Nas eleições municipais de 2020, o partido Republicanos figurou entre as principais forças políticas vitoriosas nas urnas. Ao conquistar a chefia de 221 prefeituras, o partido capitaneado pela Igreja Universal mais que dobrou o número de municípios sob o seu controle em relação ao pleito de 2016, quando havia vencido em 105 cidades.
Com uma bancada de 30 parlamentares na Câmara dos Deputados – maior que a do PSDB, por exemplo –, o partido fundado há apenas 15 anos cresceu e se transformou em um dos principais expoentes do “Centrão”, que atualmente oferece apoio ao governo federal.
O presidente da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), chegou a ser tratado como forte candidato à disputa pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara.
O partido também ganhou força com a filiação dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, Carlos e Flávio, à sigla. Sem partido político desde que abandonou o PSL em novembro de 2019, especulava-se que o presidente seguiria o mesmo caminho dos filhos e se filiaria ao Republicanos.
Um dos indícios dessa aproximação foi o apoio de Bolsonaro à reeleição de Marcelo Crivella à prefeitura do Rio de Janeiro. Mesmo que sem um forte engajamento na campanha de Crivella, postura que Bolsonaro adotou de maneira geral naquela disputa municipal, houve um aceno positivo. O presidente chegou a gravar algumas mensagens para o horário eleitoral do então prefeito carioca.
A derrota de Crivella no segundo turno seria o primeiro revés do Republicanos. No dia 22 de dezembro de 2020, a prisão do prefeito por suspeita de corrupção, deflagrada em uma operação coordenada pela Polícia Civil e MP-RJ, colocou o partido no olho do furacão.
Com uma pauta conservadora calcada na agenda de costumes e combate à corrupção, o “Plano de Poder”, conduzido pelo líder da Igreja Universal, bispo Edir Macedo (há mais detalhes em seu livro com esse mesmo título), termina o ano de 2020 arranhado.
Seria ingenuidade afirmar, porém, que a prisão do ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro barra a escalada de poder do maior partido religioso do país.
Mas ainda que a investigação contra o ex-prefeito do Rio não prospere, há outros elementos que podem complicar a ascensão do Republicanos. A investigação de lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e seu assessor Fabrício Queiroz, o “caso da rachadinha”, segue em andamento e a qualquer momento pode gerar mais turbulências para o partido do bispo Edir Macedo.
O ano de 2021 será fundamental para que algumas peças do xadrez eleitoral comecem a se mover. Mas nesse cenário de investigações, incluindo seu próprio filho, parece pouco provável que o presidente escolha o Republicanos como seu destino para a disputa do pleito de 2022.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Carolina de Paula
É doutora em Ciência Política pelo IESP/UERJ, Diretora Executiva do DataIESP e consultora da UNESCO. Coordenou o "Iesp nas Eleições", plataforma multimídia de acompanhamento das eleições de 2018. Foi coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Escreve mensalmente para o IREE.
Leia também

O Mendigo, os Leitores e os Polissílabos
Continue lendo...
Lei Anticorrupção completa 10 anos
Continue lendo...
Emendas parlamentares: histórico e influência
Continue lendo...