Acampamento Terra Livre marca luta política dos povos indígenas no Brasil – IREE

Análises e Editorial

Acampamento Terra Livre marca luta política dos povos indígenas no Brasil

Entre os dias 4 e 14 de abril de 2022, aconteceu em Brasília o Acampamento Terra Livre, primeira edição presencial do evento organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) depois de dois anos de interrupção devido à pandemia.

A mobilização, que conta com 18 anos de história, reuniu um número recorde de participantes neste ano, mais de 8 mil pessoas de cerca de 200 povos indígenas, segundo os organizadores. O Coordenador do IREE Direitos Humanos, Yuri Silva, esteve presente para acompanhar as atividades.

“Quando eu recebi o convite da Sônia Guajajara e do Danilo Pássaro para me fazer presente no Acampamento Terra Livre, em Brasília, não hesitei um só minuto, porque sabia da grandiosidade do que eu veria. E não é que eu estava um pouco equivocado? A dimensão dessa mobilização em defesa dos direitos humanos dos povos indígenas brasileiros é muito maior do que eu pensava, não só no tamanho físico, mas em energia, potência e resistência ancestral. A disposição de lutar e construir espaços de formulação e o alto nível da política construída ali, diante de tanta diversidade, são de encher os olhos. Foi gratificante ter a oportunidade, que me foi garantida pelo IREE, instituição comprometida com a democracia e as políticas públicas para os povos mais vulneráveis, de acompanhar isso de perto”, contou Yuri Silva.

A luta pelo território foi o centro das discussões dos manifestantes, que pediram por andamento nos processos das demarcações de terras indígenas, denunciaram a paralisação das regularizações pela gestão de Jair Bolsonaro e protestaram diariamente nas proximidades do Congresso Nacional contra o Projeto de Lei 191/2020, que libera mineração e outros grandes empreendimentos em terras indígenas, e o PL 490/07, do Marco Temporal, que limita o reconhecimento de novas terras.

A jornada de manifestação também chamaram atenção para os efeitos do garimpo ilegal em terras indígenas. A Hutukara Associação Yanomami publicou um relatório detalhando os avanços do garimpo de ouro em suas terras e o sofrimento dos indígenas com a presença dos invasores.

A participação política e as candidaturas indígenas também estiveram no centro dos debates do Acampamento Terra Livre. Como destacou matéria da Folha de S.Paulo, a APIB vem intensificando o apoio a candidaturas e, em 2020, criou o movimento chamado “campanha indígena”, que visa impulsionar lideranças de povos para a política.

Esse movimento ganhou força diante da política anti-indigenista da gestão de Jair Bolsonaro, marcada pela defensa do avanço do garimpo ilegal, pela oposição à demarcação de terras indígenas e por números alarmantes de desmatamento e queimadas. Principal oponente de Bolsonaro nas eleições de 2022, o ex-Presidente Lula da Silva visitou o Acampamento Terra Livre e prometeu criar um ministério específico para tratar de causas dos povos indígenas caso seja eleito.



Por Samantha Maia

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