Danilo Santos de Miranda, muito obrigado! – IREE

Colunistas

Danilo Santos de Miranda, muito obrigado!

Diego Jandira

Diego Jandira
Violonista e Cientista Social



A sua primeira visita a uma unidade do Sesc foi em 1º de Novembro de 1968. Em 2023, esse primeiro encontro celebraria 65 anos de uma longa relação de amor e amizade. Agora o posto de Diretor Regional do Sesc São Paulo, que o consagraria como um dos maiores nomes da nossa cultura, esse estava para surgir no seu caminho pouco tempo depois, e por toda sua vida somaria mais de quatro décadas de trabalho devoto.

Responsável por grande parte do fomento, expansão e base da cultura em São Paulo, embora aparentasse ser um devotado paulistano apaixonado por sua cidade, Danilo Santos de Miranda nasceu em 24 de Abril de 1943 em Campos de Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro. Vindo morar em São Paulo por volta dos 24 anos de idade, graças ao concurso que prestou – e passou – para orientador social no Sesc SP.

Foi na perda da mãe ainda muito criança, aos 7 anos de idade, que se aproximou muito da tia Adélia e da avó Donana. Muito articulada na cidade em torno das ações da igreja e no auxílio geral à população de Campos, avó Donana foi uma forte inspiração para o ainda menino Danilo, que via naquela movimentação alegria da comunidade em torno da avó, a satisfação das pessoas acolhidas e a casa sempre cheia de visitas.

Muito antes de ser convidado pelo empresário Abram Abe Szajman em 1984 para integrar a Diretoria Regional do Sesc SP, Danilo Miranda, ainda com 11 anos de idade, vislumbrou de dentro de uma Escola Apostólica para Jesuítas (sediada dentro do Colégio Anchieta, no município de Nova Friburgo e onde também estudaram Euclides da Cunha e Carlos Drummond de Andrade), entorno a atividades esportivas e intelectuais instigantes, realizações que gostaria de proporcionar tão logo pudesse mostrar seu potencial no mundo do trabalho.

Os anos de seminarista coincidiam com fortes emoções na política brasileira, e por viver essa experiência relativamente afastado das turbulências sociais, descobriu dentro de um espaço de convivência e solidariedade que poderia tirar dali inspiração para algumas das soluções que não se viviam fora das paredes do seminário. Isso o inspiraria a ver na cultura, e não nos partidos propriamente ditos políticos, a maneira de fazer a sua política de civilidade e bem estar em São Paulo.

O Sesc foi criado no ano de 1946 por um grupo de empresários que tinha por objetivo desenvolver um espaço de fomento cultural, de lazer e outros aparelhos de bem estar para seus funcionários, envolvendo música, teatro, esportes e muito mais atividades. Quarenta anos depois, Danilo Miranda, já exercendo o cargo de Diretor Regional do Sesc São Paulo, rompe as catracas ampliando o acesso para toda a população e, diante das demandas desse público maior, amplia as próprias unidades do Sesc para regiões do centro, da periferia e da grande São Paulo.

Quando em 2017 a filósofa Judith Butler teve sua segurança pessoal fragilizada pelos inúmeros ataques preconceituosos contra a realização de sua palestra na unidade do Sesc Pompéia, Miranda foi seu braço direito, presente em solidariedade e na proposta de uma segurança especial para a autora; quando no meio social alguns gêneros musicais da periferia foram taxados de inapropriados à estrutura dos bons palcos, ele abriu as portas de suas unidades para que a arte periférica fosse palco e público das atrações.

Foi também membro do conselho de algumas das entidades mais importantes para as artes de São Paulo, como a Fundação Bienal de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), o Museu de Arte Moderna (MAM), Itaú Cultural e SP Escola de Teatro.

Sua gestão da cultura dentro das unidades do Sesc, tornou-se um modelo de gestão da cultura a ser seguido pelo próprio país. No centro de uma das cidades mais desiguais do mundo, e portanto dos que mais precisam de espaços de saúde como um todo, Danilo dos Santos Miranda construiu um legado que reúne valores caros como a ética, a integridade, a colaboração entre as diversidades e a condução íntegra da política cultural de uma cidade.

Quais serão os rumos do Sesc São Paulo agora que perdemos Danilo Miranda?
Por aqui, nós todos te agradecemos. Um muito obrigado!



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Diego Jandira

É músico violonista, colunista, cientista social graduado pela Unifesp e pesquisador musical no projeto Violão Negro Brasileiro.

Leia também