Boletim econômico traz análise sobre Mercado de Trabalho, Desigualdade e Políticas Sociais – IREE

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Boletim econômico traz análise sobre Mercado de Trabalho, Desigualdade e Políticas Sociais

Confira aqui a análise sobre Mercado de Trabalho, Desigualdade e Políticas Sociais produzida pelo Centro de Estudos de Economia do IREE, na edição semanal do Boletim de novembro de 2021!

O Brasil ainda não havia logrado se recuperar da grande crise econômica que marcou os anos de 2015 e 2016 quando foi acometido pela crise do novo coronavírus. Mais que isso, a trajetória de recuperação rastejando que selou os anos subsequentes a queda expressiva do PIB foi acompanhado de aumento das desigualdades sociais, como decorrência de um padrão de recuperação econômica com deterioração dos principais indicadores do mercado de trabalho e redução dos gastos sociais, notadamente redutores de desigualdades.  

Gráfico 1: Evolução do Índice de Gini

Fonte: IBGE. Elaboração: CEE/IREE

O gráfico acima expressa, por um lado, a correlação existente entre o aumento das que desigualdades e o período de grave crise da economia brasileira mas, no entanto, também expressa o fato de que as opções de política econômica embalaram a tímida recuperação pós 2016 caminharam pari passu com o agravamento das desigualdades.

A pandemia, pelas características pregressas de avanço no nível das desigualdades e de deterioração das relações mais protegidas no mercado de trabalho, somada com uma economia que já apresenta retração no nível de atividade econômica no terceiro trimestre de 2019, aprofundou as desigualdades e impõem desafios decisivos para a atual crise econômica não descambe para uma crise social sem precedência na história brasileira.

A contração da renda do trabalho em função da destruição de postos de trabalho, ocasionado, sobretudo, pelo fechamento de micro e pequenas empresas que dependem da interação social e que são mais absorsoras de mão-de-obra impõem a urgência de política focalizadas distributivas, enquanto o mercado de trabalho se recupera em nível mais lento. As lamentáveis cenas de desmaios ocasionadas pela fome e a notícia de que mais da metade da população brasileira vive sob insegurança alimentar deve precipitar um conjunto mais enérgico e célere de ações governamentais.

Atualmente são mais de 4 milhões de “novos pobres” que a pandemia e a condução das políticas de garantia de trabalho e renda têm logrado no Brasil.  A proporção de pobres – conceituados como aqueles que recebem renda per capita mensal de até R$ 261 reais, que era 10,97% em 2019 pulou para 16,1% da população. Em números absolutos isso significa que 34,3% da população vive no que é considerada internacionalmente como “abaixo da linha da pobreza”. 

Em que pese a existência de um novo programa social, o Auxílio Brasil, pelo seu escopo, 29 milhões de pessoas que receberam o auxílio emergencial – portanto estavam elegíveis pelas condições do programa – não receberão qualquer tipo de auxílio no próximo ano, empurrando um grave problema social, com fortes dimensões econômicas, para frente. 

O aumento da pobreza e a consequente insegurança alimentar dela derivada repousam na desestruturação de políticas públicas específicas – a começar pelos estoques reguladores-; na inflação de alimentos, mas, prioritariamente, no maior impacto que a pandemia logrou no mercado de trabalho entre os mais vulneráveis. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, segundo dados da Pnad contínua, a renda dos 30% mais pobres encolheu 22% e a diferença entre os 30% mais pobres e o 1% mais ricos ficou a maior da série histórica, olhando apenas para a renda do trabalho. O topo da pirâmide, excluindo rendas do capital, auferiu 60 vezes mais renda do trabalho do que os 30% mais pobres.

Em que pese a recuperação no mercado esteja ocorrendo a partir dos trabalhadores informais e por conta própria, portanto, absorvendo esse contingente que foi expulso da população ocupada no pico da pandemia, ainda assim o grupo dos menos escolarizados é maioria entre os desempregados. No segundo trimestre de 2021, o desemprego de trabalhadores com o ensino médio incompleto ficou em 22,6%, representando, com isso, três vezes mais do que o desemprego de trabalhadores com ensino superior completo.

O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.



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