Confira aqui a análise sobre setores produzida pelo Centro de Estudos de Economia do IREE, na edição semanal do Boletim Econômico de fevereiro de 2022!
Desempenho dos setores econômicos em 2021
Sem surpresas, o ano de 2021 foi encerrado com desempenho frágil dos setores da economia. Ao longo do ano todo, apontamos a oscilação entre resultados positivos e negativos, e a dificuldade de recuperação por conta da insuficiência da demanda interna. O atraso na vacinação, o elevado e persistente patamar de desemprego, o fim do auxílio nos primeiros meses do ano e retomada do benefício em valor substancialmente inferior, e a aceleração da inflação estiveram no centro dos obstáculos enfrentados pela economia para a recuperação.
Desempenho dos setores: Indústria
Com a divulgação dos dados de dezembro pelo IBGE, a indústria registrou alta de 3,9% no ano, todavia, insuficiente para compensar a perda de 2020, permanecendo 0,9% abaixo do patamar anterior à pandemia. Não apenas a alta do ano não reflete uma recuperação robusta, como também mascara um comportamento oscilante e até uma perda no ano: apenas em 3 meses de 2021 houve crescimento em relação ao mês anterior, e dezembro de 2021 registrou volume de produção 4,1% inferior à dezembro de 2020.
Observando mais à fundo o resultado da indústria, percebe-se que o subsetor mais impactado e com menor recuperação foi o segmento de bens de consumo, refletindo o baixo dinamismo da demanda doméstica, com o elevado desemprego e corrosão do poder de compra pela inflação. Por outro lado, observando a balança comercial da indústria é possível observar o movimento de perda de complexidade da produção industrial doméstica. Para além do maior déficit da indústria de transformação – apesar do aumento das exportações – que não pode ser visto strictu sensu como um resultado “ruim”, uma vez que o aumento de importações não é algo necessariamente danoso para a economia (pode ser reflexo de elevado dinamismo, por exemplo), o que preocupa é a deterioração da produção – e comercialização – de produtos de maior intensidade tecnológica.
Segundo Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), esta deterioração preocupa por serem setores que não só propiciam maior dinamismo econômico, como também propiciam maior inserção nas cadeias globais de valor. José Augusto de Castro, presidente da AEB, aponta que a participação de manufaturados na balança comercial foi a mais fraca desde 2000, apresentando limitações para recuperação de empregos – sobretudo de maiores salários.
Desempenho dos setores: Varejo
O desempenho do comércio varejista também não foi motivo de grandes comemorações no ano. Dentre os segmentos do varejo, menos de 30% terminou o ano em patamar superior ao anterior à pandemia. Destaques negativos foram os segmentos de livros, jornais e papelaria (-34,3%), equipamentos de escritório, informática e comunicação (-14,8%), móveis e eletrodomésticos (-12,9%) e combustíveis e lubrificantes (-12,4%). Assim, apesar do crescimento no ano, de 4,5% (varejo ampliado), o setor também encerrou 2021 abaixo do patamar de dezembro de 2020, -3,1% no conceito restrito e -2,2% no conceito ampliado.
A demanda interna também aqui pode ser considerada a principal restrição à recuperação. A perda de renda real pelas famílias, causada pela combinação do elevado desemprego e achatamento dos salários – com elevação da informalidade e das formas intermitentes de contratos de trabalho – com aceleração do nível de preços, corroeu o poder de compra, restringindo o consumo. Por outro lado, pode se somar em alguns segmentos pontuais a elevada base de comparação de 2020, como é o caso do segmento de supermercados, alimentos, bebida e fumo, que possui parcela expressiva da composição do varejo ampliado (quase um terço), que teve desempenho positivo em 2020 pelo isolamento social. Assim, em parte – ainda que bastante menos expressiva do que as causas do arrefecimento da demanda – o desempenho menos sólido do setor varejista também foi motivado por uma compensação no setor de serviços, que havia tido a pior recuperação em 2020, e voltou a ocupar uma parcela maior com o retorno das atividades presenciais.
Desempenho dos setores: Serviços
Os serviços, por sua vez, que haviam encerrado o ano de 2020 sem recuperar o patamar anterior à pandemia, finalmente reconquistaram suas perdas. O setor encerrou o ano com crescimento de 10,9% – após queda de 7,8% em 2020 – e 6,6% acima do patamar de fevereiro de 2020. Sua recuperação é fundamental para a retomada do emprego, uma vez que é aquele com maior participação na empregabilidade, com atividades intensivas em mão de obra.
Todavia, pelos dados do desemprego, era de se esperar que essa recuperação da atividade não estivesse exatamente alinhada com a criação pari passu de postos de trabalho. Isto porque os segmentos com maior participação no emprego ainda enfrentam dificuldades e ritmo moroso de recuperação. Este é o caso dos serviços prestados às famílias que, apesar do crescimento de 18,2% em 2021, ainda se encontram 11,2% abaixo do nível de fevereiro de 2020. Similarmente os serviços profissionais, administrativos e complementares ainda se encontram 0,2% abaixo de fevereiro do ano anterior, apesar da alta de 7,3% no ano recém-encerrado. Por outro lado, segmentos menos intensivos em trabalho e favorecidos pelo teletrabalho, como é o caso de serviços de informação e comunicação registraram a menor queda em 2020, de apenas 1,6%, e apontaram crescimento de 9,4% em 2021, encerrando o ano 12,8% acima do patamar anterior à pandemia.
As perspectivas para 2022 não motivam projeções positivas para os serviços. A expectativa de estagnação econômica ou até mesmo recuo da atividade apontam um novo ano de dificuldades para o desempenho da economia. Por exemplo, o indicador de confiança da FGV em janeiro de 2022 para a indústria figurou abaixo dos 100 pontos, pela primeira vez desde agosto de 2020. A confiança dos empresários do setor de serviços, também medida pela FGV, registrou queda em janeiro e registrou o pior resultado desde maio de 2021. Finalmente, a confiança do setor de comércio apresentou a quinta queda consecutiva, figurando o pior valor desde abril do ano passado.
O Boletim de Política Econômica do IREE é produzido pela economista-chefe Juliane Furno e pelos assistentes de pesquisa Daniel Fogo e Lígia Toneto.
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