A decisão do coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Guilherme Boulos de retirar a candidatura para governador de São Paulo e lançar-se na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados significou uma movimentação política madura e consistente na direção de uma unidade do campo progressista que permita a primeira vitória deste espectro político no estado de São Paulo em toda a história.
Isso representa a possibilidade de derrotar o império tucano no principal estado do país – São Paulo é governado pelo PSDB desde 1995, há mais de 27 anos –, o que, por si só, já seria motivo suficiente para celebrar o “recuo” do líder sem-teto.
No entanto, há outros elementos que devem ser apontados como importantes nessa decisão. O principal deles é a contribuição desta movimentação para que o PSOL se incorpore à grande política, de alto nível, tangenciando a disputa real de poder social e distanciando-se, a cada dia, de visões estreitas e sectárias de política.
Boaventura de Sousa Santos: Para uma sociologia das ausências – da Ucrânia a Gabriel Boric
Trata-se, para um movimento social de massas como o MTST, base social principal do PSOL de São Paulo, de uma renovação do seu casamento com o povo e com o pragmatismo que conduz o pensamento dos setores mais populares.
Trocando em miúdos, não adianta estar na política se não puder influenciar de forma protagonista nela. É assim que se pensa no Brasil real. Tudo isso – e é aí que mora a novidade que a política precisa – feito sob bases programáticas, sem achaque.
Nesse sentido, a guinada de Boulos na direção de uma posição de destaque no Congresso Nacional foi precisa, capaz de, em uma só tacada, obter vitórias importantes. Listo-as.
Arrancou do PT uma promessa de apoio para as eleições municipais de 2024, quando o líder do MTST deve disputar a Prefeitura Municipal de São Paulo; garantiu a ampliação da bancada do PSOL no Congresso de forma significativa, puxada pela votação esmagadora que ele deve ter nas urnas em 2022; alinhavou um apoio nacional ao ex-presidente Lula e uma porta de possível participação no próximo governo federal; além de ter aparecido como elemento definidor da possível futura eleição de Fernando Haddad para o governo de São Paulo.
Consolidados, esses marcos serão responsáveis por marcar o PSOL como parte do projeto que unificou a esquerda e setores democráticos da política nacional para derrotar o bolsonarismo e seus signos e símbolos. Mais que isso, coloca o partido no centro do campo político até aqui liderado pelo PT, mas como alternativa independente.
Parafraseando o que já escrevi por aqui, a movimentação corajosa e brilhante do PSOL de Boulos ajuda que o partido evolua de mero descendente do petismo para herdeiro político natural da base social que fará Lula presidente do Brasil novamente. Mas com criticidade e perspectivas políticas arejadas, corrigindo os erros históricos que foram cometidos.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Yuri Silva
É Diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo, no Ministério da Igualdade Racial. Foi Coordenador de Direitos Humanos do IREE. Jornalista formado pelo Centro Universitário Jorge Amado, é coordenador nacional licenciado do Coletivo de Entidades Negras (CEN), editor-chefe do portal Mídia 4P – Carta Capital, e consultor na área de comunicação, política e eleições. Colaborou com veículos como o jornal Estadão, o site The Intercept Brasil, a revista Piauí e jornal A Tarde, de Salvador. Especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas à questão racial na sociedade de forma geral e na política. É Membro do Diretório Estadual do PSOL de São Paulo.
Leia também

Henrique Vieira: Radicalização à direita vai além dos evangélicos
Continue lendo...
Cláudio Castro: Relação com governo Lula está muito boa
Continue lendo...