No dia 13 de dezembro de 2022, foi realizada a cerimônia de entrega da terceira edição do Prêmio IREE de Jornalismo, em São Paulo. O evento reuniu cerca de 100 pessoas no restaurante Manioca, entre eles jurados e ganhadores do prêmio.
A abertura do evento foi realizada pelo Secretário do Prêmio IREE de Jornalismo, Felipe Patury. “O prêmio surgiu da constatação de que os jornalistas são essenciais para o exercício da democracia, mas nem sempre são devidamente reconhecidos pelo seus trabalhos. O propósito deste encontro é ajudar a corrigir essa falha e homenagear aqueles que se destacam nessa profissão”, disse.
Quem conduziu a cerimônia foi a jornalista Thais Herédia, que defendeu a importância do reconhecimento do trabalho jornalístico e destacou a resistência da imprensa diante da onda de ataques recentes. “O jornalismo dissemina conhecimento, defende a liberdade de expressão e de opinião e tem o compromisso com os fatos. O IREE renova mais uma vez esse compromisso com a nossa profissão e a boa notícia é que o instituto está determinado a repetir a iniciativa nos próximos anos.”
Menções honrosas
A premiação começou pelas menções honrosas. A jurada Eliane Trindade entregou o diploma de menção honrosa a Karla do Val pela matéria “Rondônia devastada”, escrita em parceria com Elaíze Farias e Fabio Pontes para o site Amazônia Real. “A matéria impressiona pela amplitude como tratou o tema, uma verdadeira radiografia a partir de um ponto delimitado de Rondônia”, disse Trindade. “Foram 7 meses de trabalhos muito intensos, e foi angustiante porque a situação do povo Karipuna é muito grave”, discursou Karla do Val.
O Coordenador do IREE Direitos Humanos, Yuri Silva, entregou o diploma de menção honrosa a Raquel Lopes, da Folha de S.Paulo pela reportagem “Integrante do PCC comprou fuzil com autorização do Exército” . “A reportagem reflete um efeito colateral nefasto da liberação recente do comércio de armas no país”, destacou Silva.
“Só no governo Bolsonaro foram 17 decretos e 19 portarias publicados que flexibilizaram o acesso a armas. O próximo governo pretende fazer um ‘revogaço’, vamos monitorar assim como monitoramos o governo anterior”, declarou Lopes. Fernanda Perrin, da Folha de S.Paulo, também foi homenageada.
O jurado Pedro Dias Leite entregou o diploma de menção honrosa para a reportagem de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, do UOL, que descobriu 51 imóveis comprados em dinheiro pela família Bolsonaro. “Eles trouxeram uma investigação minuciosa e meticulosa sobre o patrimônio imobiliário da família do Presidente da República, foi um dos principais temas da campanha eleitoral, eles pautaram o debate”, disse Leite.
“Foi um trabalho construído ao longo de uma trajetória, e divido esse momento com as colegas jornalistas, por todos os ataques que nós mulheres jornalistas enfrentamos nos últimos anos”, disse Dal Piva. “Agradecemos também a todos os brasileiros e brasileiras que produziram ‘memes’ sobre os 51 imóveis, sem vocês a matéria não alcançaria tudo o que conseguiu”, brincou Herdy.
Prêmio para as áreas de economia e política
O Presidente do IREE Mercado, Henrique Machado, entregou o “Prêmio IREE de Jornalismo – Economia e Negócios” a Idiana Tomazelli e Julianna Sofia, da Folha de S.Paulo, pela reportagem “Guedes avalia aposentadoria e mínimo sem correção pela inflação passada”. “O impacto de uma matéria como essa, dada a repercussão imediata àqueles menos favorecidos, evidentemente influenciou o fim do período eleitoral”, disse Machado.
“Foi uma campanha difícil, marcada pelo discurso de ódio e pelas informações falsas, e o papel do jornalismo é justamente trazer o debate de volta para a realidade”, disse Tomazelli. Sofia agradeceu ao IREE pelo reconhecimento do jornalismo profissional, à Folha pela oportunidade e à colega de trabalho pela parceria.
Felipe Patury entregou o “Prêmio IREE de Jornalismo – Política” a Rodrigo Rangel, Fábio Leite e Jennifer Goulart, do Metrópoles, pela matéria sobre as denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães, então presidente da Caixa Econômica Federal. “Uma apuração de excelência que jamais foi questionada e sugere que muito se murmurava em Brasília sobre o que ocorria na Caixa, mas nada acontecia”, disse Patury.
“Foi uma apuração bastante delicada, que durou meses e exigiu habilidades que fomos desenvolvendo ao longo da produção, precisamos construir um cenário que desse segurança para as mulheres falarem”, disse Leite, que representou os colegas na premiação.
Lilian Tahan, diretora do Metrópoles, também recebeu homenagem. “O jornalismo neste caso mudou a realidade de muitas mulheres. Foi um trabalho de mais 20 profissionais que defenestrou um presidente de uma instituição poderosa e braço direito do Presidente da República”, destacou ela.
Prêmio IREE de Jornalismo
Silvio Almeida, Presidente do Centro de Estudos Brasileiros do IREE, entregou a premiação principal do Prêmio IREE de Jornalismo para os jornalistas André Shalders, Breno Pires, Daniel Weterman, Felipe Frazão, Júlia Affonso e Vinícius Valfré pela série de reportagens sobre o Ministério da Educação (MEC) publicada no O Estado de S.Paulo. “A investigação é notável, as reportagens partem do Orçamento Secreto e chegam ao lobby de pastores junto ao Ministério da Educação, um trabalho de equipe”, disse ele.
“Essa matéria premiada, além da malversação dos recursos, é sobre um tema muito caro para o futuro do país, que é a educação”, disse Vinícius Valfré. “A gente sabe o quanto é difícil provar atos de corrupção, e a equipe conseguiu colher indícios que levaram a essa situação que expusemos em alguns meses”, declarou Felipe Frazão. “Esse reconhecimento mostra a importância do trabalho em equipe do jornalismo e do trabalho investigativo que não fica preso aos releases e aos vazamentos de órgãos oficiais”, destacou Daniel Weterman. “É muito bacana quando você acredita em uma pauta impossível e consegue, com consequências como economia de dinheiro que seria gasto em uma licitação superfaturada”, finalizou Breno Pires.
David Friedlander, editor-chefe do Estadão, Ricardo Grinbaum, editor-executivo do Estadão, e Guilherme Eveli, editor do Estadão, também foram homenageados. “O trabalho coletivo é muito importante, e o resultado está aqui. Quero parabenizar a todos”, discursou Friedlander.
Conjunto da obra e homenagem especial
O fotojornalista Orlando Brito, falecido em março deste ano, recebeu “in memorian” o prêmio pelo conjunto da sua obra. “Orlando Brito foi um dos maiores fotojornalistas do Brasil, começou a carreira no ano do Golpe Militar, em 1964, e se tornaria um dos mais agudos intérpretes visuais da ditadura e da redemocratização”, declarou Patury.
A filha Carol Brito recebeu o prêmio em sua homenagem e dividiu lembranças sobre seu pai. “A primeira foto que meu pai tirou foi de um Presidente da República, Castello Brancos, e sua última também, de Jair Bolsonaro. Ele era completamente apaixonado pelo que fazia, tinha um olhar preciso, um olhar pontual, discreto e cheio de sensibilidade, um olhar incansável”, contou ela.
A homenagem especial do Prêmio IREE de Jornalismo foi entregue à jornalista Vera Magalhães pelo Presidente do IREE, Walfrido Warde. “O fato jornalístico absolve qualquer pergunta, é o objeto do interesse público com o que lida o jornalista, e jamais será inconveniente, ainda que cause sobressaltos e afete emoções daqueles aos quais as perguntas sejam dirigidas. De qualquer forma, fazer perguntas sensíveis requer muita coragem, e para uma jornalista de coragem que oferecemos esse prêmio”, disse Warde.
“É muita alegria receber esse prêmio, constatar a força e o vigor do jornalismo profissional e saber que todas as reportagens premiadas aqui hoje pautaram o debate eleitoral, o escrutínio necessário sobre um governo de viés autocrático. A busca pela informação tem que ser a obsessão de todas e todos nós”, disse Magalhães.
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