A última edição do Boletim Semanal de Política Econômica de junho de 2021, produzido pela equipe do Centro de Estudos de Economia do IREE, traz a análise sobre Crescimento Econômico, Setor externo e Câmbio.
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Crescimento, câmbio e setor externo
No boletim mensal de maio tratamos de forma desagregada dos componentes que contribuíram para o crescimento de 1,2% da economia brasileira expresso no indicador do PIB do primeiro trimestre de 2021. Em que pese a heterogeneidade da recuperação brasileira, assentada especialmente em setores mais capital intensivos, poupadores de mão de obra, trazemos alguns novos elementos para uma compreensão mais profunda das bases que têm sustentado essa desigual e frágil recuperação.
O crescimento do PIB, maior do que o esperado pelas instituições que acompanham e projetam o indicador, tem como uma de suas causas uma mudança relativa na cesta de consumo dos brasileiros, influenciada pela dinâmica da pandemia e pela decorrente necessidade de redução do contato social. Nesse sentido, houve um deslocamento de parte expressiva da demanda por serviços para a demanda por bens de consumo. Uma vez que a carga tributária incidente sobre esses bens é mais elevada, isso explica o aumento da arrecadação e, conjuntamente com a inflação que têm incidido nessas mercadorias, ajuda a explicar o crescimento do PIB a preços de mercado. No entanto, isso concorre como um dos elementos que explica a possibilidade de crescimento a despeito do elevado e persistente desemprego, uma vez que o setor de serviços é o principal absorvedor não só de mão de obra em geral, senão que da parcela da força de trabalho que aufere menor renda.
Além disso, um artigo recente do pesquisador Ailton Braga, a partir da comparação entre o agregado do “PIB” e a “demanda agregada”, argumenta que se forem dessazonalizados os dados, especialmente no que tange ao acúmulo dos estoques, o PIB brasileiro teria recuado 0,3% em vez de ter apresentado aumento de 1,2% na margem.
Para o pesquisador, as variações recentes na demanda agregada, que teve queda no 1º trimestre de 2021, refletem melhor o desempenho recente da economia brasileira do que a análise feita através do PIB, que teve seu cálculo inflado pelo acúmulo de estoque e por questões técnicas relativas ao ajuste sazonal das séries do PIB trimestral.
No ano de 2020, o movimento dos estoques fez com que o PIB caísse mais do que a demanda agregada. Relembrando: para o ano, o total de retração do PIB foi de 4,1%, enquanto o total da demanda agregada foi de 3,4%. Já no primeiro trimestre de 2021 o movimento foi oposto. Com a recuperação dos estoques, o crescimento do PIB foi maior do que o da demanda agregada. Entendemos, então, que a queda dessazonalizada da demanda agregada no 1º trimestre deste ano indica melhor o momento da economia, bem como suas perspectivas, já que o crescimento do PIB, no 1º trimestre, inflado pela recuperação de estoques, está refletindo com atraso os fortes estímulos fiscais ocorridos ao longo de 2020.
O IBC-br, que é uma proxy do PIB calculada pelo Banco Central, veio com alta de 0,44% em abril em relação a março de 2021. De um ponto de vista mais geral, isso significa um patamar de estabilização, com um comportamento de crescimento de lado quando se compara ao tombo mais significativo da economia brasileira em 2020.
A boa notícia pode estar no ritmo mais célere do que o esperado para a vacinação brasileira. Não obstante as tratativas lentas de Bolsonaro e sua equipe com as principais fornecedoras de vacina, a existência do SUS é um grande trunfo brasileiro no que tange à logística de vacinação. A vacinação generalizada é condição necessária para a retomada plena da atividade econômica. Após um recuo em maio, o mês de junho tem protagonizado os maiores recordes diários de aplicações de doses. No atual ritmo, o segundo semestre irá findar com a imunização concretizada.
Do ponto de vista do setor de externo, o mesmo fenômeno que contribui para uma melhor performance da economia brasileira – a melhoria nos termos de troca – é também responsável por problemas alocativos internos. O preço do minério de ferro, que tem contribuído para a elevação da renda exportadora, foi alçado como principal fonte de pressão inflacionária divulgada pelo IGP-DI, no qual avançou mais de 17%. Nesse caso especificamente, no entanto, a alta do preço tem trajetória conjuntural e está ligada a embaraços diplomáticos e comerciais do governo Chinês com o Australiano, um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro. A desorganização na estrutura de oferta somada ao aumento da demanda chinesa tem pressionado o preço pra cima.
O aumento no volume exportado e, sobretudo, no preço dessas mercadorias, somados a ainda lenta recuperação da economia brasileira fez com que o superávit da balança comercial fosse o maior da série histórica do mês de maio desde 1997. No que tange ao resultado acumulado até maio de 2021, esse também foi um recorde na série história, perfazendo o total de US$ 27,1 bilhões.
Importante notar que do ponto de vista proporcional, na comparação interanual entre o mês de maio de 2020 e maio de 2021, o que mais cresceu foram, justamente, as importações, com crescimento de 65,3% enquanto para as exportações o crescimento foi de 53,8%. No entanto, é necessário atentar para o fato de que maio de 2020 foi o mês seguido do período auge da pandemia, o que faz o aumento proporcional ser muito influenciado pela base de comparação.
O setor externo, nesse momento, é a prova da necessidade de não “essencializar” categorias econômicas. Aparentemente “superávit comercial” poderia parecer, em uma análise superficial, algo “bom” em termos abstratos. No entanto, em que pese o avanço das importações, especialmente no volume de mercadorias, esse superávit diz mais sobre as debilidades da nossa recuperação do que sobre transformações estruturais da nossa balança. Isso porque o superávit está ocorrendo a despeito da queda da renda interna, o que dirime o potencial de aquisição de bens de consumo importados. Não só isso, a desvalorização cambial e o aumento dos preços relativos concorrem muito mais para explicar a posição internacional da economia brasileira do que fatores estruturais endógenos internos.
O mesmo se pode dizer sobre o superávit nas Transações Correntes. Embora menor em relação a abril, no mês de maio o Brasil voltou a apresentar superávit nas Transações Correntes de quase US$ 3,8 bi. Alguns elementos concorrem para explicitar esse fenômeno pouco usual em economias subdesenvolvidas como a brasileira: o primeiro delas foi o comportamento da balança comercial, como já explicitado acima, que decorre da demanda aquecida pelas commodities que o Brasil exporta somada à desvalorização cambial. O segundo diz respeito à balança de serviços, e tem ligação com a baixa imunização brasileira, de forma geral, que impacta a capacidade da população de viajar e gerar renda no exterior. Além disso, nesse caso o superávit nas transações correntes também denota o caráter do processo recessivo pelo qual atravessa a economia brasileira.
Dessa feita, a normalização da atividade econômica, curiosamente, tende a nos fazer retomar a posição deficitária tanto na balança comercial quanto, sobretudo, nas transações correntes de forma geral. Isso deve ocorrer tão logo elementos exógenos a esse período se normalizem, especialmente os preços dos produtos internacionais e os fluxos internacionais que tendem a apreciar, novamente, o real frente ao dólar.
O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.
Veja também:
Boletim Mensal de Política Econômica – Maio de 2021
Boletim Mensal de Política Econômica – Abril de 2021
Boletim Mensal de Política Econômica – Março de 2021
Boletim Mensal de Política Econômica – Fevereiro de 2021
Boletim Mensal de Política Econômica – Janeiro de 2021
Boletim Mensal de Política Econômica – Dezembro de 2020
Boletim Mensal de Política Econômica – Novembro de 2020
Boletim Mensal de Política Econômica – Outubro de 2020
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