quando trabalhadores negros ganhavam 18,1% a menos que os brancos.

Essa desigualdade salarial começou a cair nos anos 2000, com os aumentos da escolaridade média e valorização do salário mínimo. As mudanças, no entanto, ainda não foram suficientes para mudar significativamente o cenário.

Desemprego

No âmbito do desemprego, a desigualdade de raça e gênero também se faz presente. A pesquisa do Insper mostra que, em 2021, as taxas de desocupação entre mulheres negras (20,5%) e homens negros (12,8%) eram significativamente superiores às de mulheres brancas (13,7%) e homens brancos (9,4%). Essa disparidade reflete a complexa interseção entre gênero e raça no mercado de trabalho.

Disparidade de renda

A disparidade de renda é outra face dessa desigualdade. Em 2022, a renda de trabalho dos brancos era 87,6% maior que a dos negros. Além disso, rendimentos provenientes de aluguéis e investimentos contribuem ainda mais para a desigualdade, atingindo uma diferença de 277%.

Liderança e ambiente de trabalho

A desigualdade racial no trabalho também se reflete nas posições de liderança. Levantamento do LinkedIn revela que 93% dos profissionais negros acreditam que barreiras relacionadas à raça impedem seu avanço para cargos de liderança. Além disso, 42% acreditam que a diversidade não é valorizada pelos empregadores, e 44% veem resistência à mudança nas empresas.

A pesquisa foi feita com base em 1.117 entrevistas realizadas com profissionais negros entre 30 de agosto e 13 de setembro deste ano.

Administração Pública

Na esfera pública, a representatividade dos negros também é baixa, com apenas 35,09% dos funcionários públicos ativos do executivo federal sendo negros, segundo levantamento da ONG República.org. Essa representação diminui ainda mais nos níveis hierárquicos superiores, destacando a necessidade de ações afirmativas para promover a diversidade.

Impacto da pandemia

A pandemia agravou as disparidades raciais no mercado de trabalho, impactando de forma desproporcional os trabalhadores negros. De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), das oito milhões de pessoas que perderam o emprego entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, 71% eram homens e mulheres negras.

A transição para o trabalho remoto foi também menos acessível para os trabalhadores negros, com apenas 17% na região metropolitana de São Paulo adotando esse regime.

Os números revelam a urgência de abordar a desigualdade racial de maneira abrangente, implementando políticas e práticas que promovam a igualdade de oportunidades e a valorização da diversidade no ambiente de trabalho.



Por Juliana Pithon

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