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A última edição do Boletim Semanal traz a análise sobre Crescimento Econômico, Setor externo e Câmbio.
CRESCIMENTO, SETOR EXTERNO E CÂMBIO
O fim do carregamento estatístico
Os dados compilados até o momento e as expectativas quanto à performance da economia brasileira para os próximos trimestres atestam que as taxas de crescimento podem ter tido um fim prematuro. O IBC-Br, proxy do resultado do PIB calculado pelo Banco Central, veio abaixo das projeções de mercado e a passagem do segundo para o terceiro trimestre deve confirmar, nos dados do PIB trimestral, uma desaceleração da economia.
Nos dados já consolidados, o IBC-Br apresentou um recuo no mês de setembro, na comparação com agosto, de 0,27%. Se a comparação for em relação ao ano anterior, o recuo com relação ao mês de agosto do presente ano foi de 4,75% e em relação a setembro de 1,52%. As variações bastante expressivas nas comparações mensais eram explicadas pelo elemento do carregamento estatístico, ou seja, frente a uma queda muito substancial da economia brasileira em face dos momentos mais dramáticos da pandemia, as recuperações posteriores tendiam a ser maiores em função da dirimida base de comparação. Ainda que vivenciássemos taxas elevadas de crescimento mensais/trimestrais, comparando-as com a queda anterior, no agregado, ainda estávamos abaixo da capacidade ou do padrão de crescimento pré-pandemia.
Gráfico 1: IBC-Br variação (%) mensal
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: CEE/IREE
Ocorre que nesse estágio atual o elemento do carregamento estatístico parece ter tido seu fim e os resultado a partir agora demonstram que estamos vivenciando indicadores mais realistas de atividade econômica, que demonstram uma economia andando de lado, alternando entre se manter estável em patamar de baixo crescimento, com recuos pontuais.
O recuo mais recente da atividade foi motivado por uma retração nos três principais setores da economia, como detalharemos melhor na parte dedicada aos “setores” neste boletim. Já apontávamos, há várias edições, o caráter errático e heterogêneo da recuperação desigual. No entanto, em setembro de 2021 até mesmo o setor de serviços, que vinha liderando a recuperação, apresentou recuo com relação ao mês anterior. O que é mais significativo, no entanto, é que o recuo da atividade serviço ocorreu pari passu com a maior generalização da imunização coletiva e abertura total das atividades que exigem contato social. Desta feita, outros elementos que não as restrições da mobilidade devem ser mobilizadas para descortinar suas causas. Levantamos, como hipótese, a persistente alta no nível de preços, que faz corroer a renda real – principalmente dos trabalhadores mais pobres – que optam pela garantia de bens de primeira necessidade em contraposição ao consumo de serviços; a queda da renda média que ocorre a despeito da redução do desemprego e o aperto das condições financeiras com o encarecimento do custo do crédito que tem relação direta com a opção de política monetária com relação ao combate à inflação.
A inflexão na trajetória de algum nível de crescimento já é sentido com o encerramento de um longo período de sequenciais resultados positivos no que tange aos Índices de Confiança calculados pelo Ibre/FGV, que encerraram o terceiro trimestre de 2021 em queda. Somente no mês de setembro do corrente ano, a Confiança Empresarial recuou 2,5 pontos, enquanto a Confiança dos Consumidores recuou nada menos que 7,2 pontos e a distância entre os dois níveis de confiança abriu a maior distância da série histórica.
A inflação de custos, tanto a ligada a ainda desorganização das cadeias globais de suprimentos, quanto a desvalorização cambial e aos preços administrados – em especial os ocasionados pela crise hídrica – penalizam consumidores e empresários, principalmente do setor industrial. As indústrias que atuam no território brasileiros estão com dificuldades na aquisição de insumos e matérias primas, e – quando as adquirem – as fazem com preços elevados e que, em função da deterioração da renda interna – não conseguem ser plenamente repassados aos preços finais, impondo derretimento das taxas de lucro.
Segundo o Ibre/FGV o percentual de empresas que reportaram estarem sofrendo escassez de matéria-prima como uma limitação para os seus negócios ainda é deveras elevado. Não somente isso, também consta na pesquisa da entidade que a alta gradual dos juros internos e também os ricos internacionais – em especial os atrelados a expectativa de desaceleração do crescimento chinês – afetam sobremaneira as expectativas do segmento industrial.
Ainda no que tange ao cenário internacional, as condições deveras favoráveis de inserção brasileira e retomada do crescimento via setor externo também parecem estar esmorecendo precocemente. Ainda falando da China, a escassez de energia e os compromissos governamentais com a contenção do uso de combustíveis fósseis e redução na emissão de gases poluentes também reduziram o crescimento chinês e preocupam a demanda por nossos produtos. Ainda nas fronteiras externas brasileiras, preocupações importantes quanto à inflação se generalizam pelas principais economias do mundo. Nos Estados Unidos a inflação chegou a 6,2% no acumulado dos últimos 12 meses e é, simplesmente, a maior desde novembro de 1990. O que deslinda a inflação global, sobretudo em países de moeda forte em que a desvalorização cambial não é o agente principal, são as desorganizações nas cadeias de suprimento global que causam escassez de insumo no mercado internacional. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficam mais elevados. Mesmo com os resultados positivos na indústria europeia no mês de setembro, os gargalhos de oferta devem persistir como elementos de pressão inflacionária.
No que tange ao cenário externo, como já vínhamos apontando nos boletins pregressos, o avanço no ritmo de normalização das atividades econômicas internas tende a reverter os ganhos obtidos nos termos de troca durante o período mais intenso da pandemia. Segundo dados da COMEX, o valor total das exportações – no acumulado até setembro em relação ao mesmo período de 2020 – ainda supera o das importações, mantendo superavitária a balança comercial, porém a margem tem se estreitado.
Segundo o Boletim Macro do Ibre/FGV o desempenho das exportações depende principalmente das commodities, as quais representaram 69,7% do total das vendas externas efetuadas pelo Brasil entre os meses de janeiro a setembro de 2021 e explicaram 75,5% do aumento registrado, por sua vez, no valor total das exportações. Em que pese as condições favoráveis, envolvendo a desvalorização cambial e o aumento dos preços do mercado internacional, os dados mais recentes apontam, contudo, que a tendência é de elevação dos preços dos produtos importados. Até o mês de julho de 2021 o que explicava o bom desempenho das exportações brasileiras eram os preços das commodities e as importações avançavam no volume. No entanto, nos meses posteriores a tendência é de manutenção dos preços das commodities e de elevação não somente no volume importado, mas, sobretudo, no preço dos produtos e serviços importados, demonstrando a pressão inflacionária atual atuando concomitantemente a desvalorização do real.
O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.
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