Clique no link abaixo e leia o Boletim de Política Econômica do IREE de Dezembro de 2020, produzido pela economista-chefe Juliane Furno!
Boletim IREE de Política Econômica – Dezembro de 2020
Confira os principais temas abordados:
CRESCIMENTO ECONÔMICO, CÂMBIO E SETOR EXTERNO
Em dezembro saiu o resultado do PIB brasileiro do terceiro trimestre, um crescimento expressivo de 7,7% em relação ao trimestre anterior. No entanto, não se engane. Ainda que batendo um recorde, a variação trimestral elevada é muito mais decorrência do carregamento estatístico anterior – ou seja, uma base de comparação muito deprimida – do que de uma performance extraordinária.
A propósito, o crescimento de 7,7% ainda foi abaixo do que eram as perspectivas do mercado, que propagavam a possibilidade de uma recuperação mais robusta. A tão alardeada recuperação em “V” ainda não se concretizou, apesar de setores como o comércio e a indústria já terem recuperado os níveis pré-pandemia.
De forma agregada, a economia brasileira permanece 4,1% abaixo do último trimestre de 2019 e 7,3% abaixo do pico de geração de riqueza interna pré-crise de 2015-2016. As perspectivas para o 4º e último trimestre de 2020 não muito alentadoras. Desde outubro, tanto a indústria quanto o comércio apresentaram recuos expressivos nas variações mensais de crescimento. Os índices de confiança de empresas e consumidores, apresentados pelo Ibre/FGV, sinalizam desaceleração no nível de atividade, o que tem como motivação a preocupação com a segunda onda de contaminação da Covid-19 e o fim dos programas de manutenção do emprego e renda e das transferências monetárias. (…)
POLÍTICA FISCAL
Ainda que o endividamento bruto e líquido do Brasil esteja elevado para os padrões de países de renda média similar à nossa, os alardes com respeito às possibilidades de insolvência ou de interrupção da capacidade de financiamento via emissão de dívida não parecem se sustentar.
O Tesouro Nacional levou 2,5 bilhões de dólares em uma emissão no mercado externo, com títulos de 5, 10 e 30 anos. O fato marcante foi a redução do prêmio de risco nesses papéis, mesmo com o elevado montante de endividamento doméstico. Os títulos para 30 anos, que foram emitidos 750 milhões de dólares, tiveram como taxa de retorno um juro de 4,5%.
A situação atual de elevado endividamento público, não só do Brasil, mas das principais economias do mundo, somada à marca histórica das menores taxas de juros aplicadas nessas mesmas economias têm ensejado crítica contundentes aos dogmas do pensamento ortodoxo.
Na esteira desse debate, André Lara Resende publicou um texto no Jornal Valor Econômico respondendo porque Sumers e Bernanke agora defendem uma política fiscal expansionista, a partir do consenso ensejado em um seminário realizado por duas das mais influentes instituições de Washington, a Brookins e o Peterson Institute. (…)
POLÍTICA MONETÁRIA, JUROS E INFLAÇÃO
A inflação gerou surpresa nesse fim de ano. O IGP-M, fechou os 12 meses com alta de 23,14%, após registrar elevação de 0,96% em dezembro, mas já em clima de desaceleração, na comparação com os meses anteriores. O IPA-10, índice que preocupava demasiadamente pelas sucessivas altas, também registrou desaceleração. Em dezembro, o índice de preços ao produtor amplo registrou queda.
Ainda assim, é importante ressaltar que a inflação dos preços no atacado está bem mais elevada que ao consumidor. O choque de custos não conseguiu ser repassado na sua integralidade aos consumidores em função da queda acumulada da renda e da deterioração do mercado de trabalho.
Para o consumidor, a inflação de doze meses medida pelo IPCA alcançou 4,3%, ficando levemente acima da meta estabelecida pelo Banco Central. Caso a inflação dos alimentos – que representa 21,1% – fosse excluída desse cálculo, a variação cairia para 1,7%.
Dentre os motivos que explicam a aceleração inflacionária temos, em primeiro lugar, a depreciação do real, que somou 43,2% do ano até o final de outubro e a alta acentuada do preço das commodities e de outros bens intermediários na cotação internacional. (…)
DESIGUALDADE, MERCADO DE TRABALHO E POLÍTICAS SOCIAIS
O principal destaque para dezembro é o fim – na nossa visão prematuro – do Auxílio Emergencial, em meio a segunda onda de contágios e da ausência de um plano nacional de vacinação. A partir de 1º de janeiro, ao menos 40 milhões de pessoas deixarão de receber o benefício.
Segundo o Datafolha, o auxílio emergencial é a única renda de 36% dos que recebiam o benefício. Ainda de acordo com a pesquisa, 75% dos beneficiários já reduziram a compra de alimentos; 55% cortaram despesas com remédio; 57% diminuíram o consumo de água, luz e gás enquanto 51% dos beneficiários deixaram de pagar contas da casa. Outra rubrica de redução dos gatos foi no transporte, no qual 65% dos beneficiários indicou redução e 27% declararam ter deixado de pagar escola ou faculdade.
A redução desses gastos não só atinge os direitos humanos fundamentais quanto terão impactos no mercado interno, por ampliarem a já resiliente contração da demanda agregada. O cenário de elevação da pobreza, queda da renda e aumento das desigualdades tem como vilão não apenas o fim do Auxílio Emergencial, mas também a situação estrutural e conjuntural do mercado de trabalho.
Metade das negociações de reajuste salariais de 2020 ficaram abaixo da inflação. Menos de 1 em cada 10 acordos conseguiu algum ganho real, e os demais apenas repuseram a inflação. Apenas a título de exemplo, em 2012 – segundo do DIEESE – 94,5% das negociações salariais tiveram ganho real, acima do índice agregado do INPC. (…)
SETORES: INDÚSTRIA
A principal questão da indústria brasileira nos meses finais de 2020 foi, sem dúvida, o fenômeno da escassez, do atraso nas entregas e o aumento do seu preço das matérias primas. A desorganização dos fluxos internacionais de comércio, causada pelas consequências da pandemia, fez com que 77% das micro e pequenas indústrias de São Paulo sofressem com a falta de matéria prima; 70% receberam insumos com atraso e 91% sofreram com os preços mais elevados.
Há diversas razões que podem nos conceder uma visão mais complexa desse fenômeno. A primeira delas diz respeito ao aumento do preço das matérias primas que têm cotação no mercado internacional. A segunda razão diz respeito à redução da oferta desses produtos, pela natureza da pandemia que exigiu redução da produção pela necessidade de isolamento social e a paralisia de setores não fundamentais durante a fase mais intensa do contágio.
A terceira razão é a desorganização global dos fluxos de comércio, que confere maiores dificuldades às economias dependentes de importações e, por fim, o fato de que várias empresas nacionais dos setores intermediários da cadeia produtiva da indústria de transformação quebraram com a pandemia, o que também reduziu a oferta doméstica. A quarta e última razão tem relação com a recuperação em “V” do setor industrial, que está demandando muito mais componentes para a produção. (…)
SETORES: FINANCEIRO
O mercado financeiro doméstico tem surpreendido positivamente, mostrando forte dinamismo no findar de 2020. A taxa de câmbio se apreciou, a Bolsa de Valores vem registrando recuperação forte desde novembro e há uma queda nas taxas de juros de mercados em diversos indicadores, como na estrutura a termo das taxas de juros nominal, obtida do mercado secundário de títulos públicos federais, nos contratos de DI Futuro e nos leilões primários do Tesouro Nacional.
Segundo o Ipea, uma das razões para essa performance exitosa é a demanda internacional em alta por ativos de maior risco nos países emergentes. A perspectivas de resiliência dos juros internacionais em patamares baixos faz crescer o apetite por ativos de maior risco, o que é potencializado por um melhor humor dos mercados com a expectativa da vacina e do retorno à normalidade.
A Bolsa de Valores zerou as perdas acumuladas do ano e superou os 116 mil pontos em dezembro. Desde o pior momento em 2020 da Bolsa, registrado em 23 de março, o índice já subiu 82,7%. (…)
SETORES: COMÉRCIO E SERVIÇOS
A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC/IBGE) apontou um crescimento de 0,9% no mês de outubro, sexto mês de alta. No acumulado do ano, a receita nominal teve um crescimento de 4,9% e o volume de vendas ficou em 0,9% no varejo restrito. No ampliado, a receita acumulada do ano foi de 1,3% e no volume de vendas, que incluiu veículos, motos, pelas e material de construção de -2,6%.
O comércio varejista, que apresentou variações positivas na comparação mês a mês desde maio parece ter estacionado. Ainda que apresentando crescimento positivo, destaca-se a forte desaceleração no ritmo de crescimento. As incertezas, o mercado de trabalho deteriorado e, principalmente, a queda do valor do Auxílio Emergencial concorrem para explicar esse comportamento.
O setor de serviços, mais prejudicado pela natureza da pandemia, embora esteja se recuperando ainda acumula perdas expressivas no cômputo do ano. A receita de serviços, de acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços, avançou 1,7% entre setembro e outubro. Em que pese essa performance pontualmente positiva, o setor ainda está 6,1% abaixo do registrado em fevereiro, último mês antes do fechamento das atividades. (…)
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