Até logo! – IREE

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Até logo!

Yuri Silva

Yuri Silva
Jornalista



Essa coluna não é uma despedida, porque ninguém se despede da casa que o acolheu. A ida para outra moradia é sempre um até logo, sobretudo quando falamos de um lugar tão especial como o IREE. Apesar disso, esse texto carrega sentimento dúbio de leve tristeza e enorme felicidade.

O fato negativo é a necessidade de deixar os quadros do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, espaço que, para mim, nunca foi somente um trabalho, mas, sim, local de muitas reflexões, aprendizados, crescimento intelectual e oportunidade de formulação política acerca de um Brasil que carece de valorização dos direitos humanos e da sua negritude.

O enredo positivo, motivador ao mesmo tempo de muita alegria e desse “até logo”, é a minha nomeação, no Diário Oficial deste 23 de fevereiro, como Diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo, órgão da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial (MIR). Nesse espaço, serei responsável direto pelas pautas de combate ao racismo transversais, pelas políticas para a juventude negra e pelos diálogos internacionais antirracistas.

Terei, a partir de agora, chance de servir ao Brasil, por dentro do Estado, com aquilo que aprendi tanto no IREE ao longo dos últimos dois anos como Coordenador de Direitos Humanos do instituto como ao longo dos últimos cinco anos ocupando a Coordenação Nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), organização do movimento social negro brasileiro que me formou, me educou e me conduziu até aqui por meio de muita luta coletiva.

Primeiro no CEN, onde agora sou licenciado da Coordenação Nacional, e depois no IREE, para onde dou esse “até logo”, pude compreender melhor a complexidade da sociedade que tentamos diuturnamente aperfeiçoar, do jogo do racismo que combatemos com formulações conceituais e ações concretas e da dureza da exclusão social que caracteriza o Brasil, mas também olhar com mais lupa para a engenharia do poder e uma faixa cinza situada no meio de certezas polares que muitas vezes não são opostas, para a importância da pactuação de políticas públicas inovadoras, para a relação do Estado brasileiro com o setor privado e vice-versa e, principalmente, aprender sobre a virtuosidade do diálogo.

Essas duas organizações, cada uma ao seu modo, se debruçam todos os dias sobre analisar essas questões e, por meio da articulação de consensos em prol do país, construir um Brasil mais habitável, em que crianças, em especial crianças negras e pobres, não passem fome nem estejam fora da escola. Um outro e novo Brasil possível, representado fortemente pela esperança e espírito de reconstrução que fez o povo brasileiro apostar em um Governo Lula III.

Curioso e nenhuma coincidência, portanto, que eu seja fruto dessas duas organizações e esteja agora assumindo missão importante justamente neste governo. Sinto uma grande empolgação para poder construir alternativas para as questões complexas que enfrentamos e espero, sem falsa modéstia, estar à altura do povo negro do Brasil, que tantas demandas grita e chora a cada despertar para labutar antes mesmo do sol nascer.

Contarei com cada um que participou da minha trajetória até esse momento e, por isso também, quero agradeço especialmente a algumas pessoas:

Às minhas mãe e avó, que deram a vida para que eu chegasse aqui;

A toda direção do CEN, especialmente ao inquebrantável guerreiro Marcos Rezende e a Luiz Paulo Bastos, Iraildes Andrade e Hamilton Ribeiro,

Ao presidente do IREE, um mentor exigente e amoroso, Walfrido Warde;

A toda equipe do instituto, especialmente ao vice-presidente Valdir Simão, ao diretor cultural, Rafael Valim, ao ex-colega de IREE e agora ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Luiz de Almeida, à incansável e infalível Secretária Executiva do IREE, Paloma Marques, e a Samantha Maia, responsável por essa coluna chegar até vocês todos os meses;

E por último, mas não menos importante, aos queridos amigos Guilherme Boulos, Natália Szermeta e Severino Souto, figuras que dirigem o meu partido, o PSOL, onde eu também ocupava função no Diretório Estadual de São Paulo, mas de onde também me licencio para assumir o novo desafio.

Nesses nomes, quero agradecer a cada um que sabe seu papel na minha vida. Para um jovem negro, LGBT e periférico do nordeste do Brasil, tenho vencido bem o destino terrível reservado historicamente pelo racismo a gente como eu.
Que essa seja uma regra no nosso país, e não mais uma exceção.

Trabalharei sem folgas por isso.

Até logo!

P.S.: Essa coluna – que, a despeito de eu ter falhado na periodicidade, tinha intenção de ser mensal – passará a ser trimestral a partir de agora. Mas vocês podem me acompanhar todos os dias nas redes sociais, pelo Twitter.



Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

Yuri Silva

É Diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo, no Ministério da Igualdade Racial. Foi Coordenador de Direitos Humanos do IREE. Jornalista formado pelo Centro Universitário Jorge Amado, é coordenador nacional licenciado do Coletivo de Entidades Negras (CEN), editor-chefe do portal Mídia 4P – Carta Capital, e consultor na área de comunicação, política e eleições. Colaborou com veículos como o jornal Estadão, o site The Intercept Brasil, a revista Piauí e jornal A Tarde, de Salvador. Especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas à questão racial na sociedade de forma geral e na política. É Membro do Diretório Estadual do PSOL de São Paulo.

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