O artigo “De volta ao passado” foi publicado originalmente no Jornal do Commercio.
Por Raul Jungmann*
A surpreendente anulação dos processos contra o ex-Presidente Lula promoveu um impacto de nove graus na escala Richter, que mede terremotos, no mundo político nacional.
Não é para menos. A reaparição do petista na condição de elegível em 2022 literalmente apagou a lousa onde se desenhavam os cenários e perspectivas para a próxima eleição presidencial.
De saída o “efeito Lula” impacta o campo das candidaturas do “centro democrático”, que buscavam uma elusiva unidade. Impacta também a reeleição do atual Presidente da República, em busca do seu segundo mandato, como veremos adiante.
Iniciando pelo projeto de um centro democrático uno em 2022, temos que as suas chances se reduziram consideravelmente, pois o cenário aponta para uma reedição da polarização de 2018, Bolsonaro versus o PT.
Individualmente falando, terá o governador Dória disposição de se lançar solo contra os dois extremos? Ou dependerá para tanto do apoio de um ou dois dos candidatos hoje bem posicionados nas pesquisas? E, não sendo assim, trocará ele uma reeleição em São Paulo, segundo maior orçamento do pais, por uma disputa presidencial com poucas chances de, isolado, superar o ex e o atual presidente?
O mesmo pode-se dizer das candidaturas de Huck e Mandetta. Correrão o risco de um voo solitário, mesmo que venham a construir palanques regionais? Difícil acreditar, salvo se algum deles estiver pensando em um voo mais largo, para 2026 ou adiante.
Alguns analistas acham que essa impossibilidade de uma candidatura solo triunfar é que torna as chances de uma candidatura única do centro vir a ser imperativa. Alegam que, se antes a polarização preexistia, não sendo ela tão forte como agora, os incentivos para a busca da unidade eram menores.
Agora, creem, a busca da unidade é incontornável, dado que a polarização se fortaleceu e candidaturas solo não terão a menor chance de passar ao segundo turno.
O ponto frágil desse cenário é que uma eventual candidatura Lula exercerá uma inegável atração sobre ex-aliados, à esquerda e ao centro, ainda que Ciro, ao que tudo indica, irá seguir com sua candidatura.
Já o Presidente provavelmente amargará sua má condução da pandemia, além do desemprego em alta e a economia em baixa. Por tudo isso, 2022 se afigura não como uma eventual novidade, mas como uma volta ao passado.
* Raul Jungmann é Presidente do IREE Defesa & Segurança (ID&S). Foi ministro da Reforma Agrária, da Defesa e da Segurança Pública.
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